Como diria minha amiga, a DJ Nega Nervous aka Ana Carolina: “Tristeza clubber”. “Quem foi, foi”, disse outro amigo meu, o jornalista Ivi Brasil. Os dois, assim como eu, frequentávamos o Vegas – que fecha suas portas na segunda-feira, 16. O clube era no coração do Baixo Augusta, quando o lugar era uma paisagem descrita pelo escritor Alex Antunes em “A Estratégia de Lilith” como “uma das ruas de putaria de São Paulo […] o lado mais pobrinho, entre a Paulista e o centro. A Augusta de bem (?) se prolonga para o outro lado, na direção dos Jardins”.
Pois ali, no meio dos puteiros e botecos sujos, surgiu luminoso o Vegas que apostou todas as suas fichas na possibilidade mágica da diversidade. A convivência pacífica entre tribos diferentes ganhou gosto e se acentuou naquela rua depois que o clube abriu, em 2005.
O auge desta integração foi um coitus interruptus. A festa de um ano da casa seria uma grande comemoração na rua e nos puteiros vizinhos. Durante uma semana não se falava de outra festa que não esta, da possibilidade de entrar em lugares que muita gente nunca tinha estado, do line up de DJs, da famosa pulseirinha que possibilitaria transitar por todas as casas…
No dia da festa, a subprefeitura da Sé fechou o Vegas e mais quatro puteiros e alegou que faltava alvará de funcionamento. Foi uma frustração geral. O nome de Andrea Matarazzo, então subprefeito, virou sinônimo de “flopação” entre muitos descolados. Durante um tempo, quando a festa estava boa e alguém – por briga ou bebedeira – atrapalhava o clima festivo, dizia-se: “Rolou uma Andrea”.
Tenho uma história afetiva com o lugar, lembranças impublicáveis e emoções vividas ainda na memória. Uma vez, fiquei um bom tempo na porta do Vegas com Facundo Guerra, um dos proprietários, que dizia para os frequentadores que quem soletrasse Nietzsche [Friedrich Wilhelm, filósofo alemão] entrava de graça. Ou de devolver 20 reais para José Tibiriçá Martins, o Tibirá, o outro sócio da casa, mais de cinco vezes porque me esquecia que já tinha acertado a dívida devido ao alto teor alcóolico que me encontrava.
Mesmo não indo mais ao Vegas fazia anos, ele me viciou no jogo de luzes e barulhos da Augusta. Então, estava sempre por perto, nos antigos bares e puteiros que o clube me ensinou a conviver ou nos novos lugares do Baixo Augusta que abriram para agitar mais a jogatina da noite da cidade. Era bom passar na porta para ver se estava tudo bem, ver que aquele dourado ainda luzia, dar um abraço no host Elton Bergamo ou um beijo na Renata Bastos. Como um amigo de infância que você nunca mais tinha falado, era bom saber que ele permanecia vivo.
Nesta segunda-feira, 16, a assessoria da casa confirmou que o clube Vegas fecha suas portas. Vítima de sua própria empreitada. Ao valorizar a rua Augusta, não tardou para um outro tipo de prostituição se instalar: a especulação imobiliária.
O clube dá lugar a um empreendimento imobiliário como muitos que vem sendo feitos na rua e arredores. Enquanto isso, os apaixonados pela Augusta, que vêem os puteiros e botecos sendo expulsos para a construção de espigões, pensam em quanto tempo ainda durará a festa no Baixo Augusta. Infelizmente, em São Paulo, a força da grana quase sempre vence o jogo.
Vegas R.I.P.