O cantor Bahiano
A capacidade do samba, das festas e classes populares retratarem com honestidade tão objetiva da realidade brasileira está nos primórdios do nascimento deste ritmo, já na década de 1910.
O ator, diretor, produtor, roteirista e pesquisador de história da MPB Mauro Silveira escreveu para este blog contando: “Em 1996, apresentei no show de encerramento do curso de História da MPB, na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de janeiro, a música ‘O Fresco’, gravação original da Casa Edison, de 1913, cantada pelo Bahiano, primeiro cantor a gravar um disco no Brasil (1902)”.
O professor, para nosso conhecimento, escreveu um trecho da letra:
“Aqui estou eu que sou faceiro e bem macio.
Bem bonitinho e ando sempre por detrás.
Sou morador ali do Largo do Rocio.
Meus bons senhores qui estou pra tudo omais.
Ai que loucura, que frescura já se vê.
Sou bonitinho e apertadinho como quê.
Lá no Rocio em tom macio eu sei falar.
Depois das onze, ganho o meu bronze. até fartar…”
Ouça a música completa “O Fresco”,clicando aqui.
E explica: “Pegar ‘o bronze’ era ficar circulando ao lado da estátua da Praça Tiradentes atrás de algum ‘cliente’ possível”.
Digamos que a letra é bem ousada até para os dias de hoje e o mais interessante é que não existe julgamento nenhum da chamada prostituição masculina. É uma descrição jocosa, diria, que contrasta com a impressão também verdadeira do preconceito, por exemplo, sofrido por um João do Rio, escritor e cronista que viveu na mesma época, mas dessa vez por classes intelectuais e economicamente abastadas.
Essa contraposição entre o fresco popular e o erudito, embora frágil, tem muito a nos dizer sobre a homofobia que vivemos hoje.
E já que estamos em época de carnaval, o cantor Manuel Pedro dos Santos, também conhecido como Bahiano também gravou o reconhecido primeiro samba: “Pelo Telefone”.
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