Blogaylésbicas – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 ‘Azul é a Cor Mais Quente’: O amor nosso de cada dia bem de perto http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/12/20/azul-e-a-cor-mais-quente-o-amor-nosso-de-cada-dia-bem-de-perto/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/12/20/azul-e-a-cor-mais-quente-o-amor-nosso-de-cada-dia-bem-de-perto/#comments Fri, 20 Dec 2013 18:00:28 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1558 O amor surge e resiste (ou arruína) muito pelo grau de intimidade que se tem com o outro. É estar perto, no sentido metafísico, muito perto do objeto amado. Para tanto em “Azul é a Cor Mais Quente”, o diretor Abdellatif Kechiche usa e abusa dos closes, tudo para que adentremos na pele, na vida e na alma de Adèle, interpretada de forma grandiosa por Adèle Exarchopoulos. O close é nosso grau de intimidade com a personagem. É o nosso ato de amor para com aquela história que todos, em algum momento, já vivenciaram ou vivenciarão: a ascensão e a decadência de uma relação amorosa.

O psicólogo alemão e professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Hugo Munsterberg, escreveu no começo do século 20: “O close-up transpôs para o mundo da percepção o ato mental da atenção […] É como se o mundo exterior fosse sendo urdido dentro da nossa mente e, em vez de leis próprias, obedecesse aos atos de nossa atenção”. Estamos todos atentos em Adèle e nas suas descobertas que, por estarmos tão pertos, são nossas descobertas também.

A atriz Adèle Exarchopoulos é a mais nova Falconetti, a atriz do clássico de 1928, dirigido Carl Theodor Dreyer: “A Paixão de Joana D´Arc”. Seu rosto, dentes e pele nos são confidenciados e revelados a cada fotograma, como numa cruzada/guerra em busca de algo tão espiritual como carnal, o amor.

De tão próximos, percebemos que ela sente desejo por outras mulheres e uma, em específico, irá também ficar perto de nós, Emma (Léa Seydoux). Ela será o primeiro amor desta adolescente que está se tornando adulta.

E com planos cada vez mais fechados chegamos a uma das cenas mais polêmicas do filme, a relação sexual do casal. Muitos a acharam exagerada, ou longa demais, ou explícita demais. Mas o que tem de demais é o fato delas nos perturbar e nos maravilhar também. Em uma sociedade falocêntrica como a nossa, o desejo e o prazer imenso entre duas mulheres sem a presença de um pênis é perturbador e maravilhoso. O filme chega a ser educativo neste sentido.

Nesta cena também presenciamos quase que com elas que não existem papéis como ativo e passivo, existe prazer. Aliás, existem papéis que podem ser trocados em uma mesma noite, em um mesmo desejo. É claro que a constatação imagética de que o pênis não é o centro do mundo sexual e que os papéis sexuais (reprodução da questão heteronormativa que muitos héteros questionam) não são fixos deva causar polêmica. Mas isto só é possível, novamente, por causa do close, por estarmos junto delas, por visualmente transarmos com elas, mas não no sentido do fetiche que faz com que as relações entre duas mulheres possam apenas ser a fantasia de um casal hétero, e sim como um ato de amor nosso com aquela história que acaba sendo nossa também. Como São Tomé, a gente acredita porque está vendo.

O amor tem seu componente trágico e o filme não o deixa de fora, mas sempre na chave do cotidiano. A relação acaba, há e não há culpados assim como saímos do cinema com a sensação que somos tanto Adèle como Emma, tamanha nossa intimidade com elas, tamanho o amor que presenciamos.

Emma (Léa Seydoux) e Adèle (Adèle Exarchopoulos) em “Azul é a Cor Mais Quente” de Abdellatif Kechiche (Divulgação)
Emma (Léa Seydoux) e Adèle (Adèle Exarchopoulos) em “Azul é a Cor Mais Quente” de Abdellatif Kechiche (Divulgação)

PS: O filme é repleto do que eu chamo de “o sublime do cotidiano”. Esta cena abaixo é o aniversário da maioridade de Adèle. Ela está amando e não pode contar para ninguém (é outra mulher! É algo novo para ela), mas seu corpo conta para todos o que está acontecendo com ela. Nesta hora, o azul de seu vestido é a cor mais quente.

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Liberdade de expressão é uma via de mão dupla: o motorista de ônibus e as lésbicas http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/11/04/liberdade-de-expressao-e-uma-via-de-mao-dupla-o-motorista-de-onibus-e-as-lesbicas/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/11/04/liberdade-de-expressao-e-uma-via-de-mao-dupla-o-motorista-de-onibus-e-as-lesbicas/#comments Tue, 05 Nov 2013 01:50:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1478 Gabriela Pozzoli Cavalheiro e sua namorada foram xingadas por um motorista de ônibus por causa de suas orientações sexuais. A estudante de sociologia e política fez o seguinte relato para o Blogay:

“Eu e minha namorada fomos vítimas de injúria com caráter homofóbico no dia 30 de outubro. Às 9h35 da manhã, estávamos de mãos dadas aguardando o ônibus no ponto da Av. Rebouças, n° 2.288 (aproximadamente). Um ônibus da linha 7545-10, placa EFW-0618, sentido Centro, parou e o motorista disse de forma agressiva que ‘deveria pegar um ferro pra queimar essas sapatões’, ‘vocês vão pegar Aids’, entre outros xingamentos dessa estirpe.

Ligamos na SPTrans para fazer uma denúncia do ocorrido, e nos orientaram para entrarmos em contato com o Consórcio Sudoeste (telefone 0800110158), porém, senti que o atendente (Reginaldo, que não quis me passar seu sobrenome, tendo o nome portanto de Reginaldo Apenas) me tratou com descaso, falando que eu que deveria retornar a ligação pra saber o andamento e que eles não me ligariam. Além disso, minha namorada Luiza relatou que a atendente Rose perguntou o que estávamos fazendo, de maneira a entender que a culpa era nossa (das vítimas) por ter incitado alguma raiva homofóbica do motorista, além de falar que sem o número do ônibus não dava pra fazer muita coisa (esquisito).

No mínimo é um pouco ‘estranho’ ir atrás de um órgão que trata nossa denúncia como se fosse uma solicitação e que não disse que entraria em contato conosco e que nós, vítimas de uma violência em local público, deveríamos ir atrás do andamento da solicitação.

Já fiz B.O. eletrônico e uma denúncia no site da coordenadoria LGBT do Ministério da Justiça foi feita. A Defensoria entrou em contato comigo e o Ministério da Justiça também. Vamos levar esta denúncia adiante. Eles foram extremamente ligeiros pra entrar em contato conosco e oferecer seus serviços, dirimir dúvidas, ser parceiro mesmo nesse processo. Fiquei extremamente surpresa positivamente e grata.

Pretendemos entrar com ação penal, na vara cível (e o ressarcimento do dano moral doar para uma ONG ou entidade da área LGBT), além do processo administrativo”.

O relato de Gabriela traz dois importantes dados. Sua consciência de que possui direitos e que eles devem ser respeitados. O fato de procurar órgãos competentes para fazer a denúncia e assim ser totalmente ciente de sua cidadania – mesmo com as adversidades e o preconceito –  é o primeiro deles. O segundo é seu amplo entendimento do que é a tal liberdade de expressão. Enquanto intolerantes a enxergam como uma forma de poderem ter o direito de agredir minorias,  a liberdade de expressão, na verdade, é uma rua de mão dupla. Você pode até xingar um determinado grupo minoritário, mas isto acarretará em consequências pois a sua liberdade termina quando começa a do outro, já dizia o ditado popular.

Pelo fato ter acontecido com uma empresa ligada à Prefeitura de São Paulo, o Blogay procurou o Coordenador de Políticas para LGBT do município, Julian Rodrigues. Ele foi claro: “é um caso típico que pode ser denunciado no Centro de Combate à Homofobia, que fica no Pátio do Colégio, 5, Centro (os telefones são 11  3106-870/3105-4521 e o e-mail cch@prefeitura.sp.gov.br)”. E afirmou que tanto para a situação ocorrida com Gabriela como para os que procurarem  o centro para orientação sobre atos homofóbicos, eles têm uma estrutura jurídica disponível: “temos advogadas e assistentes sociais a disposição pra encaminhar imediatamente um caso desses”.

O blog também procurou a SPTrans para saber a posição da empresa e a assessoria informou que a resposta sairá de 5 a 7 dias.

Mais do que um caso isolado, Gabriela dá o exemplo de como minorias agredidas devem se comportar perante ofensas. E que a liberdade de expressão não é apenas daquele que ofende, mas principalmente do agredido.

(Bruno Poletti/Folhapress)
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O que você gostaria de perguntar para elas e não sabia como? (Parte 2) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/09/02/o-que-voce-gostaria-de-perguntar-para-elas-e-nao-sabia-como-parte-2/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/09/02/o-que-voce-gostaria-de-perguntar-para-elas-e-nao-sabia-como-parte-2/#comments Mon, 02 Sep 2013 14:00:34 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1391 Depois de conversar com Milly Lacombe e Laura Bacellar, Blogay ainda fez algumas perguntas para outras lésbicas sobre o universo que cercam a lesbianidade, clichês e preconceitos

Suzy Capó, 52, jornalista, produtora cultural, curadora de festivais de cinema

Blogay – Você acha que a imagem lésbica ligada à MPB e sinuca é um clichê ou um símbolo. Ele pode representar as lésbicas ou é limitador?

Quero acreditar que a imagem lésbica ligada à MPB é hoje mais um símbolo, não um clichê. E depende de quem vai usar a imagem. Pode ser uma forma bem-humorada de representar as lésbicas ou hiper-limitado já que obviamente esse segmento da sociedade é tão diverso quanto qualquer outro. É como a imagem dos homens gays de couro e bigode. É limitador? É, mas pode ser engraçado. Quando penso nessa imagem (da lésbica ouvindo MPB e jogando sinuca), penso num cartoon.

Como está hoje a cinematografia com temática lésbica?  O que indica para assistir?

A cinematografia lésbica vai bem, obrigada. Não há tantos filmes de qualidade por aí, mas tem coisas excepcionais como “A Vida de Adèle”, de Abdellatif Kechiche, que ganhou a Palma de Ouro este ano no Festival de Cannes. Já aproveitando o espaço, a Mostra Gay do Festival do Rio este ano vai apresentar 3 ótimos filmes com temática lésbica:

– “Dual”, de Nejc Gazvoda, que é uma espécie de Antes do Anoitecer lésbico, situado na Europa Oriental;

-“Concussion”, de Stacie Passon, que derruba aqueles clichês sexuais relacionados às lésbicas, além de ser superdivertido (derrubando também aquela equivocadíssima ideia de que lésbicas não tem humor);

– “She Said Boom: the Story of Fifth Column”, de Kevin Hegge, que conta a história de uma banda post-punk canadense, formada só por mulheres. Aliás, a imagem da lésbica roqueira é símbolo ou clichê? Hahaha

São todos filmes muito bons. Mas, veja você, são poucos num programa com 12 filmes, né? E, claro, para assistir já, tem “Flores Raras”, do Bruno Barreto.

Algumas lésbicas se vestem como homens, desde antes mesmo da escritora inglesa Radclyffe Hall no começo do século 20. Existe uma confusão entre lesbianidade e transgênero dentro do próprio mundo lésbico? Ou não?

Acho que essa questão de se vestir de homem não é exatamente uma confusão. Quer dizer, pode até ser uma confusão, mas frequentemente a confusão está nos olhos de quem vê, não de quem está sendo visto. Muitas mulheres se vestiram como homens para transitar num espaço em que elas não poderiam transitar de outro modo. Na Inglaterra hoje, uma mulher que se veste de homem está fazendo isso por motivos bem diferentes daqueles que levaram Radclyffe Hall a se vestir com trajes masculinos. Pode ser simplesmente um jogo, “role playing”. Ou pode ser que ela seja ele, e é simplesmente isso que ele está querendo afirmar.

Ivone Pita, 43, professora e militante LGBT

Blogay – Qual o ponto nevrálgico que une as lésbicas às feministas?

Nossa mentalidade ainda muito patriarcal oprime todas as pessoas, mas com muito mais violência as mulheres. É no enfrentamento a esta violência estrutural que vários grupos de mulheres se unem. Nos movimentos feministas é que mulheres heterossexuais, homossexuais, bissexuais, cis ou trans, estabelecem seus laços de força contra o sexismo, o machismo e a misoginia. No entanto, desde sempre e ainda hoje, muitas pessoas ainda associam pessoas lésbicas ao que se convencionou chamar de masculinidade e, assim, por extensão, associam lésbicas com o machismo, o que, naturalmente, levaria feministas a rejeitarem lésbicas. A boa notícia é que isso hoje em dia parece ser muito raro.

Algumas lésbicas se vestem como homens e em muitas vezes mimetizam/imitam o homem machista, desde antes mesmo da escritora inglesa Radclyffe Hall. Ao se identificarem com o machão, diferente dos gays que se identificam com a mulher – o sexo oprimido, estaria aí – além de uma representação dualista heteronormativa – um identificação com o machismo? Seria isto? Ou não?

O sexismo continua vasculhando vestimentas e comportamentos para fazer correlações entre lésbicas e o que seria uma “figura de macho”. Como há mulheres heterossexuais e homossexuais feministas, também há mulheres heterossexuais e homossexuais machistas, contudo, se a mulher for lésbica, o preconceito associa seu machismo a sua homossexualidade. Esta é uma das violências sofridas por mulheres lésbicas, bissexuais e heterossexuais, sejam cis ou trans: a normatividade sexista e binarista. Apenas uma delas. As violências são muitas e se manifestam sob variadas formas.

Qual é a maior violência que as lésbicas sofrem? E qual o direito mais urgente que ainda falta ser conquistado por elas?

Uma forma de violência é a negação de nossos direitos: de casar, de adotar, de sermos protegidas por lei da violência homofóbica física e verbal. E não há como lista-los hierarquicamente, pois somos tantas com anseios e necessidades tão diferentes e, afinal, são direitos de qualquer outro cidadão que nos estão sendo usurpados, portanto, queremos direitos que são nossos. Queremos todos!

A poeta grega Safo (Reprodução)
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O que você gostaria de perguntar para elas e não sabia como? (Parte 1) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/08/30/o-que-voce-gostaria-de-perguntar-para-elas-e-nao-sabia-como-parte-1/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/08/30/o-que-voce-gostaria-de-perguntar-para-elas-e-nao-sabia-como-parte-1/#comments Sat, 31 Aug 2013 02:30:46 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1383 A visibilidade lésbica merece mais do que um dia, tanto que em São Paulo irá acontecer neste sábado, 31, um sarau sobre mulheres que amam outras mulheres na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, das 16h às 21h, com venda de livros, leituras e a projeção do documentário “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” de Hanna Korich. A visibilidade lésbica merece mais do que uma saudação, merece uma aproximação, um gesto de cumplicidade, de entendimento por parte dos outras siglas que compõe o LGBT e também dos heterossexuais.

Pensando nisto, o Blogay conversou com lésbicas “desclosetadas” – isto é, fora do armário – e perguntou coisas que sempre teve curiosidade de saber, para assim compreender melhor o universo e a poética que compõe o mundo das mulheres que amam outras mulheres. Afinal compreender é o princípio do respeito.

Milly Lacombe, jornalista e escritora

Blogay – Até onde é mito ou piada que no segundo dia as lésbicas já estão morando juntas, casadas? Se for verdade ou parte de uma verdade, por que isto acontece, na sua opinião?

Sim, as lésbicas vão morar juntas no segundo encontro. Verdade máxima. Obviamente, essa é a regra e para toda a regra há exceções. Mas aqui a característica não é de lésbicas, mas de mulheres. Mulher quer casar. Mulher hétero e mulher gay. É o que queremos. Acasalar. Quando duas mulheres estão numa relação, essa característica fica potencializada e não há a outra parte masculina para dizer: “casar? tá doida? nem pensar”.

O que é lesbian death bed (leito de morte lésbico)?

LBD é uma outra verdade. E, outra vez, é uma característica feminina e não apenas lésbica. Mulheres não transam como homens, quantitativamente falando. O que a gente quer é qualidade. Com a gente não existe: tirou, meteu, gozou. Levar uma mulher a sentir prazer é mais complicado, envolve carinho, afeto, preliminares, a relação fora da cama (outra vez, há exceções e há alguns dias de lua cheia, claro, que a gente quer apenas uma coisa rápida)… E o perigo é a preguiça invadir a relação e as mulheres se acomodarem, o que acontece bastante. Aí, a cama morre e a relação passa a ser a de duas amigas que sentem muito amor uma pela outra. Mas tenho que repetir que a grande diferença não é entre gays e héteros, mas sim entre homens e mulheres. Basta pensar nos casais héteros que conhecemos. Há exceções, mas na maioria das vezes as mulheres reclamam de terem que transar com a frequência que o cara quer. Duas mulheres juntas há algum tempo, mesmo levemente excitadas, muitas vezes deixam pra lá. Mas não vale para relações recentes. Nessas, o duro é tirar as mulheres de casa.

Por que você acredita que muita gente não leva a sério uma relação entre duas mulheres (acreditam no velho discurso preconceituoso de que não foram “bem comidas por um pau”) e no máximo aceitam a relação lésbica apenas como um fetiche do homem heterossexual?

Homens não entendem duas mulheres a não ser para fins de se deixar excitar. Acho que porque o “poder” que eles sentem vem do pau, não os permite enxergar muito longe nesse caso. Como assim há pessoas que simplesmente não querem um pau? Isso não pode existir, eles não entendem porque não faz parte dos símbolos e signos que formam o repertório deles. É como se fosse uma outra língua — escolha errada de palavra aqui ; )

Laura Bacellar, 52, editora de livros

Blogay – As lésbicas se vestem mal?

Sim, com certeza. Como não há uma grife para sapas, cada uma veste o que lhe dá na telha ou é mais confortável, com resultados estéticos beeeem variados, hehehe. Eu mais ainda, sou mestre no tenão (tênis) e na malha folgada.

Entre Camilla Paglia e Susan Sontag, qual você prefere? Por que?

Sontag, com certeza. Ela foi a única intelectual que eu conheço que resolveu partir para a ação, que em vez de ficar nas suas palestras na universidade, fez as malas e foi para a Bósnia no meio da guerra. E brigou com o governo americano sempre, tinha uma posição totalmente contra o medo do terrorismo. Pena que como sapa nunca se assumiu publicamente, apesar de viver anos e anos com a fotógrafa Annie Leibovitz.

Como está hoje a literatura com temática lésbica?  O que indica de leitura?

Está mediazinha. Pouca coisa sendo publicada, alguns romances independentes e algo pela Metanoia do Rio. Recomendo nossas crônicas supercríticas, “Frente e Verso – Visões da Lesbianidade”, da nossa Malagueta. Recomendo também “Eu Sou Uma Lésbica”, clássico maravilhoso de Cassandra Rios pela editora Azougue. Um bem fora da rota, que ninguém sabe que existe mas é bem escrito, é o “Tudo É Só Isso”, da Milly Lacombe publicado pela Benvirá. E bem na moda agora é o recente “Arte de Perder”, sobre Lota (de Macedo Soares) e (Elizabeth) Bishop, pela Leya.

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Restaurante solta comunicado e se desculpa sobre episódio de beijo lésbico http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/12/12/restaurante-solta-comunicado-e-se-desculpa-sobre-episodio-de-beijo-lesbico/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/12/12/restaurante-solta-comunicado-e-se-desculpa-sobre-episodio-de-beijo-lesbico/#comments Wed, 12 Dec 2012 14:00:29 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=996 O Blogay relatou no domingo, 9, o incidente que ocorreu em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo quando um casal de lésbicas resolveu deixar um restaurante – bastante frequentado por gays – depois do maitre condenar beijo. A assessoria do grupo Mercearia do Francês mandou um comunicado ao blog, na noite de terça-feira, 11, se desculpando pelo ocorrido.

Leia a íntegra:

“Cara Daniela e amigos,

Gostaríamos de nos desculpar pelo incidente na unidade de Higienópolis do Grupo Mercearia do Francês. Tratou-se de um fato isolado, que não reflete o padrão de atendimento da casa, que atende todas as pessoas sem discriminação de qualquer espécie. Nos comprometeremos a fazer um treinamento mais severo de equipe para assim evitar que incidentes como este se repitam.

Atenciosamente,

Grupo Mercearia do Francês”

Atitudes assim como a deste restaurante são extremamente bem-vindas,  vivemos uma época que a homofobia introjetada está saindo do armário e, muitas vezes, sem querer, por automatismo repete-se erros de uma vivência – de todos nós – marcada por um machismo e um preconceito contra homossexuais ensinados desde a infância como algo natural. O exercício de expurga-los é saudável e um pedido de desculpas é sempre um excelente sinal.

Sobre o beijo gay em publico só queria ressaltar alguns pontos:

– É uma manifestação de carinho e deve ser encarada como o beijo hétero em público.

– As crianças que assistirem a um beijo gay não ficarão traumatizadas, nem terão sua orientação sexual desviada por terem visto este ato, segundo psicólogos.

– Do mesmo modo que casais interraciais eram vistos como escandalosos  e despudorados na décadas de 1950 e 60 e por consequência seus beijos, o mesmo acontece hoje com os casais homossexuais.  Com o tempo, o beijo gay será visto com mais naturalidade, até por gays que condenam os beijos em público.

– Desculpem intolerantes, os gays não irão deixar de se beijar em público, pois para eles não é um ato de ódio ou de revolta, é simplesmente uma forma de demonstrar amor!

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A homofobia sutil: Casal de lésbicas resolve deixar restaurante depois de maitre condenar beijo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/12/09/a-homofobia-sutil-casal-de-lesbicas-resolve-deixar-restaurante-depois-de-maitre-condenar-beijo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/12/09/a-homofobia-sutil-casal-de-lesbicas-resolve-deixar-restaurante-depois-de-maitre-condenar-beijo/#comments Mon, 10 Dec 2012 01:40:47 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=993 Dois casais de lésbicas e um amigo heterossexual foram tomar um drink no começo da noite deste domingo, 9, na Mercearia do Francês, em Higienópolis, São Paulo. O beijo de um dos casais incomodou o maitre da casa. A sommelier Daniela Bravin, 37,  que estava junto do grupo e é moradora do bairro, relata o que ocorreu ao Blogay.

“Minhas amigas estavam se beijando, mas nada escandaloso, mas percebi que os garçons estavam evitando nos servir. Como moro na mesma rua e trabalho na rua acima, sou conhecida da região, o maitre resolveu me chamar de lado e logo começou com um discurso que aquilo não poderia acontecer no local. Pra mim foi notória a homofobia“, diz Bravin.

O grupo resolveu deixar o restaurante na hora. “O que eu acho um absurdo é que o lugar é frequentado por muitos gays”, finalizou.

Se a homofobia já é difícil de ser entendida por muitas pessoas, mesmo quando explicitada como no recente caso da agressão do estudante de direito André Baliera que foi agredido por dois brutamontes, teve três testemunhas que foram com ele na delegacia alegando ato de homofobia e mesmo assim teve gente que tentou diminuir o caso dizendo que esta alegação era “sensacionalista”. O que pensar de um ato como este em um restaurante com caráter tão “subjetivo”?

Mas é exatamente esta homofobia sutil, difícil de detectar, que está soterrada no lado mais obscuro da nossa sociedade, com uma violência sem grandes gravidades (físicas) mas cheia de cinismo que no fim gera atos como o que aconteceu em Pinheiros, da força bruta e da intimidação contra gays.  Em ambos os casos a homofobia é um ato de covardia!

O Blogay tentou entrar em contato com a Mercearia do Francês sem sucesso.

Casal de lésbicas se beija em tradição da Marinha americana pela primeira vez (U.S. Navy/Reuters)
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Comunismo e homofobia: o gay invisível http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/03/07/comunismo-e-homofobia-o-gay-invisivel/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/03/07/comunismo-e-homofobia-o-gay-invisivel/#comments Wed, 07 Mar 2012 23:30:07 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=118
Che Guevara (Montagem)

Dois fatos recentes em países que pertenceram ao chamado bloco comunista chamam a atenção. Primeiro: O presidente de Belarus Alexander Lukashenko disse: “Melhor ser um ditador a ser gay”, em resposta ao ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, homossexual assumido, que disse ser Belarus a última ditadura da Europa. Segundo: Políticos de São Petersburgo, na Rússia, aprovaram uma lei que “ações públicas dirigidas à propaganda da sodomia, lesbianismo, bissexualidade e transgeneridade entre menores” serão punidas com multas.

Apesar de situações distintas, elas têm o mesmo fundo, a homofobia construída por muitas décadas de comunismo, muito mais do que a alardeava pressão da Igreja Ortodoxa ou de um suposto ultranacionalismo (não que esses elementos também não colaborem para a homofobia desses países que um dia foram comunistas). Os países que pertenciam à antiga União Soviética tinham como política a visão que os homossexuais significavam a decadência do capitalismo e era um mal a ser combatido.

Claro que nem sempre foi assim, logo após a Revolução Comunista, Lênin aboliu a lei anti-sodomia, em 1918. Ali existia o ideal contra todas as opressões, principalmente contra as mulheres e as orientações sexuais. Os anos 1920 foram de certa tolerância, segundo relatos, mais para lésbicas do que para travestis e homens gays. Até que, em 7 de março de 1934, uma lei fixava pena de no mínimo três anos de prisão por relações sexuais entre homens. As ditaduras comunistas tornaram-se mais ditaduras e menos comunistas em certo sentido.

E esse modelo – que prega que os gays são agentes do capitalismo para a corrupção e subversão dos valores do proletariado – foi o seguido por todos os países que aderiram ao regime comunista autoritário. Diferente dos nazistas que tiveram bem documentados os presos com o triângulo rosa (símbolo dos homossexuais nos campos de concentração), essa mesma perspectiva não se tem em relação aos gays que foram enviados aos gulags da Sibéria e aos porões de Pequim, Havana e outros centros comunistas. Pouco se sabe sobre eles. Eles são quase que apagados da História de seus países. São jogados à invisibilidade.

Em Cuba, graças aos livros e depoimentos de Reinaldo Arenas, pode-se tentar construir a cena que milhares de homossexuais foram presos pelo simples fato de não serem héteros. Mas ele aponta para um outro ponto importante: Os homossexuais que sobreviveram nos regimes comunistas sem serem presos. O escritor Lezama Lima e o músico Bola de Nieve são dois exemplos. Este último, Arenas ironizou: “Ele era o cocheiro da revolução”.

Homossexuais, Lezama e Bola poderiam não ser incomodados enquanto sua sexualidade permanecesse invisível. Mas mesmo assim, isto teria um preço. Lembro que, em 1994, em uma viagem para Cuba, procurei durante dias pelas ruas de Havana o romance “Paradiso” de Lezama Lima e álbuns de Bola de Nieve em vão. Achei dois LPS em péssimo estado do cantor genial, muito diferente dos inúmeros livros e discos de Nicolás Guillén, mais adequado ao sistema de Castro na época. Isto quer dizer, a invisibilidade dos dois continuou presente mesmo depois deles mortos e reconhecidamente patrimônios da cultura cubana.

[youtube MXcIRwsmwuw nolink]

Mesmo com o importante mea-culpa de Fidel Castro em 2010, responsabilizando-se pela perseguição aos homossexuais nos anos 1960 e 70, mesmo com a China descriminalização a homossexualidade em 1997, o traço homofóbico dos regimes comunistas não se apagará de uma hora pra outra, por isso, é mais importante que nunca que os gays se tornem cada vez mais visíveis, aliás não só nesses países como também no nosso que nunca foi comunista, mas sempre foi autoritário.

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Em relação à Rússia e a lei de São Petersburgo, a organização All Out fez um vídeo, pedindo para mandar mensagens para o dirigente da cidade pedindo para que essa lei não seja implementada. Assista (legendas em português precisam ser ativadas):

[youtube Hmucr0l1wUA nolink]

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