O mundo precisa de mais Georges Clooneys. E não é nem no quesito beleza, nem fortuna, mas na questão de gente bem resolvida. Ok, não existe gente totalmente bem resolvida, mas o que tem de gente que quer se resolver julgando os problemas dos outros e acreditando que isso é um caminho para se tornar uma pessoa melhor, “mais próxima de Deus” estando certamente muito mais perto do Diabo, não é brincadeira. Principalmente, neste Brasil fundamentalista nosso de cada dia.
É preciso ser muito bem resolvido para declarar que nunca se preocupou em desmentir os boatos se era ou não gay. “Acho engraçado, mas a última coisa que você jamais vai me ver fazer é dizer: ‘Isto são mentiras!’ Seria injusto e cruel para os meus bons amigos da comunidade gay. Eu não vou deixar ninguém fazer parecer que ser gay é uma coisa ruim. Minha vida privada é privada, e eu estou muito feliz com ela”, disse o George Clooney, 50, em entrevista para a revista “Advocate”. “Eu estarei morto há muito tempo e ainda haverá pessoas que dirão que eu era gay. Eu não dou a mínima”.
Homem que se garante, diriam muitas amigas minhas. E homem que se garante não precisa provar nada pra ninguém, só pra si mesmo. Mas para além da autoconfiança, o que Clooney avança é atentar sobre o padrão cultural que certas verdades prontas como macarrão instantâneo se formam, perceber com clareza as armadilhas de pensamentos solidificados que parecem fórmulas universais imutáveis, mas são só produto de seu tempo como “ser gay é algo ruim” ou a balela que “toda mãe não quer ter um filho gay”.
Frases como estas acima cristalizadas no panorama cultural parecem – mas não são – uma verdade universal que Clooney sabe bem o fundo ao defender o casamento gay. “É o mesmo tipo de argumento que eles [os conservadores] fizeram quando eles não queriam negros para servir nas Forças Armadas, ou quando eles não queriam que os negros se casassem com brancos. Um dia, a luta pelo casamento igualitário parecerá tão arcaica quanto impedir alguém de ir à universidade por ser negro”.
O ator fará junto com Brad Pitt, Martin Sheen, Kevin Bacon, Jane Lynch, Matthew Morrison, Jamie Lee Curtis e Rob Reiner a leitura de uma peça sobre o casamento gay no YouTube, ao vivo do Ebell Wilshire Theatre, em Los Angeles, Califórnia, às 19h45 (14h45 no horário de Brasília). A peça, escrita pelo vencedor do Oscar de melhor roteiro por “Milk – A Voz da Igualdade”, Dustin Lance Black, é um relato de um caso apresentado pela Fundação Americana para os Direitos da Igualdade (AFER) no Tribunal Distrital dos EUA em 2010 para derrubar a Proposição 8, uma emenda constitucional que eliminou os direitos dos casais do mesmo sexo a casar-se no estado da Califórnia.
Engajado na luta pelos direitos dos gays, Clooney mostra generosidade acima de tudo, em um mundo cada vez mais mesquinho, que fundamentalistas sujam Cristo de sangue (coitado!) para impedir outras pessoas que não tem nada com as suas vidas de serem felizes. Incomodam-se tanto com os gays que esquecem de olhar para dentro de suas próprias vidas e viverem em conformidade com o que pregam, confundindo amor com ódio.
Claro que, ao invés de olhar a sua própria sexualidade que deve ser problemática para se incomodar tanto com a dos outros, devem comentar como ratos e com um ar de maldade a sexualidade do ator que segundo o F5 “foi casado de 1989 a 1993 com a atriz Talia Balsam–, namora a lutadora Stacy Keibler, 32, e milita em prol do casamento gay”.
Ah, se todos fossem iguais a você, George!