Blogaysão paulo – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Rapaz é agredido na rua Augusta, em São Paulo; suspeita-se de homofobia http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/31/rapaz-e-agredido-na-rua-augusta-em-sao-paulo-suspeita-se-de-homofobia/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/31/rapaz-e-agredido-na-rua-augusta-em-sao-paulo-suspeita-se-de-homofobia/#comments Sat, 31 May 2014 22:00:06 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1709 Era para ser uma noite com amigos, diversão e risadas, mas a madrugada de quinta-feira, 29, acabou se tornando um pesadelo para o designer gráfico Danilo Pimentel, 31. Ele levou uma pedrada na cara em plena rua Augusta, foi parar no hospital, teve que fazer uma cirurgia no nariz, fraturou o maxilar e está com escoriações pelo corpo. “Ainda sinto muita dor”, disse para o Blogay por telefone neste sábado, 31. Além disto, ele – e os amigos que o acompanharam na noite da agressão – tem forte certeza que o ataque foi de origem homofóbica.

“Estávamos no Caos (bar que fica na rua Augusta entre as ruas Antônia de Queirós e Marquês de Paranaguá) quando resolvemos ir para um outro bar mais abaixo. Um rapaz de cabeça raspada e tatuagem no pescoço implicou de forma homofóbica com um amigo meu, o Marcelo, os dois brigaram. Ele deu três socos no Marcelo que revidou com um e a gente separou a briga”, relata.

Eles resolveram seguir adiante deixando o agressor de lado, era um grupo de mais ou menos dez pessoas e que tinha meninas também. Todos colocaram o agredido no meio da turma, meio que para protegê-lo. Danilo ficou para trás com outro amigo que o abraçou. E este gesto terno acabou surtindo o efeito contrário do que se espera dele.

“A partir daí, eu não lembro de mais nada. Só os relatos dos amigos, pois eu desacordei. O cara veio com um paralelepípedo e acertou na minha cara. Desmaiei na horae fui de cara no chão. E ele continuou me agredido, chutando. Meu amigo tentou  ajudar, mas acabou sendo agredido, aí vieram os outros para separar a briga. Se estivesse sozinho, tenho certeza que estaria morto a esta hora”, conta.

Danilo acredita que o fato do amigo ter o abraçado provocou a ira do agressor. Ele gritava apontando para Danilo desmaiado e o amigo: “você acha que eles não estão fazendo nada?”

Ele também crê que a agressão homofóbica aconteceu pelo fato do rapaz ser skinhead de vertente de extrema-direita (grupo neonazista que prega o extermínio das minorias) (ler P.S.). “E não é apenas pelo o fato dele ser careca e ter a tatuagem no pescoço. Uma amiga, que estava no grupo e que é DJ na Augusta, conversou, depois do ocorrido, com os seguranças dos bares e boates próximos que garantiram que o rapaz é skinhead e frequenta um bar do grupo que fica ali perto”, disse.

O Blogay tem recebido alguns relatos de agressões a homossexuais exatamente na rua Augusta, na área conhecida como Baixo Augusta, mas sempre muito vagas e esparsas, porque o agredido acaba tendo medo de denunciar. Danilo, ao contrário, fez, neste sábado, B.O., exame de corpo delito e pretende tomar medidas judiciais cabíveis contra o que ocorreu com ele.

“Agressão a homossexuais não deveria acontecer em lugar nenhum, ainda mais na Augusta que é super gay friendly. Não quero ficar com medo de andar na rua, por isto estou denunciando o que aconteceu comigo. E muito menos quero ter medo de abraçar um amigo em um ato de carinho”, finaliza.

A atitude de Danilo é muito importante: denunciar, pois sempre querem calar o agredido através da humilhação da violência física. Agora, também é essencial que a polícia, que tem uma DP na mesma quadra do ocorrido, seja ainda mais presente e investigue a fundo este possível skinhead de vertente neonazista ou possíveis grupos de skinheads com a mesma ideologia que se reúnem na Augusta para vandalizar fisicamente com as pessoas. Esta é a primeira denúncia formal, espero que agredidos por estes grupos na Augusta se manifestem para além do buchicho que acaba chegando até mim.

Danilo Pimental com o rosto inchado, o maxilar fraturado, o nariz quebrado e a boca inchada depois de agressão na rua Augusta, em São Paulo ( Arquivo Pessoal)
Danilo Pimentel com o rosto inchado, o maxilar fraturado, o nariz quebrado e a boca inchada depois de agressão na rua Augusta, em São Paulo ( Arquivo Pessoal)

P.S. : O leitor deste blog Johnny Bigode alertou que nem todo skinhead é neonazista, existe grupos de vertentes bem tolerantes como o RASH ou o SHARP. Alberto Lopes também chamou a atenção para este detalhe importante.

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Os descompassos da Parada Gay de São Paulo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/03/os-descompassos-da-parada-gay-de-sao-paulo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/03/os-descompassos-da-parada-gay-de-sao-paulo/#comments Sat, 03 May 2014 23:30:28 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1682 A Parada LGBT de São Paulo, que acontece neste domingo, 4, é a considerada a maior do país, e, talvez, devido sua exposição midiática, a mais importante. Já foi alçada como a maior do mundo e também questionada por esta posição pelo DataFolha. De qualquer forma, pouco importa este complexo de grandiosidade, mas quem sabe este suposto gigantismo a tem feito ter alguns delays, atrasos que a fazem entrar em um primeiro momento descompasso com desejos tanto de uma parte da militância como dos próprios LGBTs.

Este ano, militantes partidários e independentes começaram uma grande campanha para que as paradas gays no país tivessem um tema único, até para que o debate acontecesse de forma nacional. A chamada Lei de Identidade de Gênero, conhecida como Lei João W. Nery, foi proposta como o possível mote de todas as paradas no Brasil.

João Nery, o transexual que deu nome à lei, explica do qeu se trata o projeto: “Toda a mudança de registro deve ser gratuita, mantendo os mesmos números de identificação (como número de RG e CPF) e não pode ter nos novos registros qualquer referência às identidades anteriores ou ao uso da Lei. Também não será dada nenhuma publicidade a essa mudança. A Lei permite também que toda pessoa, maior de 18 anos e capaz, possa requerer intervenções cirúrgicas de mudança de sexo, sem exigir análises ou tratamentos psicológicos, tampouco autorização judicial, o que não impede que a pessoa faça terapia, caso a deseje”.

Uma petição foi feita para a organização da Parada paulistana, mas eles preferiram o tema da criminalização da homofobia.  Aí entra o descompasso do primeiro parágrafo. Nos anos anteriores, grupos independentes levaram esta questão para dentro da parada que preferiu, por exemplo, discutir a saída do armário. A PLC122/06, que criminaliza a homofobia, estava em plena discussão no Senado antes de ser meio “engavetada” exatamente no ano passado (isto é, vai ser discutida dentro com o Novo Código Penal, o que significa muito mais anos para que uma lei igual a que criminaliza o racismo no país possa vir a existir). Quer dizer, o timing do tema deste ano está um pouco defasado, esta discussão deveria estar em paradas anteriores, hoje, ela tem um efeito muito mais educativo do que de pressão social, o que não aconteceria se este fosse um tema que entrasse de forma sistemática nas paradas gays de São Paulo.

Não que a discussão da criminalização da homofobia não seja algo vital a ser discutido, mas ela perdeu, institucionalmente, devido às manobras dos fundamentalistas religiosos no Senado e à desarticulação da militância (como a própria Parada paulistana), seu caráter de urgência. Sabemos que muitos anos levarão para o assunto voltar em pauta no Novo Código Penal.

Entretanto, descompassos pode ser corrigidos. No site da Parada, eles colocaram um banner grande pedindo a aprovação da Lei de Identidade de Gênero.

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Tirando este quase-descompasso da instituição Parada, existe um outro muito mais difícil de resolver, o descompasso dos LGBTs que não se sentem identificado com a parada.  Alguns, em discursos mais moralistas, falam em putarias e exageros, e outros, em discursos mais “pseudo-politizados”, falam em alienação e um palco para exibicionismo de drags.  Mesmo que estes componentes existam, faz parte de todo gay, lésbica, bissexual ou trans consciente entender que, de alguma forma, a parada é a nossa vitrine, onde podemos mostrar uma certa força política e numérica que pode ser um recado aos que estão no poder e insistem em nos negar direitos.

Está insatisfeito com a parada, saiba que ela ainda é muito importante e que a maneira mais política é mudá-la por dentro, se você acredita que ela precisa de mudança. E faça como a própria Parada, entenda que descompassos podem ser corrigidos.

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Tão longe, tão perto, o cinema canadense e gay de Xavier Dolan http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/04/16/tao-longe-tao-perto-o-cinema-canadense-e-gay-de-xavier-dolan/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/04/16/tao-longe-tao-perto-o-cinema-canadense-e-gay-de-xavier-dolan/#comments Wed, 16 Apr 2014 22:30:49 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1671 Existem alguns jovens cineastas que devemos prestar atenção, um deles atende pelo nome de Xavier Dolan. A temática LGBT, em seus filmes, é parte importante de suas tramas, mas não a principal. A questão da orientação sexual não é uma bandeira levantada, é uma experiência vivida dentro de muitos contextos. Talvez isto se deva porque o Canadá, seu país de origem e de onde produz seus filmes, seja um dos lugares mais avançados em relação aos direitos homossexuais. Não por menos, o seu filme de estreia “Eu Matei Minha Mãe” faz parte da mostra “Tão Longe, Tão Perto – O Cinema Canadense”, que começa nesta quarta-feira, 16, e vai até 4 de maio no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) em São Paulo (confira os horários clicando aqui).

O que é tão interessante em seu primeiro filme, que Dolan escreveu com 16 anos, produziu, dirigiu e contracenou no melhor estilo cinema de autor?  O que uma história de relação entre mãe e filho -já tão explorada a exaustão no cinema e literatura – nos deixa tão impactados e envolvidos e identificados?

Hubert (Xavier Dolan) tem uma relação bem problemática com sua mãe Chantale (Anne Dorval). O pai se separou dela quando ele ainda era criança e os dois vivem sozinhos e juntos. O jovem é homossexual e tem um namorado, Antonin (François Arnaud). O fato dele ser gay não é um problema para sua mãe (estamos no Canadá, muito longe de nós) e, sim, o gesto dele de não ter contar a ela que estava namorando. Ela não consegue se comunicar com seu filho, além das agressões e alfinetadas que um dá no outro.  Por outro lado, Hubert nega sua mãe e os valores dela, desprezando-a.

O aparente maniqueísmo de ter algum vilão na história é destruído ao pouco. Desde a frase -catequese de Freud para entender os homossexuais: “pai ausente, mãe dominadora”, até a relação de vilania entre os personagens, tudo se esvai com o decorrer do filme. Aos poucos, o ambiente familiar conturbado e agressivo do filme vai se desenhando como nosso, principalmente no período da adolescência que nos rebelamos contra os nossos pais, e isto não é uma exclusividade dos homossexuais (e isto não é exclusividade tampouco só dos canadenses, o filme fica muito perto de nós e de nossas vidas).

Também o que parece um ambiente de intolerância com ora filho atacando a mãe, ora a progenitora tiranizando sua prole, vai ao poucos nos sendo desenhado como uma dinâmica de relação, que podemos muito bem ter com nossos pais, filhos ou namorados e namoradas. E quando falamos em dinâmica da relação, nunca podemos colocar um culpado e uma vítima, são todos culpados e vítimas.

Se o filme mostra em sua superfície uma relação neurótica e cheia de ódio, é na verdade para nos revelar a profundidade do grande amor, do amor de um filho por sua mãe e de sua mãe por seu filho, onde o ódio é só arma de defesa.

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Jota Jota Davis (1975-2014), ícone da noite de São Paulo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/02/20/jota-jota-davis-1975-2014-icone-da-noite-de-sao-paulo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/02/20/jota-jota-davis-1975-2014-icone-da-noite-de-sao-paulo/#comments Thu, 20 Feb 2014 21:00:16 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1628 Jonas Ferreira da Cruz nasceu na cidade de São Paulo no dia 8 de janeiro de 1975, mas entraria para a história da noite de São Paulo como Jota Jota Davis, nome dado por Estela Davis, na época que ele era o primeiro bailarino nas apresentações da drag queen.

Quando criança, ele já demonstrava para onde sua estrela queria dançar. De família evangélica, ele sempre ensaiava coreografias escondido dos parentes. Quando sua irmã mais nova, Sara Ferreira da Cruz, era pequena, ele era quem sempre dava opiniões sobre as roupas que ela devia vestir e avisava a mãe, dona Arminda Franco dos Santos, onde tinha algum vestido bonito e que combinasse com a irmã. Ele também gostava de organizar festas surpresas. Sim, entre 10, 12 anos, ele preparava o bolo, chamava os amigos, decorava a casa e esperava a mãe chegar, que ficava encantada com a festa surpresa organizada pelo filho.

Estava já no íntimo de sua infância, a tríade que o explicitaria e o transformaria em Jota: dança, moda e festa. E foi com esta santíssima trindade que a noite de São Paulo se encantou por este negro montadíssimo, sempre feliz, dançando muito bem e ainda com um componente de virilidade latente.

Trabalhou como bailarino em diversos shows de casas noturnas, foi barman do Pix, host da Torre, do D-Edge e de tantos outros clubes. Sua figura meio centauro meio fauno foi conquistando espaço e admiração de muita gente que fazia a noite de São Paulo como proprietários de bares e boates, DJs, VJs, promoters e frequentadores (clubbers?), para logo se transformar em um ser mitológico da vida noturna da cidade. Uma pista sem Jota dançando ou uma entrada de clube sem seu sorriso na porta eram com certeza lugares menos felizes.

Nos últimos 20 anos, quem era da cena de São Paulo (e São Paulo é como o mundo todo) sabia quem era Jota Jota Davis, ou Jotinha como era chamado com carinho pelos mais íntimos. Um ícone não se constrói, ele acontece e sempre por uma combinação de carisma e originalidade e isto Jota tinha demais.

Na manhã de domingo, 16, Jonas, 39, morreu de complicações nos rins em decorrência do câncer linfático e com certeza os chill outs foram mais tristes. Uma gente bonita e muito conhecida da noite de São Paulo apareceu em peso no seu velório no Cemitério do Araçá, parecia uma festa de tanta gente bacana – apesar de ser velório – e assim que deveria ser pois Jota era signo de festa boa.

Ele foi enterrado no Cemitério da Vila Formosa, no dia seguinte, e estava de cartola, gravata borboleta, calça de alfaiataria, elegante e montado como sempre. Em seu caixão, ao lado das flores, um tubo de glitter, porque purpurina pouca é bobagem e antiquada para o sempre antenado Jota. R.I.P. JJ Davis!

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David Bowie é gay! http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/01/31/david-bowie-e-gay/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/01/31/david-bowie-e-gay/#comments Fri, 31 Jan 2014 10:30:01 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1593 Não, não é este blogueiro que está afirmando e sim o próprio David Bowie que disse: “Eu sou gay e sempre o fui, mesmo quando eu era David Jones”. A declaração foi feita no dia 22 de janeiro de 1972 para a “Melody Maker”, no começo do auge de sua fama e de extrema importância para os movimentos de libertação LGBT que estavam ainda engatinhando. Eles tinham um símbolo e ele era adorado por milhares de pessoas.

Logo em seguida, cinco dias depois da primeira parada gay na Inglaterra, que contou com a presença de 700 pessoas, no dia 6 de julho de 1972, Bowie se apresenta no “Top of The Pops” com o guitarrista Mick Ronson, montados e andróginos. Para se ter uma ideia, o programa era assistido por milhões de telespectadores, algo como (guardada as devidas proporções) uma novela no horário nobre. O escritor e jornalista inglês Dylan Jones recorda-se daquele momento como crucial na sua vida, quando ainda tinha 12 anos e tinha muitos conflitos com sua sexualidade. “Foi emocionante, um pouco perigoso, mas transformador. Para mim, e para aqueles como eu, ele mostrou que o futuro finalmente chegou”, disse Jones fazendo alusão à sua homossexualidade. Starman!

Foram três minutos e meio e durante a apresentação acontecia um flerte e um abraço (hoje, para nós, sutil e que não achamos nada demais) entre Bowie e Ronson que mudou a vida de muitos gays. Mas também, com aquelas roupas que desafiavam o comum até no rock, a maquiagem e a atitude que confundia o que era masculino e o que era feminino, não poderia ter sido diferente. O apresentador de rádio Mark Radcliffe, na época um aluno de 14 anos de idade, achava que Bowie e Ronson tinham “chegado de outro planeta onde os homens flertavam uns com os outros, faziam uma música emocionante e usavam meias lurex”.

Em 1976, Bowie afirma sua bissexualidade para a “Playboy”. “É verdade, sou bissexual. Não posso negar que eu sei disso muito bem. Acho que é a melhor coisa que já me aconteceu”. E em outro trecho, completava: “Quando fiz 14 anos, o sexo, de repente, se tornou relevante. Não importava realmente com quem ou como era, contanto que fosse uma experiência sexual. Não era difícil levar algum cara bonitinho da classe para casa e transar com ele”.

Sim, todas estas declarações eram em parte marketing, em parte o espírito contestador e provocador de Bowie e também algumas verdades. Mesmo que na década de 80, anos bem conservadores, ele tenha negado suas declarações (Bowie é o espírito de seu tempo), sua contribuição para todo o começo do movimento gay e também para jovens homossexuais ou transgêneros na época foi importantíssima. Era um superstar dizendo ser como eles.

E nos anos 2000, para a revista Blender, ele reafirmou: “Eu sabia o que queria ser: compositor e intérprete, e sentia que a marca de bissexualidade me acompanhava há muito tempo”.

Na verdade pouco importa qual é a verdadeira orientação sexual de Bowie (ele é casado com a ex-modelo somali Iman Abdulmajid desde 1992), mas todo o glitter, a fechação e as fronteiras entre masculino e feminino foram jogadas na nossa cara com sua postura e música. E ela pode ser vista na exposição sobre o músico aberta desde sexta-feira, 31, no MIS, em São Paulo.

Como diz a letra de “Rebel, Rebel”: “You’ve got your mother in a whirl / She’s not sure if you’re a boy or a girl (algo como em uma tradução livre: Você deixa sua mãe perturbada / Ela não sabe se você é menino ou menina)”.  Ao negar o que é normativo e se irmanar com o diferente, com a atitude individual, o desejo e suas escolhas pessoais, sim, Bowie, você é gay, pelo menos de alma, em espírito. E é isto que importa. David, sua vagabunda, te amo tanto!

Tá Bowie?

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Por que ir à Parada Gay de São Paulo? http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/06/01/por-que-ir-na-parada-gay-de-sao-paulo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/06/01/por-que-ir-na-parada-gay-de-sao-paulo/#comments Sat, 01 Jun 2013 14:30:12 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1293 Muita gente acha que a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo é um Carnaval fora de época, uma safadeza. Outros a detestam porque tem muita gente “pobre e feia”. Existe os que criticam a falta de politização do evento. Os saudosistas dizem que um dia foi bom, mas hoje não serve. E muitos dizem que se sentem falta de segurança no meio de uma multidão tão diversa. Enfim, há muitos argumentos – concordemos ou não com eles – para não ir à Paulista neste domingo, 2.

Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, em 2012 (Nelson Antoine/Folhapress)

Mas sempre acreditei que quem faz o movimento somos nós, nossa capacidade de se colocar no mundo e afirmar e questionar ideias.  E ela pode vir de uma atitude coletiva ou individual.

No ano passado, alguns coletivos e grupos políticos pararam com faixas no meio da Paulista e distribuíram panfletos explicando o que era a PLC122/06 que criminaliza a homofobia.  Já o escritor João Silvério Trevisan vai sempre com um cartaz sozinho pedindo respeito e direitos iguais para os homossexuais.

Este ano, apesar de um tema muito genérico como “sair do armário”, a Parada vai ter um bloco/carro com protestos contra Felicianos e Bolsonaros, algo inédito e urgente já que as questões LGBTs estão na ordem do dia no nosso país e no mundo.

Só acreditando na possibilidade de influenciarmos algo que podemos gerar mudanças e fazer da Parada algo mais próximo do que desejamos. Nada vem de mão beijada.

Por isto, vá, leve um cartaz, leve sua presença, leve suas posições! Ou simplesmente leve sua vontade de que a Parada e a questão LGBT no país avance de verdade.

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Vadias de todo o mundo, uni-vos http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/05/25/vadias-de-todo-o-mundo-uni-vos/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/05/25/vadias-de-todo-o-mundo-uni-vos/#comments Sat, 25 May 2013 21:00:27 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1284 Neste sábado, 25, diversas cidades no mundo fizeram a chamada Marcha das Vadias.  A passeata surgiu quando um policial em uma palestra sugeriu que as mulheres não deveriam se vestir como vadias se não quisessem ser estupradas. Estava flagrado a vigilância pesada que elas, e por extensão as minorias, ainda sofrem. O medo de expressar afetividade (com direito a beijo na boca) entre pessoas do mesmo sexo em lugares públicos é da mesma ordem da que vigia as roupas que as mulheres devem vestir para estarem “adequadas”.

Marcha das Vadias, em São Paulo (Facebook/Clara Averbuck)

O machismo mata mulheres e LGBTs e já escrevi aqui que a luta contra a cultura machista é tanto das mulheres quanto dos gays. A cultura que crê na superioridade do homem é uma cultura que despreza a igualdade.

Não por acaso tinha muitos homossexuais na marcha e muito héteros que gostariam de se ver livre do machismo, pois ele é também opressor para muitos deles. Nem todos querem ter comportamentos escrotos para ganharem o selo de qualidade do “macho man”. E estavam todos usando saias, maquiados, abraçando suas namoradas, mostrando que é possível ser homem sem ser machista.

Esta dimensão de ter tanto homens héteros como gays em uma marcha feminista mostra esta nova fase que a luta pelos direitos humanos ganha no país. Graças a todo o movimento contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) acusado de racista e homofóbico, ficou evidente que a luta contra o racismo é a mesma que a contra homofobia e a que quer ver o machismo sepultado. Começamos olhar para cadeirantes e pessoas especiais sem termos mais distanciamento, afinal percebemos que para quem está no poder, as minorias são todas vadias. E nós gritamos na rua que sim, com muito orgulho.

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Comissão Extraordinária dos Direitos Humanos e Minorias: a praça é do povo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/04/25/comissao-extraordinaria-dos-direitos-humanos-e-minorias-a-praca-e-do-povo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/04/25/comissao-extraordinaria-dos-direitos-humanos-e-minorias-a-praca-e-do-povo/#comments Fri, 26 Apr 2013 02:50:23 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1236 Quando as Diretas Já, nos anos 1980, não foram aprovadas, eu lembro que chorei. Era madrugada e eu ali chorando. Uma amiga muito sábia me disse na época: “a democracia não é algo dado, é algo conquistado”. Anos mais tarde, grande parte dos deputados que votaram contra as eleições diretas não conseguiu se reeleger.

Foi também nesta mesma época que a Folha fez uma capa histórica com uma foto do comício pró democracia na Praça da Sé, em São Paulo.  Nesta quinta-feira, 25, o jornal volta a fazer uma página histórica. Os cartunistas da casa se uniram e fizeram um grande beijaço em protesto ao estado – lamentável – que se encontra a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. O beijaço, iniciado por artistas que se engajaram na causa, é um dos símbolos dos que não concordam com o que está acontecendo e é também um sinal de amor contra o ódio velado que reina hoje nesta Comissão.

Cartuns em beijaço (Reprodução)

À noite, o cartunista Laerte, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e líderes de movimentos negros, LGBT e sociais se reuniram na praça Roosevelt para uma sessão extraordinária de como deveria funcionar uma legítima comissão dos direitos humanos. Já que atualmente o Congresso não é do povo, a praça sempre será, como afirmou o poeta Castro Alves.

Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Minorias na praça Roosevelt, em São Paulo (Reprodução /Instagram)

– Eu sou negro…

– Eu sou idosa…

– Eu sou mulher, feminista…

– Eu sou gay e do candomblé…

– Eu  sou artista de rua…

Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Minorias na praça Roosevelt, em São Paulo (Marlene Bergamo/Folhapress)

Muitas vozes se levantaram, as que estão mudas hoje no planalto central do país foram ouvidas no planalto de São Paulo. Todas muito tocantes e necessárias, mas teve uma que pessoalmente me chamou atenção.

– Eu sou um cidadão comum e eu venho aqui como cidadão comum, não faço parte de nenhum partido nem de nenhum movimento social. Mas eu vim aqui porque entendi que o cidadão comum também pode ajudar a mudar as coisas, que ele deve e pode protestar e se levantar contra o estado das coisas.

Neste momento veio à mente minha amiga: “a cidadania não é algo dado, é algo conquistado”.

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Frente de direitos humanos lança carta e nova data de ato contra Feliciano http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/27/frente-de-direitos-humanos-lanca-carta-e-nova-data-de-ato-contra-feliciano/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/27/frente-de-direitos-humanos-lanca-carta-e-nova-data-de-ato-contra-feliciano/#comments Wed, 27 Mar 2013 23:30:11 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1196 Com a insistência de Marco Feliciano (PSC-SP) continuar na presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM), formou-se uma frente dos direitos humanos composta pelo movimento negro, LGBTs, religiosos, mulheres e independentes paras continuar os protestos contra o deputado federal e o PSC. Eles lançaram uma carta nesta quarta-feira, 27, e uma nova data de protesto em São Paulo.

Flyer de protesto contra Marco Feliciano e PSC em São Paulo (Divulgação)

Na carta, eles convocam os defensores dos direitos humanos a uma manifestação na Paulista, no dia 7 de abril, e uma marcha mundial de direitos humanos que será realizada no mês de dezembro.

Intitulada como Frente de Luta pelos Direitos Humanos “Direitos Humanos JÁ!”, eles colocam: “Não podemos falar de Direitos Humanos sem falar de direito penal, civil e constitucional. Tudo começa na pessoa”.

Leia abaixo a íntegra da carta:

Direitos Humanos JÁ!

“Um Direito de Todas(os)”

Partindo da premissa que Direitos Humanos é um direito de SER, esta carta pública tem como propósito demonstrar e elencar os instrumentos institucionais de proteção dos Direitos Humanos e como eles estão sendo sonegados no Brasil hoje, país que assinou os Direitos Internacionais da Pessoa Humana.

Os Direitos Humanos estão previstos na Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, sendo esta a primeira carta magna no mundo a incorporar normas de Direitos Humanos, em seu texto, o que proporcionou a inserção do nosso país na arena internacional, configurando assim um importante marco de referência histórica em nosso processo de transição DEMOCRÁTICA.

Não podemos falar de Direitos Humanos sem falar de direito penal, civil e constitucional. Tudo começa na pessoa.

Os fundamentos sustentados e discursados no processo de negação dos valores da Pessoa Humana como fonte de direito gera uma ruptura dos paradigmas dos Direitos Humanos, internalizada por uma postura discriminatória a diversos grupos da sociedade a fim de obter, exceto nas formas de construção, múltiplos preconceitos e discriminações. Assim atinge-se uma grande parcela da sociedade brasileira, na qual estão inseridos os NEGROS, HOMOSSEXUAIS, MULHERES, RELIGIOSOS e os que NÃO TÊM RELIGIÃO, entre outros. Estes fundamentos discriminatórios devem ser combatidos e eliminados para que não se percam as conquistas e as concepções de tais valores que abrangem a humanidade como, por exemplo, o Estatuto da Igualdade Racial, uma grande conquista para os negros brasileiros, sancionado em 2010 e ainda não aplicado na prática.

Após uma grande mobilização nas redes sociais, a partir de uma articulação de cyberativismo feita pelo grupo “Pedra no Sapato”, que teve a colaboração de diversos segmentos, fez-se todo o esforço para sair do mundo virtual e levar às ruas todas as nossas indignações aos que vêm, não só violando as leis internacionais, como o direito interno que rege o Brasil. E conseguimos!

Nos dois últimos atos “Fora Feliciano”, que repercutiram na mídia, ocorridos na cidade de São Paulo nos dias 09 e 16 de março, na av. Paulista, que causaram diversas outras manifestações no Brasil afora e em outros países como Argentina, França, Holanda, EUA, Alemanha, foram mobilizados – nas duas manifestações – cerca de 40 mil pessoas que foram às ruas defender as bandeiras que estão contidas nas causas de Direitos Humanos.

Estamos acompanhando em diversos campos da sociedade, manifestações, atos e práticas inconstitucionais, desde o Parlamento até o Executivo e o Judiciário, que utilizam algumas mídias para propagar e externar suas ideologias racista, homofóbica, machista, sexista e de intolerância religiosa ferindo assim as leis brasileiras e todos os acordos internacionais, na medida em que sanções previstas em nossa jurisdição não estão sendo aplicadas como se devem, conforme estão estabelecidos nos tratados internacionais.

Através de tudo que foi esboçado por nós nesta carta, nós, ativistas sociais em conjunto da sociedade civil e os militantes independentes entre outros, nos reunimos em intuito de nos manifestar publicamente contra todas as formas discriminatórias, com o objetivo de mostrar a nossa indignação, a impunidade de todos os violadores dos Direitos Humanos e principalmente ressaltar o artigo 5º da Constituição Federal que exige a igualdade entre os seres humanos.

Comunicamos ainda que estamos preparando a I Marcha Mundial de Direitos Humanos a ser realizada no mês de dezembro do decorrente ano.

Constituímos a Frente de Luta pelos Direitos Humanos “Direitos Humanos JÁ!” que tem o objetivo de reunir todos os ativistas sociais e defensores da causa para o nosso IV manifesto “Fora Feliciano” que será realizado no dia 07 de Abril de 2013 às 14h na Praça do Ciclista na Avenida Paulista.

São Paulo, 27 de março de 2013.

Executiva da Frente de Luta pelos Direitos Humanos “Direitos Humanos JÁ!

Bill Santos – Militante LGBT

Denílson Costa – Diversidade Barueri

Pierre Freitaz – Militante Independente de Direitos Humanos e LGBT

Sonia Santos – Representante Nacional de Direitos Humanos do Movimento Negro e MMU

Todd Tomorrow – Pedra no Sapato

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Manifestação contra Marco Feliciano (um relato pessoal) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/09/manifestacao-contra-marco-feliciano-um-relato-pessoal/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/09/manifestacao-contra-marco-feliciano-um-relato-pessoal/#comments Sun, 10 Mar 2013 02:00:30 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1129 Nesta tarde de sábado, 9, nesta terra de Macunaíma, a preguiça deu espaço para a reação, para a tomada de posição, para a indignação e principalmente para a cidadania. Insatisfeitos com a nomeação do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) – acusado por ativistas de racismo e homofobia e investigado pelo STF por estelionato – para a presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias,  os brasileiros resolveram sair às ruas.

Manifestação contra o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) em São Paulo (Clara Averbuck)

Eu resolvi sair também. A primeira estranheza era a quase ausência de bandeiras de partidos políticos. É muito cedo para dizer se isto é positivo ou não, mas é novo! Muitos movimentos e manifestações que se dizem apartidários ou supra partidários e nascem nas redes sociais – como este – deixam claro no primeiro grito de guerra na rua as suas filiações partidárias. Ali afirmava-se acima dos partidos que eram os movimentos sociais e pessoas independentes que queriam mostrar sua indignação.

Uma surpresa boa: encontrei amigos que raramente os vejo neste tipo de evento. Eles estavam lá, firmes, gritando,  algo neles sinalizava que as negociações políticas tinham ido longe demais, eles não podiam mais ser indiferentes.

Da mesma forma, foi super orgânica a união, em determinado ponto da passeata, entre os que protestavam contra Feliciano com os que pediam a renúncia de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado. Quem acompanhou pela internet, presenciou brigas homéricas entre os participantes de um e o de outro evento, mas quando tudo saiu da virtualidade e se tornou real, percebeu-se como de fundo as duas causas se assemelhavam.

Manifestação contra Marco Feliciano (PSC-SP) desce a rua da Consolação, em São Paulo (Shin Shikuma/UOL)

Assim como nunca ficou tão límpido que a luta pelos direitos gays (as faixas pedindo a aprovação do PLC 122 se fizeram bem presentes) é de fundo igual a dos negros, mulheres, cadeirantes. Uma cadeirante me emocionou muito ao fazer questão de fazer o percurso da passeata todo (da Paulista até a Roosevelt e voltando para a Paulista) em calçadas e ruas em péssimo estado. Ela estava dizendo a  todos  que assim estava se irmanando com as causas como todos ali.

No caldeirão das diferenças: uns contra o Renan, outros contra Feliciano, outros denunciando racismo, outros homofobia, misoginias, percebemos ali  de forma muito clara que estávamos todos falando das mesmas coisas: isonomia e cidadania.

Manifestantes se beijam explicitando que tanto a causa LGBT como a negra são de mesmo fundo (Adriano Vizoni/Folhapress)
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