Blogaynegros – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A Parada Gay de São Paulo é negra e pobre http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/#comments Mon, 05 May 2014 23:00:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1688 No domingo, 4, o centro de São Paulo parou para ver a Parada LGBT passar. Durante as seis horas que permaneci no evento, uma constatação que já tinha feito em outros anos se impôs:  o evento gay é feito principalmente por negros e pobres.

“Jardim Ângela”, “Itaquaquecetuba”, “Pirituba” foram algumas das inúmeras respostas à pergunta que fazia aos participantes pra saber de onde é que eles tinham vindo para o evento. Muitos com cabelos com luzes, outros com um corte que lembrava o do sertanejo Gusttavo Lima, muitos com camisetas de marca e algumas tatuagens tribais que os desenhos muito lembravam uma espinheira, sem falar do boné. Estava de frente com uma classe social que conhecia das fotos dos jornais, dos chamados rolezinhos. As classes C e D ocupam novos lugares em um misto de enxergar a Parada como diversão enquanto consumo e também como um ato de cidadania (seja consciente ou não).

A Parada também lembrou muito os entrudos populares, os carnavais de rua do Brasil Colonial e monarquista que os escravos eram os protagonistas e os brancos assistiam à festa de suas janelas. E não precisava de nenhum instituto de pesquisa para constatar o óbvio, a presença de uma imensa maioria de pessoas negras.

Esta presença de negros e pobres no evento o faz ter muito mais significados e levanta complexidades mais ricas sobre as minorias no país. Já escrevi aqui que a luta de uma minoria é a luta de todas as minorias, e a presença delas em uma parada gay, mesmo que de forma desarticulada só comprova a tese acima. Estão todos na mesma marcha querendo direitos e respeito.

A parada paulistana surgiu branca e hype, era chique ir defender os gays, mesmo você sendo apenas um simpatizante, termo usado na época. Com os anos, um evento de graça, em uma cidade que o dinheiro rege o seu poder de ter lazer, fez com que negros e pobres também quisessem este ato de cidadania (a diversão de graça mais do que a própria parada). Entretanto, a presença, nos primeiros anos até violenta e mal educada destes novos convidados, afugentou.

Surgiram muitas desculpas, então, como as que parada virou uma micareta, um Carnaval fora de época (sempre foi e isto faz parte de nossa cultura), agora só tem putaria (sempre teve e não devemos olhar com moralismo, o mesmo moralismo que, de fundo, condena a existência de homossexuais), não era politizada (nunca foi em um sentido muito dogmático e restrito do termo). Desculpas para, talvez, esconder a verdadeira razão, a questão classista disfarçada na expressão “agora só tem gente feia”.

Talvez as únicas desculpas aceitáveis eram as das mulheres que ficaram assustadas com o assédio de um grande número de homens héteros que iam fazer pegação na Parada. Mas este ano, vi muitas lésbicas bem à vontade sem serem repreendidas por nenhum marmanjo. Não vi abordagens ostensivas que já cansei de presenciar nas edições passadas, nem vi tanto lixo no chão, nem pessoas muito bêbadas caídas, nem um clima de possível violência. Vi um ato civilizatório entre gays e negros e pobres e a própria Parada, porque, mesmo que inconscientemente, estavam todos lá por direitos, nem que fosse pelo direito de se divertir.

18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
]]>
31
Manifestação contra Marco Feliciano (um relato pessoal) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/09/manifestacao-contra-marco-feliciano-um-relato-pessoal/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/09/manifestacao-contra-marco-feliciano-um-relato-pessoal/#comments Sun, 10 Mar 2013 02:00:30 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1129 Nesta tarde de sábado, 9, nesta terra de Macunaíma, a preguiça deu espaço para a reação, para a tomada de posição, para a indignação e principalmente para a cidadania. Insatisfeitos com a nomeação do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) – acusado por ativistas de racismo e homofobia e investigado pelo STF por estelionato – para a presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias,  os brasileiros resolveram sair às ruas.

Manifestação contra o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) em São Paulo (Clara Averbuck)

Eu resolvi sair também. A primeira estranheza era a quase ausência de bandeiras de partidos políticos. É muito cedo para dizer se isto é positivo ou não, mas é novo! Muitos movimentos e manifestações que se dizem apartidários ou supra partidários e nascem nas redes sociais – como este – deixam claro no primeiro grito de guerra na rua as suas filiações partidárias. Ali afirmava-se acima dos partidos que eram os movimentos sociais e pessoas independentes que queriam mostrar sua indignação.

Uma surpresa boa: encontrei amigos que raramente os vejo neste tipo de evento. Eles estavam lá, firmes, gritando,  algo neles sinalizava que as negociações políticas tinham ido longe demais, eles não podiam mais ser indiferentes.

Da mesma forma, foi super orgânica a união, em determinado ponto da passeata, entre os que protestavam contra Feliciano com os que pediam a renúncia de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado. Quem acompanhou pela internet, presenciou brigas homéricas entre os participantes de um e o de outro evento, mas quando tudo saiu da virtualidade e se tornou real, percebeu-se como de fundo as duas causas se assemelhavam.

Manifestação contra Marco Feliciano (PSC-SP) desce a rua da Consolação, em São Paulo (Shin Shikuma/UOL)

Assim como nunca ficou tão límpido que a luta pelos direitos gays (as faixas pedindo a aprovação do PLC 122 se fizeram bem presentes) é de fundo igual a dos negros, mulheres, cadeirantes. Uma cadeirante me emocionou muito ao fazer questão de fazer o percurso da passeata todo (da Paulista até a Roosevelt e voltando para a Paulista) em calçadas e ruas em péssimo estado. Ela estava dizendo a  todos  que assim estava se irmanando com as causas como todos ali.

No caldeirão das diferenças: uns contra o Renan, outros contra Feliciano, outros denunciando racismo, outros homofobia, misoginias, percebemos ali  de forma muito clara que estávamos todos falando das mesmas coisas: isonomia e cidadania.

Manifestantes se beijam explicitando que tanto a causa LGBT como a negra são de mesmo fundo (Adriano Vizoni/Folhapress)
]]>
45
O vogue, Leiomy Mizrahi e a felicidade gay (uma redundância) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/19/o-vogue-leiomy-mizrahi-e-a-felicidade-gay-uma-redundancia/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/19/o-vogue-leiomy-mizrahi-e-a-felicidade-gay-uma-redundancia/#comments Fri, 20 Jul 2012 02:30:21 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=615 [youtube xjPVIOCP-j8 nolink]

Quando a gente assiste a este vídeo acima com um povo em Ohio em um salão de baile, o chamado ballroom,  delirando com a diva do vogue, a transexual Leyomi Mizrahi, só uma palavra vem à cabeça: felicidade. Nada pode ser mais simples que uma passarela, uma turma animada e a dança e também nada pode ser mais feliz.

Se gay – e pensando no termo como algo que abrange homossexuais masculinos, femininos, transgêneros e  bisexuais – significa em inglês feliz, é assim que me identifico com estes rostos variados de Ohio, um lugar tão distante do meu, mas ao mesmo tempo tão próximo da vibração que sinto. Quando todos saúdam aquela que é considerada um dos ícones da dança vogue dramática, Leyomi Mizrahi, nada me parece mais justo e acertado neste mundo.

Leiomy Mizrahi (Reprodução / My Space)

Mizhari é conhecida pelas suas aparições na MTV americana mas, acima de tudo, em Nova York, ela é uma lenda do vogue contemporâneo (a dança popularizada por Madonna, em 1990)

[youtube XxApzF_j-3k nolink]

O vogue, podemos dizer, é o break gay. Com direito a muita fechação, carão, humor, poses inspiradas em capas de revistas de moda, mas movimentos que lembram um breaking mais afetado porém não mais fácil tecnicamente.

Criado por gays negros e latinos nos Estados Unidos, isto é a minoria da minoria,  ele parece ser feito para uma maioria que quer ser feliz, seja fazendo carão, seja gritando quando um passo saiu em ritmo com a poesia do MC ou ainda para bater muito cabelo.

Cata este bate cabelo de Mizrahi!

[youtube NJaWGV75tMU nolink]

]]>
2
“Ter preconceito contra homossexuais não é diferente de discriminar os negros”, diz o rapper Jay-Z http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/15/ter-preconceito-contra-homossexuais-nao-e-diferente-de-discriminar-os-negros-diz-o-rapper-jay-z/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/15/ter-preconceito-contra-homossexuais-nao-e-diferente-de-discriminar-os-negros-diz-o-rapper-jay-z/#comments Wed, 16 May 2012 02:30:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=340 Depois de Barack Obama declarar ser a favor do casamento gay, um medalhão (bling bling) do rap deu entrevista, nesta terça-feira, 15, para a CNN e colocou sua posição sobre a união de pessoas sobre o mesmo sexo em outra perspectiva.

A pessoa mais poderosa do hip hop diz que Obama “does the right thing”, mesmo que isto signifique perder eleitores. “É a coisa certa a se fazer, então se isso custar votos a ele… Não é pelos votos, é pelas pessoas. É a coisa certa a se fazer como ser humano”.

[youtube xZsItunLZDU nolink]

Mas o principal de sua declaração é “o que as pessoas fazem em suas próprias casas é negócio delas e você pode escolher amar quem você quer amar. “[Ter preconceito contra homossexuais] não é diferente de discriminar os negros. É discriminação pura e simples.”

Este é o ponto, o marido de Beyoncé tem compreensão da totalidade e da amplidão da luta homossexual que é mais do que a luta pelos direitos civis de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros. Esta luta também traz em seu bojo a questão das  mulheres, dos negros e das minorias, pois de fundo é uma luta por respeito contra a opressão.

O advogado Paulo Tavares Mariante, escreveu em seu texto “Igualdade de Direitos: 3ª Marcha Nacional contra a Homofobia”: “A construção de uma frente nacional pela igualdade de direitos, que aglutine militantes dos movimentos negros, feministas, LGBT e da diversidade sexual, da juventude, das pessoas com deficiência, idosos, trabalhadoras e trabalhadores, bem como sem terra, sem teto, e pela efetividade dos direitos sociais, para nós é tarefa essencial a ser desenvolvida e embora não seja simples ou fácil exige um esforço de unidade e de priorização”.

Talvez agora alguns leitores entendam porque muitas vezes as mulheres, os negros e outras minorias também são tema deste blog.

]]>
32
Mademoiselle é a primeira rapper travesti do Brasil http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/03/mademoiselle-e-a-primeira-rapper-travesti-do-brasil/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/03/mademoiselle-e-a-primeira-rapper-travesti-do-brasil/#comments Thu, 03 May 2012 22:00:14 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=297
A rapper Mademoiselle (Divulgação)

Quando o rap nasceu, nas profundidades do Bronx, já surgia ali dois elementos que parecem estar em sua essência: a diversidade e a contestação. Estavam ali, no “Planet Rock”, o globo terrestre musical que poderia unir os alemães do Kraftwerk com jamaicanos como Kool Herc e seus sound systems. Do que era diverso, saiu toda uma poética de protesto e uma ação afirmativa ao retratar a vida de uma minoria que, mesmo depois de mais de um século de abolição, ainda vivia em condições quase escravas.

O rap une periferias do mundo e é a música que rima com excluídos. Então não seria estranho outras minorias excluídas sentirem-se atraídas por esta forma de poesia e ritmo. É por esta e outras razões que Mademoiselle Lulu Mon’Amour, de Goiânia, é a primeira rapper travesti do Brasil.

Claro que, assim como o rap é uma espécie de documentário musical de uma certa realidade, a vivência de Mademoiselle como travesti não poderia estar de fora de suas composições. Temas como a homofobia e o preconceito fazem parte de sua “diss” (canção de insatisfação).

“O movimento [hip hop] ainda carrega o machismo e os rappers ainda são sim muito machistas. Acho lastimável!” diz ela em sua página do Soundcloud. “Se para as mulheres em cena no movimento já era difícil serem ouvidas pra mim é apenas uma etapa a ser vencida! Meu som é pra todas as manas, mulheres guerreiras e batalhadoras, gays, lésbicas ou qualquer pessoa que já sentiu desconforto, desprezo ou humilhação com qualquer preconceito seja de teor racial ou sexual imposto pela sociedade.”

Solta a poesia, Mademoiselle!

[youtube tzG8YbyQG7A nolink]

]]>
10