Blogaydireitos – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Liberdade de expressão é uma via de mão dupla: o motorista de ônibus e as lésbicas http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/11/04/liberdade-de-expressao-e-uma-via-de-mao-dupla-o-motorista-de-onibus-e-as-lesbicas/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/11/04/liberdade-de-expressao-e-uma-via-de-mao-dupla-o-motorista-de-onibus-e-as-lesbicas/#comments Tue, 05 Nov 2013 01:50:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1478 Gabriela Pozzoli Cavalheiro e sua namorada foram xingadas por um motorista de ônibus por causa de suas orientações sexuais. A estudante de sociologia e política fez o seguinte relato para o Blogay:

“Eu e minha namorada fomos vítimas de injúria com caráter homofóbico no dia 30 de outubro. Às 9h35 da manhã, estávamos de mãos dadas aguardando o ônibus no ponto da Av. Rebouças, n° 2.288 (aproximadamente). Um ônibus da linha 7545-10, placa EFW-0618, sentido Centro, parou e o motorista disse de forma agressiva que ‘deveria pegar um ferro pra queimar essas sapatões’, ‘vocês vão pegar Aids’, entre outros xingamentos dessa estirpe.

Ligamos na SPTrans para fazer uma denúncia do ocorrido, e nos orientaram para entrarmos em contato com o Consórcio Sudoeste (telefone 0800110158), porém, senti que o atendente (Reginaldo, que não quis me passar seu sobrenome, tendo o nome portanto de Reginaldo Apenas) me tratou com descaso, falando que eu que deveria retornar a ligação pra saber o andamento e que eles não me ligariam. Além disso, minha namorada Luiza relatou que a atendente Rose perguntou o que estávamos fazendo, de maneira a entender que a culpa era nossa (das vítimas) por ter incitado alguma raiva homofóbica do motorista, além de falar que sem o número do ônibus não dava pra fazer muita coisa (esquisito).

No mínimo é um pouco ‘estranho’ ir atrás de um órgão que trata nossa denúncia como se fosse uma solicitação e que não disse que entraria em contato conosco e que nós, vítimas de uma violência em local público, deveríamos ir atrás do andamento da solicitação.

Já fiz B.O. eletrônico e uma denúncia no site da coordenadoria LGBT do Ministério da Justiça foi feita. A Defensoria entrou em contato comigo e o Ministério da Justiça também. Vamos levar esta denúncia adiante. Eles foram extremamente ligeiros pra entrar em contato conosco e oferecer seus serviços, dirimir dúvidas, ser parceiro mesmo nesse processo. Fiquei extremamente surpresa positivamente e grata.

Pretendemos entrar com ação penal, na vara cível (e o ressarcimento do dano moral doar para uma ONG ou entidade da área LGBT), além do processo administrativo”.

O relato de Gabriela traz dois importantes dados. Sua consciência de que possui direitos e que eles devem ser respeitados. O fato de procurar órgãos competentes para fazer a denúncia e assim ser totalmente ciente de sua cidadania – mesmo com as adversidades e o preconceito –  é o primeiro deles. O segundo é seu amplo entendimento do que é a tal liberdade de expressão. Enquanto intolerantes a enxergam como uma forma de poderem ter o direito de agredir minorias,  a liberdade de expressão, na verdade, é uma rua de mão dupla. Você pode até xingar um determinado grupo minoritário, mas isto acarretará em consequências pois a sua liberdade termina quando começa a do outro, já dizia o ditado popular.

Pelo fato ter acontecido com uma empresa ligada à Prefeitura de São Paulo, o Blogay procurou o Coordenador de Políticas para LGBT do município, Julian Rodrigues. Ele foi claro: “é um caso típico que pode ser denunciado no Centro de Combate à Homofobia, que fica no Pátio do Colégio, 5, Centro (os telefones são 11  3106-870/3105-4521 e o e-mail cch@prefeitura.sp.gov.br)”. E afirmou que tanto para a situação ocorrida com Gabriela como para os que procurarem  o centro para orientação sobre atos homofóbicos, eles têm uma estrutura jurídica disponível: “temos advogadas e assistentes sociais a disposição pra encaminhar imediatamente um caso desses”.

O blog também procurou a SPTrans para saber a posição da empresa e a assessoria informou que a resposta sairá de 5 a 7 dias.

Mais do que um caso isolado, Gabriela dá o exemplo de como minorias agredidas devem se comportar perante ofensas. E que a liberdade de expressão não é apenas daquele que ofende, mas principalmente do agredido.

(Bruno Poletti/Folhapress)
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Vadias de todo o mundo, uni-vos http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/05/25/vadias-de-todo-o-mundo-uni-vos/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/05/25/vadias-de-todo-o-mundo-uni-vos/#comments Sat, 25 May 2013 21:00:27 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1284 Neste sábado, 25, diversas cidades no mundo fizeram a chamada Marcha das Vadias.  A passeata surgiu quando um policial em uma palestra sugeriu que as mulheres não deveriam se vestir como vadias se não quisessem ser estupradas. Estava flagrado a vigilância pesada que elas, e por extensão as minorias, ainda sofrem. O medo de expressar afetividade (com direito a beijo na boca) entre pessoas do mesmo sexo em lugares públicos é da mesma ordem da que vigia as roupas que as mulheres devem vestir para estarem “adequadas”.

Marcha das Vadias, em São Paulo (Facebook/Clara Averbuck)

O machismo mata mulheres e LGBTs e já escrevi aqui que a luta contra a cultura machista é tanto das mulheres quanto dos gays. A cultura que crê na superioridade do homem é uma cultura que despreza a igualdade.

Não por acaso tinha muitos homossexuais na marcha e muito héteros que gostariam de se ver livre do machismo, pois ele é também opressor para muitos deles. Nem todos querem ter comportamentos escrotos para ganharem o selo de qualidade do “macho man”. E estavam todos usando saias, maquiados, abraçando suas namoradas, mostrando que é possível ser homem sem ser machista.

Esta dimensão de ter tanto homens héteros como gays em uma marcha feminista mostra esta nova fase que a luta pelos direitos humanos ganha no país. Graças a todo o movimento contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) acusado de racista e homofóbico, ficou evidente que a luta contra o racismo é a mesma que a contra homofobia e a que quer ver o machismo sepultado. Começamos olhar para cadeirantes e pessoas especiais sem termos mais distanciamento, afinal percebemos que para quem está no poder, as minorias são todas vadias. E nós gritamos na rua que sim, com muito orgulho.

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Cabras, bandidos e drogados http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/31/cabras-bandidos-e-drogados/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/03/31/cabras-bandidos-e-drogados/#comments Mon, 01 Apr 2013 00:30:17 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1203 Um jornalista de uma grande revista de circulação nacional comparou os homossexuais a cabras. Um pastor evangélico em entrevista na TV, por sua vez, ligou os gays aos bandidos. Uma cantora resolveu então fazer sua parte e correlacionou LGBTs a drogados.

De certa forma, mais do que dizer aos gays, estas comparações dizem muito sobre o pensamento destas pessoas. Para elas, os homossexuais ou não apresentam a condição de serem considerados humanos (são animais) ou se demonstram pertencimento à raça humana são como seres à margem da sociedade (os marginalizados).

Dizer que isto não é preconceito ou mais precisamente homofobia é agir de má fé ou ignorância.  Assim como é racismo os negros serem apontados como descendentes amaldiçoados de Noé como escreveu o atual presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara. E a desculpa que está escrito na Bíblia não retira a ação racista, pois trata-se de uma leitura possível entre tantas outras do livro sagrado das religiões judaico-cristãs. Até porque, se fosse a verdadeira, não teríamos tantas subdivisões dentro do próprio cristianismo.

Mas voltando ao assunto central, ao colocarem estas três comparações, estão também derrotando no discurso as suas próprias teses sobre ditatura gay, radicalidades dos LGBTs, ou o termo medonho “gayzismo”. Como pode-se estar no comando das coisas se ainda os homossexuais não são nem considerados seres  humanos ou quando o são, são aqueles que estão sem direitos e à margem. Oras, sabe-se muito claramente que cabras, bandidos e drogados não estão no mais alto poder de uma sociedade nem do Estado.

Por fim,  com estas comparações, eles acabam legitimando a luta pelos direitos gays, pois o que se quer não é nada mais nada menos que os LGBTs sejam reconhecidos – pelo Estado, em primeiro lugar – como pessoa humana em sua plenitude de direitos.

Joelma compara os homossexuais a drogados (Zanone Fraissat – 5.abr.09/Folhapress)
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Criminalizar a homofobia não é um ato decorativo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/09/criminalizar-a-homofobia-nao-e-um-ato-decorativo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/09/criminalizar-a-homofobia-nao-e-um-ato-decorativo/#comments Sat, 09 Jun 2012 18:00:44 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=449 A homofobia vem de berço, infelizmente. Somos todos contaminados um pouco mais ou um pouco menos por esta ação secular e cultural. “Homem não chora”, “homem não veste rosa” ou “homem não brinca de boneca” são informações impregnadas de homofobia que adquirimos e passamos adiante sem saber, nem questionar o seu valor autoritário [depois tem fundamentalista que vem chamar a PLC122 que criminaliza a homofobia de “lei da mordaça”].

Entretanto, a luta contra a homofobia que tem, no seu papel cívil, a importância de criminaliza-la – pois em sua radicalidade leva a atos extremos de violência e morte -, parece ser algo decorativo dos partidos políticos e dos  senhores sentados em cadeiras do Legislativo e Executivo.

Neste sábado, 9, o Uol publicou uma notícia que a gestão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não aplicou metade do orçamento de combate à homofobia.  Este é um exemplo entre inúmeros de como a luta contra a homofobia serve muito bem para o discurso e pouco na prática.

Nesta época de eleições, não temos um partido político, seja de direita ou de esquerda, que toque na questão da criminalização da homofobia ou no esclarecimento da PLC122. Assim como aconteceu com o Escola Sem Homofobia, o projeto de lei que irá de encontro ao alto índice de assassinatos de LGBTs no Brasil não recebe de nenhum partido político ou mesmo políticos, ou até movimentos LGBTs ligados aos partidos políticos, um discurso e práxis sistemáticas que  tentem desmontar a ideia de “lei da mordaça”, apregoada aos quatro ventos pelos conservadores. Repito: sistemático (não apenas um manifesto ali, depois de um tempo acolá), da mesma forma que os fundamentalistas injetaram na sociedade a ideia equivocada de “kit gay” ou “lei da mordaça”.

Falta coragem de lidar com a verdade? A PLC122 defende idosos , deficientes físicos também, porque isto nunca é (novamente) sistematicamente colocado nos discursos de resposta aos ataques que seria o projeto uma lei totalitária? A PLC122  sim é uma lei que protege os gays (no sentido genérico da palavra) e não podemos esconder isto, temos que nos orgulhar por esta luta. Mas protege também heterossexuais que não compactuam com certos modelos, estes sim, autoritários, que fazem com que um pai tenha sua orelha arrancada porque abraçou seu filho e foi confundido com casal de namorados, no interior de São Paulo, ou a aeromoça que, confundida com travesti, apanhou de um bando de pitboys, em Alagoas.

Dito isto, questões como o boicote à marca Avon por patrocinar um pastor homofóbico ou a luta pelo casamento igualitário não são de forma alguma  algo menor e nem devem ser desprezados. Sim, eles devem existir com toda a sua importância ao lado do combate da criminalização da homofobia. Mas o que se percebe, a impressão que se tem, é que a criminalização da homofobia virou algo menor que estas questões.

Toda a luta dos movimentos gays está sobre o guarda-chuva da homofobia. Criminalizá-la é resolver mais da metade delas e abrir brechas legais em outras como possíveis condenações a juízes que se negam a registrar o casamento de casais do mesmo sexo.  Então porque este medo, porque deixar esta bandeira que é primordial em segundo plano? Vamos sair do armário e tirar do armário a luta pela criminalização da homofobia, não como discurso, mas como atitude e ação primeira seja nos partidos políticos, nos movimentos LGBTs e em nós mesmos.

Preta Gil se manifestou pró PLC122 e você? (Reprodução/Twitter)
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Os gays também são vadias http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/26/os-gays-tambem-sao-vadias/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/26/os-gays-tambem-sao-vadias/#comments Sat, 26 May 2012 22:30:13 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=381
2ª Marcha das Vadias, em São Paulo (Zanone Fraissat/Folhapress)

Vadias de todo mundo, ou pelo menos do Brasil, uni-vos!

Neste sábado, 26, a Marcha das Vadias ganhou as ruas de 14 cidades brasileiras.  Manifestação importada do Canadá como forma de protesto a um policial que mandou umas jovens se vestirem com mais pudor, ganhou colorido nacional e carnavalizou-se perante o machismo latino-americano, onde o brasileiro aparece com orgulho (só que ao contrário) nas primeiras colocações.

Lindas, pintadas, livres, o sexo feminino “foi vadiar”, como bem cantava e fazia Clementina de Jesus, quem sabe a vanguarda do movimento feito pra vadiar.

Olhando as belas de todas as idades se colocando contra o pior do sexismo, aquele que quer colocar limites e um lugar para mulher,  é impossível não pensar que se tem uma luta que se assemelha ao dos homossexuais e transgêneros é a da mulher.

A condenação da promiscuidade dos gays se assemelha ao das mulheres e não ao dos homens héteros que “quanto mais rodados melhor”. A questão moral e asséptica em relação ao sexo é um fardo para a vida tanto das mulheres quanto dos gays que desejam ter liberdade, sexual inclusive.

Exatamente por isto é muito triste ver gays tentando defender a tal mentalidade que nos coloca como promíscuo – como se isto fosse algo errado, ruim, oras é apenas algo pessoal e independe de orientação sexual, isto é, se você é gay, hétero ou bi.

O escritor Ricardo Rocha Aguieiras escreveu um texto sobre um debate que aconteceu recentemente nas redes sociais sobre um remédio que pode evitar a Aids e que muitos militantes gays criticaram a sua divulgação pois poderia voltar com a promiscuidade.

“Muitos LGBT’s, militantes inclusive, defendem um comportamento ‘certinho’; ‘impecável’; ‘exemplar’ – teve até uma transexual defendendo a monogamia -, ‘bons costumes’, ‘fidelidade’; tudo muito lindo e limpinho, cartesiano, defendem o ‘correto’. Ok, nossa sociedade atual tornou-se extremamente conservadora e acabou repudiando importantes conquistas de liberdade, liberdade essa que tantos e tantas lutaram para conquistar no passado. Mas penso que LGBT’s não precisavam comprar esse conservadorismo de forma tão radical. E pergunto: Esse não é o mesmo discurso de todos os nossos opressores? A palavra ‘promiscuidade’ foi usada, desde sempre, para cercear a liberdade sexual. Sua, inclusive, não apenas a do próximo”, escreveu Aguieiras.

Este fato de internalizar o discurso do oponente ocorre com muita frequência com os gays como também entre as mulheres, principalmente com aquelas tristes mulheres que odeiam, não tem amizade e criticam as outras mulheres. As que não vadeiam.

Vendo as faixas da manifestação em São Paulo foi que vi como  as mulheres e gays estavam na mesma esfera de opressão. Basta trocarem algumas palavras que o sentido é o mesmo. A única que não podemos trocar é que somos todas vadias, com muito orgulho.

Minha orientação sexual / transexualidade não é um insulto (Zanone Fraissat/Folhapress)
Lugar de bicha é onde ela quiser (Zanone Fraissat/Folhapress)
Mais respeito, menos violência - este não muda nada (Zanone Fraissat/Folhapress)

PS1: Assim como as mulheres ainda passam apuros com certos tipos de roupa, os gays, principalmente os que se montam, sofrem também desta violência quando os senhores julgam que algo não está adequado seja na mulher, seja na bicha.

PS2: Ano que vem convido mais gays a entrarem na marcha. São nossas irmãs!

PS3: Não tem como não dar link para este texto de Xico Sá e as 10 vadias históricas do Brasil

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