Blogaypreconceito – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A Parada Gay de São Paulo é negra e pobre http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/#comments Mon, 05 May 2014 23:00:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1688 No domingo, 4, o centro de São Paulo parou para ver a Parada LGBT passar. Durante as seis horas que permaneci no evento, uma constatação que já tinha feito em outros anos se impôs:  o evento gay é feito principalmente por negros e pobres.

“Jardim Ângela”, “Itaquaquecetuba”, “Pirituba” foram algumas das inúmeras respostas à pergunta que fazia aos participantes pra saber de onde é que eles tinham vindo para o evento. Muitos com cabelos com luzes, outros com um corte que lembrava o do sertanejo Gusttavo Lima, muitos com camisetas de marca e algumas tatuagens tribais que os desenhos muito lembravam uma espinheira, sem falar do boné. Estava de frente com uma classe social que conhecia das fotos dos jornais, dos chamados rolezinhos. As classes C e D ocupam novos lugares em um misto de enxergar a Parada como diversão enquanto consumo e também como um ato de cidadania (seja consciente ou não).

A Parada também lembrou muito os entrudos populares, os carnavais de rua do Brasil Colonial e monarquista que os escravos eram os protagonistas e os brancos assistiam à festa de suas janelas. E não precisava de nenhum instituto de pesquisa para constatar o óbvio, a presença de uma imensa maioria de pessoas negras.

Esta presença de negros e pobres no evento o faz ter muito mais significados e levanta complexidades mais ricas sobre as minorias no país. Já escrevi aqui que a luta de uma minoria é a luta de todas as minorias, e a presença delas em uma parada gay, mesmo que de forma desarticulada só comprova a tese acima. Estão todos na mesma marcha querendo direitos e respeito.

A parada paulistana surgiu branca e hype, era chique ir defender os gays, mesmo você sendo apenas um simpatizante, termo usado na época. Com os anos, um evento de graça, em uma cidade que o dinheiro rege o seu poder de ter lazer, fez com que negros e pobres também quisessem este ato de cidadania (a diversão de graça mais do que a própria parada). Entretanto, a presença, nos primeiros anos até violenta e mal educada destes novos convidados, afugentou.

Surgiram muitas desculpas, então, como as que parada virou uma micareta, um Carnaval fora de época (sempre foi e isto faz parte de nossa cultura), agora só tem putaria (sempre teve e não devemos olhar com moralismo, o mesmo moralismo que, de fundo, condena a existência de homossexuais), não era politizada (nunca foi em um sentido muito dogmático e restrito do termo). Desculpas para, talvez, esconder a verdadeira razão, a questão classista disfarçada na expressão “agora só tem gente feia”.

Talvez as únicas desculpas aceitáveis eram as das mulheres que ficaram assustadas com o assédio de um grande número de homens héteros que iam fazer pegação na Parada. Mas este ano, vi muitas lésbicas bem à vontade sem serem repreendidas por nenhum marmanjo. Não vi abordagens ostensivas que já cansei de presenciar nas edições passadas, nem vi tanto lixo no chão, nem pessoas muito bêbadas caídas, nem um clima de possível violência. Vi um ato civilizatório entre gays e negros e pobres e a própria Parada, porque, mesmo que inconscientemente, estavam todos lá por direitos, nem que fosse pelo direito de se divertir.

18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
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A luta de uma minoria é a luta de todas as minorias http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/04/02/a-luta-de-uma-minoria-e-a-luta-de-todas-as-minorias/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/04/02/a-luta-de-uma-minoria-e-a-luta-de-todas-as-minorias/#comments Wed, 02 Apr 2014 22:30:46 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1658 Nesta quarta-feira , 2, comemora-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, e o que os LGBTs têm com isto? Nada, responderão os mais apressados, mas a ligação é profunda. A questão das minorias é a primeira que liga autistas, os que têm Síndrome de Down, as pessoas especiais, os negros, as mulheres e também os gays. A luta contra o preconceito e o estigma é de mesma matriz.

Senti que a indignação de muitos pais de autistas com a interpretação de Bruna Linzmeyer para a personagem Linda em “Amor à Vida” era muito semelhante ao de militantes gays que condenavam tempos atrás o retrato dos homossexuais na TV. Enfim, a mesma vontade de uma representação com abrangência total, o que muitas vezes é impossível por diversos motivos,e acaba gerando frustração. Este elo une todas as minorias que querem se ver representada nos meios de comunicação de massa audiovisuais: a vontade de uma representação muito realista até para que esta seja um signo do fim do estigma.

O mesmo pode-se falar sobre outra questão aguda aos LGBTs e aos autistas, a educação, a ida à escola. Cada grupo com seu problema específico, mas tanto um como outro sofre bullying ou mesmo muitas vezes é rejeitado pela própria escola. Além de tudo, não temos uma escola preparada para trabalhar com o diferente e as diferenças e isto faz com que diferentes como gays e autistas sejam iguais no tratamento preconceituoso.

Enfim, a luta de uma minoria é a luta de todas as minorias. E hoje, azul é a cor mais quente!

Azul é a cor do Dia Mundial da Conscientização do Autismo
Azul é a cor do Dia Mundial da Conscientização do Autismo
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Mamma mia! A força do pink money: o caso Barilla http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/08/mamma-mia-a-forca-do-pink-money-o-caso-barilla/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/08/mamma-mia-a-forca-do-pink-money-o-caso-barilla/#comments Tue, 08 Oct 2013 15:00:41 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1435 Logo depois que o presidente do grupo Barilla, Guido Barilla, declarou que “nunca faria um anúncio com uma família homossexual” e que “se os gays não gostam (da decisão), eles podem ir comer outra marca”, para uma rádio italiana, ativistas gays assim como artistas, como a atriz Mia Farrow, começaram a propor um boicote aos produtos desta empresa.

Com os protestos, começaram a pipocar ironias com a marca como esta postada nas redes sociais:

Cartaz diz : “O amor é para os corajosos. Todo o resto é macarrão Barilla” em protesto contra a declaração do presidente da marca (Reprodução/Facebook)

 

Uma ironia muito curiosa chamou a atenção. Scott Bixby, editor de mídias sociais da Bloomberg – importante fonte de informação sobre o mercado financeiro e de negócio – escreveu no Twitter tirando um sarro da marca de massa: .“Gays não comem carboidrato”.

O fato do editor de mídias sociais, hoje considerada a primeira imagem de uma empresa, do porte da Bloomberg, ter tido humor e, de certa forma, ironizado a marca, dá pistas muitos maiores do que supomos. Não se trata de uma briga entre simpatizantes e homofóbicos. Mas de como marcas e empresas estão entendendo o atual mercado e as que não.

Uma matéria de quase uma ano atrás da revista “Época Negócios” diz que  marcas que apoiam com ações positivas o consumidor LGBT tem lucrado mais e este cenário parece não ter mudado, só aprimorado com o tempo. Não é de se estranhar a quantidade de empresas brasileiras e estrangeiras que, quando se discutia o casamento igualitário nos Estados Unidos, adotou o símbolo do movimento  pró-LGBT ( o =) em seus logotipos.

Mais do que a força política, (um campo que os religiosos fundamentalistas conseguem avançar e ocupar), os LGBTs se apresentam como uma força econômica (o tal do pink money – dinheiro que movimenta a economia vindos dos gays – é real e sua postura e consciência na hora de consumir é vital para sua cada vez maior valorização). Na força econômica que está a nossa força política.

É de direito o sr. Barilla se manifestar assim como é de direito os gays decidirem que não querem mais consumir este produto que os rejeita. Estamos no campo das liberdades individuais. Mas então porque o sr. Barilla recuou e apresentou um pedido de desculpas?

Não foi por que ele teve compaixão pelos homossexuais ou sentiu que foi preconceituoso, mas sim por que  algo poderia mexer em seu bolso. Sua cara no anúncio não nos convence, mesmo a empresa tendo se empenhado verdadeiramente para pedir desculpas aos homossexuais. Como comunicou o diretor geral da Barilla do Brasil e América Latina, Maurizio Scarpa: “Nós da Barilla temos a missão de tratar os nossos consumidores e parceiros como os nossos vizinhos – com amor e respeito – e entregar os melhores produtos possíveis. Tomamos essa responsabilidade a sério e a consideramos como parte fundamental de quem somos como uma empresa familiar. Embora não possamos desfazer os acontecimentos recentes, podemos pedir desculpas. Para todos os nossos amigos, familiares, funcionários e parceiros que magoamos ou ofendemos de alguma forma, estamos profundamente arrependidos”.

O importante neste caso é cada vez tomarmos consciência que o nosso poder econômico tem voz. O recuo da marca foi muito mais por questões econômicas do que humanistas. Cientes do poder do chamado pink money, as marcas concorrentes trataram de se mostrar diferente da Barilla: 

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Heterossexuais são responsáveis por questionar homofobia e avançar a questão gay nos esportes http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/08/20/heterossexuais-sao-responsaveis-por-questionar-homofobia-e-avancar-a-questao-gay-nos-esportes/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/08/20/heterossexuais-sao-responsaveis-por-questionar-homofobia-e-avancar-a-questao-gay-nos-esportes/#comments Tue, 20 Aug 2013 14:30:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1363 No sábado, 18, as russas Kseniya Ryzhova e Tatyana Firova, ao ganharem a medalha de ouro no revezamento 4×400 metros deram um beijo no podium. As duas depois afirmaram que são heterossexuais e que fizeram o ato como a celebração da felicidade de uma conquista. No domingo, 19, Emerson Sheik postou uma foto dando um selinho em seu amigo Isaac Azar, o dono do restaurante Paris 6, em São Paulo. O craque do Corinthians estava acompanhado da namorada na hora da foto e Azar é casado e sua esposa espera o terceiro  filho.

O primeiro caso, o selinho das russas – sustentado pelo fetiche heterossexual masculino de ver duas mulheres se beijando – não criou em si muito burburinho. O que aconteceu foi a leitura da imprensa mundial que logo nomeou o ato como um protesto contra as leis anti-gays da Rússia. Elas negaram – não se sabe se por pressão dos dirigentes russos ou porque o Ocidente teve mesmo uma visão exagerada do ato. Mas o que importa é a imagem e ali parecia ter um contexto político (mesmo que a intenção não fosse esta como as atletas mesmo fizeram questão de alegar em uma coletiva) do que sexual. Nela, existe a expressão da afetividade de duas pessoas vitoriosas independente de sua orientação sexual.

O mesmo podemos falar do beijo de Sheik, ali são amigos, é troça. O próprio atacante escreveu na legenda da foto que dá uma selinho em Azar: “Tem que ser muito valente para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer. Tem que ser muito livre para comemorar uma vitória assim, de cara limpa, com um amigo que te apoia sempre. Hoje é um dia especial. Vencemos, estamos mais perto dos líderes. É dia de comemorar no melhor restaurante de São Paulo, o Paris 6, com o melhor amigo do mundo, Izac. Ah, já ia me esquecer, para você que pensou em fazer piadinha boba com a foto, da uma pesquisada no meu Instagram todo antes, só para não ter dúvida”.

Emerson Sheik dá selinho em Isaac Azar (Reprodução/Instagram)

A idiotia dos protestos de meia-dúzia de torcedores e todo o preconceito envolvido como uma cena que no fundo é um ato de amizade, tanto Xico Sá, colunista da Folha como Leonardo Sakamoto já dissertaram. Uma sociedade que confunde afeto com um artigo do requisito sexual é uma sociedade obtusa, e com certeza doente.

O que é interessante dos dois atos, ainda mais do de Sheik em um país que ainda vive um moralismo digno da década de 1950 (meninas ainda são classificadas para casar e para sair, homens têm medo de usar cachecol para não parecer homossexual, jovem é expulsa da faculdade por usar minissaia), é que em uma das fronteiras mais fechadas para a livre manifestação de sua orientação sexual: os esportes, heterossexuais têm ajudado a alargar conceitos e destruir mitos, além de escancarar a homofobia. São novamente mais uma prova que não existe uma guerra entre gays e héteros como os religiosos fundamentalistas e os ultraconservadores tanto adoram alardear.

Tanto Kseniya Ryzhova e Tatyana Firova (mesmo que involuntariamente) assim como Sheik fizeram um ato político, em nome da afetividade entre as pessoas, independente  de sexo e de orientação sexual. E nós gays, só temos a agradecer. Foi um golaço contra os intolerantes!

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Identidade de gênero e preconceito são temas de mostra em SP http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/07/25/identidade-de-genero-e-preconceito-sao-temas-centrais-de-mostra-em-sp/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/07/25/identidade-de-genero-e-preconceito-sao-temas-centrais-de-mostra-em-sp/#comments Fri, 26 Jul 2013 00:30:24 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1329 As questões de gênero e de identidade de gênero continuam centrais no debate de uma sociedade altamente sexualizada, mas que vive extremamente mal sua sexualidade. Porém, transexuais e travestis então ganham um contorno novo, pois saem da marginalidade a que foram empurradas e se tornam sujeitos. Esta mudança traz curiosidade e os artistas são os primeiros – como antenas – a perceber que algo novo precisa ser retratado. De 25 a 28 de julho (de quinta-feira a domingo), o Itaú Cultural apresenta a Mostra “Todos os Gêneros – Poéticas da Sexualidade” com filmes, performances e peças de teatro, além de debates (Veja a programação clicando aqui)

Performance “Pues sí, no soy un héroe”, do mexicano Javier Contreras (Elizabeth Vinck)

A grandeza da mostra é que a sexualidade – mesmo difundida a rodo na imprensa e na publicidade – ainda tem seu lado “tabu” e a programação enfrenta outro “tabu”, levar esta discussão para crianças e adolescentes. Por fim, o debate é importante e vital hoje pois uma sociedade altamente sexualizada precisa pensar sobre o sexo que ela tanta deseja.

Em conversa com o Blogay, a curadora da mostra e gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural, Sonia Sobral contou um pouco mais sobre as intenções do evento.

Blogay – Como surgiu a ideia do projeto? Que necessidade sentiu em discutir esta questão?

Sonia Sobarl – Surgiu da vontade de ajudar a mediar essas questões com o público. Surgiu da crença de que a forma como a arte expõe conhecimentos (crítico-estético) é talvez um dos melhores caminhos para o debate. A necessidade foi a de aproximar através do (re)conhecimento as questões que estão em jogo.

A nossa sociedade está altamente sexualizada, mas não está mais livre de tabus. Como este projeto pode contribuir para que a discussão de uma sexualidade mais livre?

A maioria dos trabalhos é poéticas que se constroem a partir das biografias dos artistas e isso mostra humanidades. Além disso, uma Instituição como o Itaú Cultural realizar essa mostra coloca esses conteúdos junto ou no mesma altura de questões mais aceitas e legitimadas pelo público e crítica da arte e da estética contemporâneas.

O que mais me chamou a atenção foi que tem uma programação voltada para crianças e isto, além de ser um tabu, é sempre uma discussão delicada? Como você pensou que a discussão da sexualidade poderia se dar com as crianças?

É justamente na infância que as curiosidades e as experiências começam e é também na infância quando essas mesmas experiências e curiosidades são, em geral, abafadas ou punidas. “Menino Teresa” (peça teatral) trabalha isso de forma poética, sensível e simples, a forma afinal como deve ser. Não mostra menino beijando menino ou menina beijando menina,etc e isso ajuda a que os pais tragam seus filhos sem receio. A peça mostra a mais simples e legítima curiosidade e confusão naturais de toda vontade de descoberta.

A questão de gênero e identidade de gênero é muito forte na programação, por quê?

Não foi uma escolha nossa. Olhamos para o campo artístico e encontramos essa produção. Ou seja, trouxemos um pouco do que está sendo feito. Então, me parece que gênero e identidade de gênero são questões que os artistas estão escolhendo tratar, nós estamos mostrando o que há. Sua pergunta nos faz ver como seria importante que vocês viessem e trouxessem essa pergunta aos artistas que estarão debatendo arte, gênero e diversidade na sexta-feira, 26.

Performance “Maria José”, da carioca Helena Vieira (Gil Grossi)
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Educação contra o preconceito http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/18/educacao-contra-o-preconceito/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/18/educacao-contra-o-preconceito/#comments Mon, 18 Mar 2013 23:00:58 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1162 É o óbvio ululante, diria Nelson Rodrigues, mas só a educação poderá ser uma arma poderosa contra o preconceito.

Ao ler a escrita sem nexo de muitos fundamentalistas que vêm aqui tentar rebater meus argumentos com gritos de guerra longe de qualquer coerência, penso na (falta) educação. Ao ler que o ensino integral das escolas públicas de São Paulo não terão, durante seus três primeiros anos, as matérias de história, geografia e ciências para tornar assim a escola “mais agradável”, penso nos (des)caminhos da educação.

Quando um casal muito amigo (ele brasileiro, ela suíça), que sou padrinho de casamento, resolveu passar um mês com os filhos no Brasil e colocá-los em uma escola para aprenderem um pouco português e a vida do país, eles se depararam com algo que não acontecia na Suíça. O filho, de 5 anos, tem as unhas pintadas, ele se diverte, é lúdico e está longe de indicar qualquer  tendência para esta ou aquela orientação sexual. Na Suíça, isto não é problema, mas se tornou em nosso país. O garoto ficou chateado com o bullying que recebeu na escola, a resposta da mãe foi imediata: “Você precisa entender que isto não é um problema seu, é um problema deles. Eles que carregam neles um problema que não é seu, não tem problema nenhum em pintar as unhas”.  Penso que aí está a chave da educação contra o preconceito e a favor do indivíduo.

Grávida em protesto contra Marco Feliciano em São Paulo (Silvana Garzaro)

Ao ver a foto da moça grávida no protesto contra Marco Feliciano (PSC-SP) penso que a educação contra o preconceito pode começar de muito cedo. Mas mesmo que não aconteça na infância, penso em amigas que educam seus namorados para dividir os trabalhos domésticos, isto também faz parte do aprendizado contra o preconceito.

Infelizmente, se o governo é omisso em relação a isto, acha que 10% da verba para educação é muito ou boicota programas educativos, não podemos ficar à mercê do Estado. Penso que atitudes individuais são capazes de causar grandes mudanças comportamentais.

Grávida em protesto contra Marco Feliciano em São Paulo (Silvana Garzaro)
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Visibilidade trans: Três relatos (parte 3) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/visibilidade-trans-tres-relatos-parte-3/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/visibilidade-trans-tres-relatos-parte-3/#comments Sun, 17 Feb 2013 14:00:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1083 Quando levantada aqui no blog as questões sobre qual lugar os transgêneros teriam e devem ter na vida social montada em cima de um sistema binário, muitos responderam nos comentários que a questão era simples: se tem pênis, vai no banheiro/vestiário masculino e se tem vagina no feminino.

Ao afirmarem isto estão em total desrespeito sobre o que é ser transgênero, por ignorância ou má fé, não conseguem enxergar que a própria existência dos/das trans questiona o órgão sexual como definidor de seu gênero.

Grosso modo, o indivíduo trans se sente inadequado ou em desconformidade com o gênero que nasceu. Então nada mais obtuso e grosseiro do que falar quem tem tal órgão vai pra tal casinha e tudo certo. Estes com certeza não se interessam e querem se livrar rapidamente de um dilema que não conhecem pelo mais rasteiro senso comum.

Por isto o Blogay conversou com três trans femininas – que são as personagens que devem ser primeiramente escutadas. Elas contam o que acham de um terceiro banheiro e se já sofreram preconceito ao ir em um banheiro ou vestiário público

Samantha Aguiar (Reprodução/Facebook)

 Samantha Aguiar, transexual

Sim, sim, já sofri preconceito anos atrás num baile de Carnaval no extinto Palace [em São Paulo] depois de duas vezes que já tinha entrado no banheiro feminino, uma segurança pediu meu RG pra entrar no banheiro.

Mas não evito frequentar lugar nenhum com medo nenhum.

Não acho bacana criar banheiros pra trans… Um horror, as chacotas só aumentariam… Na Europa, em alguns clubes, sabiamente, os banheiros são UNISSEX. Uma trans feminina deve sim usar só o banheiro feminino. Eu só uso banheiro feminino, e essa historia do Palace foi a única na minha vida; e seria muito mais problema e alvoroço uma trans num banheiro masculino.

Viviany Beleboni (Reprodução/Facebook)

Viviany Beleboni, travesti

Nunca sofri preconceito [em banheiros e vestiários públicos], às vezes olhares mais perceptivos, algumas meninas olham e percebem , a maioria que percebe sorri e admira, muitas poucas olham com ar de deboche ou risos, pelo menos no meu caso.

Conheço muitas travestis que se sentem oprimidas em viver com a sociedade e se reprimem achando que não tem o direito de ir e vir, com medo de transfobia e humilhações seja em shoppings, bares ou baladas. Mas confesso, é muito frustrante você ir em algum lugar e as pessoas te olharem como algo de outro mundo ou rirem como se você não fosse para estar ali com elas. Isso já me aconteceu em baladas mas tiro de letra quando acontece.

Eu acho uma bobagem um banheiro para trans, uma travesti ou transexual, na minha opinião, não entraria nesse banheiro, porque ao entrar ou sair sofreria sim preconceito, eu até hoje como disse nunca vi nenhuma situação das mulheres se sentirem constrangidas, muito pelo contrário, a maioria elogia.

Lógico que eu uso o banheiro feminino, seria ridículo e completamente constrangedor para nós travestis, uma por que ao entrar seríamos motivos de chacotas, risos, deboches, e até vitima de transfobia, pois vivemos em um pais muito machista e hipócrita onde a maioria sai [sexualmente] com trans e ao falar sobre o assunto eles dizem completamente o contrário. E até mesmo se precisam, eles [os que saem com trans] xingam falando que é errado.

É muito mais discreto você entrar em um banheiro feminino, é muito mais confortável você entrar com suas amigas mulheres ou trans.

Bianca Soares (Reprodução/Facebook)

Bianca Soares, transexual

Sofri preconceito não como trans, mas como gay vestida de mulher há muito tempo. A recepcionista do banheiro ou seja a encarregada da limpeza falou para eu ir no banheiro masculino, lógico que não fui. Hoje em dia não (sofro preconceito em banheiros públicos) porque sou muito segura de mim e tenho as leis do Brasil a meu favor. ufa!

Sou contra o banheiro para trans. Acho puro preconceito, óbvio que tem que ser o feminino afinal sou uma mulher (Bianca conseguiu seu registro social, isto é trocar seu nome da certidão nos documentos para um nome feminino há oito meses) e vou no banheiro não para ficar caçando ou vendo mulher pelada, idem o transexual masculino . Óbvio que uma trans feminina, educada, que tem índole prefira o feminino porque o objetivo do banheiro é o mesmo pra um hétero educado e íntegro.

Quando Bianca diz que tem as leis a seu favor, ela esta se referindo às mesmas que Laerte na entrevista anterior citou, a lei estadual 10948 (se você não morar no estado de São Paulo, informe-se se não existe nenhuma lei análoga em seu estado ou município). Clique aqui para saber mais.

Leia a parte 1 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

Leia a parte 2 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

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Todos odeiam travesti http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/14/todos-odeiam-travesti/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/14/todos-odeiam-travesti/#comments Sat, 14 Jul 2012 23:30:48 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=590 Gay barbie odeia gay urso que não suporta lésbica que não tolera bissexual que detesta gay efeminado e todos odeiam travesti. Esta paródia de uma quadrilha “dus infernus” que li em algum lugar é uma triste verdade.

Se existe competição e críticas entre os vários segmentos LGBTs, o mais recriminado são os trangêneros. Os homossexuais masculinos e femininos, por estarem “em concordância” tanto na questão de identidade de gênero como de orientação sexual, sempre tem um pé atrás com os bissexuais (os indefinidos na visão de muitos de sua orientação sexual) , vistos sempre com desconfiança. Mas é com os travestis e transexuais que o bicho pega de fato, a porta muitas vezes fecha para elas/eles (os transhomens), apesar delas/deles quando precisamos serem sempre a vanguarda do movimento, de se colocarem de forma aberta, explícita.

Capa da revista “Simples Assim” com a trans Carol Marra (Divulgação)

O jornalista Neto Lucon em entrevista com a modelo transexual Carol Marra para o site Virgula coloca esta questão. Ela é capa da nova edição da revista “Simples Assim”, uma publicação LGBT. A última trans que foi cover girl de uma revista gay foi Roberta Close, na excelente e extinta Sui Generis, nos anos 1990, isto é, faz mais de década que nenhuma revista especializada coloca em sua capa alguém do segmento transgêneros.

“Mas não vende revista com travesti na capa”, vai se desculpar algum publisher. Oras, este é o mesmo discurso que a mídia de revistas mainstream falava sobre negros tempos atrás, antes da ascensão de Barack Obama, para se posicionar sobre a cobrança que muitos faziam pela falta de negros nas capas das revistas.

Mas acredito ser pior quando se trata de uma revista especializada, que pensa em representar um grupo diverso e acaba apenas priorizando um pequeno segmento dentro desta legenda chamada LGBT. Que não venda, mas que consiga prestígio com a atitude de pelo menos sair da repetição do discurso mainstream.

Este é só um detalhe, ao ler a declaração de Carol Marra ao Virgula – “É a primeira vez que faço um ensaio para uma revista gay e fui recebida com muito carinho. É curioso, pois no próprio meio GLS existe muito preconceito com as transexuais” –  percebe-se que ainda temos um longo caminho a percorrer contra as estigmatizações e elas devem começar por nós mesmos, antes de ficarmos apontando o dedo na cara dos outros.

A modelo Carol Marra (Divulgação)
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“Ter preconceito contra homossexuais não é diferente de discriminar os negros”, diz o rapper Jay-Z http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/15/ter-preconceito-contra-homossexuais-nao-e-diferente-de-discriminar-os-negros-diz-o-rapper-jay-z/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/15/ter-preconceito-contra-homossexuais-nao-e-diferente-de-discriminar-os-negros-diz-o-rapper-jay-z/#comments Wed, 16 May 2012 02:30:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=340 Depois de Barack Obama declarar ser a favor do casamento gay, um medalhão (bling bling) do rap deu entrevista, nesta terça-feira, 15, para a CNN e colocou sua posição sobre a união de pessoas sobre o mesmo sexo em outra perspectiva.

A pessoa mais poderosa do hip hop diz que Obama “does the right thing”, mesmo que isto signifique perder eleitores. “É a coisa certa a se fazer, então se isso custar votos a ele… Não é pelos votos, é pelas pessoas. É a coisa certa a se fazer como ser humano”.

[youtube xZsItunLZDU nolink]

Mas o principal de sua declaração é “o que as pessoas fazem em suas próprias casas é negócio delas e você pode escolher amar quem você quer amar. “[Ter preconceito contra homossexuais] não é diferente de discriminar os negros. É discriminação pura e simples.”

Este é o ponto, o marido de Beyoncé tem compreensão da totalidade e da amplidão da luta homossexual que é mais do que a luta pelos direitos civis de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros. Esta luta também traz em seu bojo a questão das  mulheres, dos negros e das minorias, pois de fundo é uma luta por respeito contra a opressão.

O advogado Paulo Tavares Mariante, escreveu em seu texto “Igualdade de Direitos: 3ª Marcha Nacional contra a Homofobia”: “A construção de uma frente nacional pela igualdade de direitos, que aglutine militantes dos movimentos negros, feministas, LGBT e da diversidade sexual, da juventude, das pessoas com deficiência, idosos, trabalhadoras e trabalhadores, bem como sem terra, sem teto, e pela efetividade dos direitos sociais, para nós é tarefa essencial a ser desenvolvida e embora não seja simples ou fácil exige um esforço de unidade e de priorização”.

Talvez agora alguns leitores entendam porque muitas vezes as mulheres, os negros e outras minorias também são tema deste blog.

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O gay feminino: Homossexual que inspirou o personagem Crô em “Fina Estampa” é agredido http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/02/o-gay-feminino-homossexual-que-inspirou-o-personagem-cro-em-fina-estampa-e-agredido/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/02/o-gay-feminino-homossexual-que-inspirou-o-personagem-cro-em-fina-estampa-e-agredido/#comments Thu, 03 May 2012 02:00:23 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=290
David Alvarez depois da agressão (Reprodução/Instagram)

Foi assim que ficou o cantor David Alvarez depois que apanhou de seguranças na boate Fosfobox, em Copacabana, Rio de Janeiro, na manhã de terça-feira, 1º. Ele inspirou o ator Marcelo Serrado na composição do personagem Crô, na novela Fina Estampa de Aguinaldo Silva.

A situação de uma violência gratuita ganha contornos mais sombrios quando pensamos que a agressão aos homossexuais afeminados é encorajada e bem pouco condenada por uma certa parcela da sociedade.

Há pouco tempo, um deputado federal pedia para pais baterem em seus filhos ao perceberem algum sinal de homossexualidade neles. Oras o que pode ser visto como o tal “traço gay” seria uma certa feminilidade do garoto ou masculinidade da menina, o que não necessariamente os tornariam homossexuais. Aliás, existem muitos gays que não apresentam qualquer conotação feminina, assim como lésbicas nem um pouco masculinizadas.

O que fica claro é que quanto o homem for mais feminino, isto é, com mais símbolos culturais das mulheres, mais ele merece uma surra, pois assim é que no fundo devem ser tratadas as mulheres para os vivenciam esta mentalidade. No caso das mulheres, ao serem mais masculinas, elas entram em uma zona de confronto com o próprio homem e o estupro corretivo muitas verzes é a resposta para os que não suportam a diversidade.

No caso de David Alvarez, – mesmo o motivo sendo torpe e não ter aparentemente relação com homofobia – o fato dele ser montado, dar pinta com um topete imenso e cheio de laquê deve ser pelo menos um dispositivo para que a agressão possa ser feita de maneira mais enfática como a que vendo o rosto do cantor não podemos nos deixar de questionar:  Tudo isso por causa de um cigarro?

Os homossexuais afeminados, os que se montam e atravessam a fronteira da masculinidade estão muito mais na linha de fogo dos homofóbicos que os chamados “discretos”. Aliás, estão também na mira de outros gays que os condenam por sua feminilidade (muitas vezes não percebendo a sua própria afetação).

Eles são em si bandeiras ambulantes contra o machismo. O ator Marcelo Serrado – que compôs intuitivamente de forma fantástica o mordomo Crô – não conseguiu entender a dimensão de seu personagem, maior até do que o ator, ao afirmar que Crô não levantava bandeiras.  Ser Crô ou Daniel Alvarez é levantar bandeiras.

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