15h de algum sábado de 2003, um som animado saía dos porões do então clube Susi in Transe, na rua Vitória., no centro de São Paulo. Algumas pessoas de óculos escuros chegavam enquanto outras deixavam o local que parecia literalmente ferver.
12h de algum sábado de 2012, luzes coloridas confrontam o sol na entrada do Fordiesel, no coração do Baixo Augusta, em São Paulo. Gente ainda muito animada atravessa a rua para entrar no clube e escutar mais uma do sempre inesperado set do DJ Julião.
Ele é o nome no comando do after (festa que acontece depois das outras festas, quase sempre de começando de manhã) InSOMnia, a festa que comemora 9 anos (o que na cena underground significa fazer 50 anos) nesta noite de sexta-feira, 16, prometendo mais de dez horas de música eletrônica na Rua Augusta, 822, a partir da meia-noite.
Julião tem mais de 20 anos de carreira passando por noites chaves de São Paulo como o Hell’s Club e a Sound Factory, ao lado do DJ Marky. Seu amor pelos discos vem desde criança como conta ao Blogay: “Quando saía com minha mãe, ao invés de pedir brinquedos, advinha o que eu pedia? Disco, é claro… Aniversário, pedia discos, Natal, discos, sempre. Nas festinhas de aniversário dos amigos lá estava eu com a penca de LPs embaixo do braço! Ou seja o destino que eu haveria de seguir não poderia ser outro.”
Esta paixão por música e sua integridade em acreditar que a cena underground é uma das forças criativas de São Paulo, fez dele um dos DJs mais respeitados da noite da cidade. E quando fala-se em underground, refere-se a todo um imaginário criado desde o mítico clube Madame Satã que a cidade seria um espaço ideal para quem quer criar formas alternativas seja de música ou de vida. É exatamente a chamada cena underground que criou a imagem de uma São Paulo tolerante. E a asfixia dessa cena assim como sua resistência tem muito a dizer sobre os tempos de hoje na capital paulista.
Leia abaixo entrevista feita por e-mail com o DJ:
Blogay – O InSOMina é um dos poucos afters clássicos que ainda existem na cidade de São Paulo. O que você atribui esta vida longa?
DJ Julião – À MINHA INSISTÊNCIA e a vontade de tocar coisas novas e diferentes, além do apoio dos amigos.
São Paulo é uma cidade que a chamada cultura underground é muito forte, mas de uns tempos pra cá nota-se uma certa asfixia dos ambientes undergrounds, com muitos se tornando completamente “mainstream”. Como se manter underground durante todos esses anos?
Hoje em dia, tudo se torna “mainstream” com uma facilidade e a rapidez de apenas um clique. Eu, particularmente, não curto muito ambientes lotados tocando Lady Gaga e afins. Como DJ, faço questão de passar e manter essa cultura para o meu público, que são fiéis e estão comigo até hoje!
Você acha que o público do InSOMnia mudou nestes 9 anos?
Na minha visão não muito, na verdade cresceu um pouquinho. Muitos que achavam que a nossa festa era um “ambiente pesado”, abriram a mente e viram que o nosso intuito era simplesmente divulgar o diferente, o novo e a diversão em um horário totalmente alternativo.
Como o público gay é recebido no after?
São sempre bem recebidos, na verdade a maioria do nosso publico é gay, afinal são eles que tem a visão de tudo que acontece de novo em todos os seguimentos: moda, musica, etc… Sem contar o fervo na pista que sem eles não haveria a mínima graça!