Blogaytravesti – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Visibilidade trans: Três relatos (parte 3) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/visibilidade-trans-tres-relatos-parte-3/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/visibilidade-trans-tres-relatos-parte-3/#comments Sun, 17 Feb 2013 14:00:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1083 Quando levantada aqui no blog as questões sobre qual lugar os transgêneros teriam e devem ter na vida social montada em cima de um sistema binário, muitos responderam nos comentários que a questão era simples: se tem pênis, vai no banheiro/vestiário masculino e se tem vagina no feminino.

Ao afirmarem isto estão em total desrespeito sobre o que é ser transgênero, por ignorância ou má fé, não conseguem enxergar que a própria existência dos/das trans questiona o órgão sexual como definidor de seu gênero.

Grosso modo, o indivíduo trans se sente inadequado ou em desconformidade com o gênero que nasceu. Então nada mais obtuso e grosseiro do que falar quem tem tal órgão vai pra tal casinha e tudo certo. Estes com certeza não se interessam e querem se livrar rapidamente de um dilema que não conhecem pelo mais rasteiro senso comum.

Por isto o Blogay conversou com três trans femininas – que são as personagens que devem ser primeiramente escutadas. Elas contam o que acham de um terceiro banheiro e se já sofreram preconceito ao ir em um banheiro ou vestiário público

Samantha Aguiar (Reprodução/Facebook)

 Samantha Aguiar, transexual

Sim, sim, já sofri preconceito anos atrás num baile de Carnaval no extinto Palace [em São Paulo] depois de duas vezes que já tinha entrado no banheiro feminino, uma segurança pediu meu RG pra entrar no banheiro.

Mas não evito frequentar lugar nenhum com medo nenhum.

Não acho bacana criar banheiros pra trans… Um horror, as chacotas só aumentariam… Na Europa, em alguns clubes, sabiamente, os banheiros são UNISSEX. Uma trans feminina deve sim usar só o banheiro feminino. Eu só uso banheiro feminino, e essa historia do Palace foi a única na minha vida; e seria muito mais problema e alvoroço uma trans num banheiro masculino.

Viviany Beleboni (Reprodução/Facebook)

Viviany Beleboni, travesti

Nunca sofri preconceito [em banheiros e vestiários públicos], às vezes olhares mais perceptivos, algumas meninas olham e percebem , a maioria que percebe sorri e admira, muitas poucas olham com ar de deboche ou risos, pelo menos no meu caso.

Conheço muitas travestis que se sentem oprimidas em viver com a sociedade e se reprimem achando que não tem o direito de ir e vir, com medo de transfobia e humilhações seja em shoppings, bares ou baladas. Mas confesso, é muito frustrante você ir em algum lugar e as pessoas te olharem como algo de outro mundo ou rirem como se você não fosse para estar ali com elas. Isso já me aconteceu em baladas mas tiro de letra quando acontece.

Eu acho uma bobagem um banheiro para trans, uma travesti ou transexual, na minha opinião, não entraria nesse banheiro, porque ao entrar ou sair sofreria sim preconceito, eu até hoje como disse nunca vi nenhuma situação das mulheres se sentirem constrangidas, muito pelo contrário, a maioria elogia.

Lógico que eu uso o banheiro feminino, seria ridículo e completamente constrangedor para nós travestis, uma por que ao entrar seríamos motivos de chacotas, risos, deboches, e até vitima de transfobia, pois vivemos em um pais muito machista e hipócrita onde a maioria sai [sexualmente] com trans e ao falar sobre o assunto eles dizem completamente o contrário. E até mesmo se precisam, eles [os que saem com trans] xingam falando que é errado.

É muito mais discreto você entrar em um banheiro feminino, é muito mais confortável você entrar com suas amigas mulheres ou trans.

Bianca Soares (Reprodução/Facebook)

Bianca Soares, transexual

Sofri preconceito não como trans, mas como gay vestida de mulher há muito tempo. A recepcionista do banheiro ou seja a encarregada da limpeza falou para eu ir no banheiro masculino, lógico que não fui. Hoje em dia não (sofro preconceito em banheiros públicos) porque sou muito segura de mim e tenho as leis do Brasil a meu favor. ufa!

Sou contra o banheiro para trans. Acho puro preconceito, óbvio que tem que ser o feminino afinal sou uma mulher (Bianca conseguiu seu registro social, isto é trocar seu nome da certidão nos documentos para um nome feminino há oito meses) e vou no banheiro não para ficar caçando ou vendo mulher pelada, idem o transexual masculino . Óbvio que uma trans feminina, educada, que tem índole prefira o feminino porque o objetivo do banheiro é o mesmo pra um hétero educado e íntegro.

Quando Bianca diz que tem as leis a seu favor, ela esta se referindo às mesmas que Laerte na entrevista anterior citou, a lei estadual 10948 (se você não morar no estado de São Paulo, informe-se se não existe nenhuma lei análoga em seu estado ou município). Clique aqui para saber mais.

Leia a parte 1 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

Leia a parte 2 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

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Transfobia: Travestis são mortas na Grande Goiânia e transexual é barrada em casa de eventos no interior de São Paulo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/07/transfobia-travestis-sao-mortos-na-grande-goiania-e-transexual-e-barrada-em-casa-noturna-no-interior-de-sao-paulo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/07/transfobia-travestis-sao-mortos-na-grande-goiania-e-transexual-e-barrada-em-casa-noturna-no-interior-de-sao-paulo/#comments Sat, 08 Sep 2012 02:50:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=821 Na madrugada de sexta-feira, 7, três travestis foram assassinadas  em Aparecida de Goiânia, na Grade Goiânia. Elas foram fuziladas por homens armados. Uma outra travesti foi esfaqueada em outra cidade próxima, Hidrolândia, em um posto de gasolina.

As quatro supostamente se prostituíam pois esta é uma realidade e uma solução para grande parte das travestis que são expulsas de casa sem nenhum tipo de ajuda da família, que as renegam veementemente. O fato só muda quando muitas conseguem, além de sobreviver, mudar de país e ganhar muito dinheiro com a prostituição no exterior. Ao voltar para o Brasil, em geral, compram a casa dos familiares e os sustentam. Neste momento, o que era vergonha vira esquecimento ( de que tem um(a) transgênero na família) e silêncio.

Mas existe um outro silêncio, o silêncio da humilhação que é uma coisa que muitos transgêneros estão resolvendo quebrar. Nesta mesma sexta-feira, rodou pelas redes sociais o desabafo da transexual Jessyca Dias:

“Eu, Jessyca Dias, 27 anos, Transexual desde os 18 anos, fui vitima da mais abjeta transfobia num estabelecimento chamado Rancho Jundiaí [em Jundiaí, interior de São Paulo]. Ao chegar na entrada do estabelecimento com minhas amigas, a segurança pediu meu RG. Quando viu que o documento constava ainda o nome de homem, a segurança disse que eu não poderia entrar e que eram ordens da casa. Indignada, disse que ela não podia me impedir pelo fato de eu ser transexual, pois aquilo era preconceito. Nesse momento, a segurança chamou um outro colega que perguntou se eu estava com as meninas, que estavam ao meu lado. Ao confirmar, o segurança me deixou entrar. Na bilheteria reclamei do ocorrido com a moça que recebia o meu dinheiro e ela disse que a atitude de não deixar entrar travestis e transexuais estava correta.

Ao entrar na casa, fui falar com o dono do evento, de nome Edson Del Roy . Ele disse que estava proibida a presença de travestis e transexuais, pois elas usam vestimentas inadequadas para o local, como vestidos, blusinhas e saias curtas. Quando falei que as mulheres que frequentavam o local se vestiam da mesma maneira, ele disse que eu não podia ser comparada a uma mulher. Ao final, disse que iria buscar meus direitos, e ele com a voz já alterada, disse que não se importava com isso. A conversa encerrou-se ali.

Minha noite de diversão acabou. Me senti ultrajada, humilhada. Desde que me assumi, como transexual, nunca tinha passado por isso. […] Informo também que estarei tomando todas as medidas, judiciais e extra judiciais, contra o estabelecimento e contra o dono do evento. É obrigação de cada LGBT, que foi violentado em sua honra e dignidade, ir até as ultimas consequências para obter Justiça!”

A análise desta situação é melhor descrita pela filósofa Marilena Chauí em sua fala no debate “A Ascensão Conservadora”, que aconteceu no final de agosto, em São Paulo. “A sociedade brasileira é extremamente violenta e tem a tendência a situar a violência apenas na região da criminalidade e, de não perceber, que a violência é toda a violação física e psíquica que você faz contra a natureza de alguém. Ora, uma sociedade que trata seres humanos que são racionais, dotados de sensibilidade e dotados de linguagem como se eles fossem coisas, portanto irracionais, mudos, inertes e passivos, é o grau máximo da violência porque você não reconhece a humanidade do outro”.

O Blogay tentou contato com o estabelecimento sem sucesso.

Os dois casos acima mostram o alto grau de transfobia que a sociedade brasileira ainda teima em se enlamear.  Como já escrevi algumas vezes aqui no blog, os transgêneros estão na vanguarda, no sentido de estarem na linha de frente na batalha contra os intolerantes e, estando nesta posição, são as primeiras a levar as pedradas.

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Mas nem tudo é ruína, ainda temos algumas brechas de uma possível sociedade mais inclusiva e generosa. A revista “Trip”, por exemplo, escolheu a modelo transexual Carol Marra para ser sua “trip girl” deste mês.

Carol Marra (Marcio Simnch – Revista Trip)
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Rio Grande do Sul é o primeiro estado brasileiro a admitir o nome social dos transgêneros http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/17/rio-grande-do-sul-e-o-primeiro-estado-brasileiro-a-admitir-o-nome-social-dos-transgeneros/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/17/rio-grande-do-sul-e-o-primeiro-estado-brasileiro-a-admitir-o-nome-social-dos-transgeneros/#comments Sat, 18 Aug 2012 02:00:43 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=728
Roberta Close (Divulgação)

 

Roberta Close só pode trocar o nome de nascença, Luís Roberto Gambine Moreira, finalmente para Roberta Gambine Moreira, em 2005. 15 anos depois de sua cirurgia de redesignação sexual e 41 de seu nascimento.

La Close já era muito famosa no país desde os anos 1980 e nem este fato facilitou a burocracia da humilhação. Bom, pelo menos ela conseguiu o que chamamos de o nome social, isto é, ter o direito de ter documentos que correspondam com sua identidade de gênero. Exemplo: uma transexual que nasceu Thiago pode mudar o nome para Tyra ou Bárbara.

O preconceito com os transgêneros passa por esta questão fundamental. Ela começa principalmente na hora de apresentar algum documento. É um constrangimento proposital e policialesco, pois é também uma forma de punir aqueles que ousam ultrapassar e mostrar que as barreiras entre masculino e feminino não são fixas e imóveis.

O Rio Grande do Sul é pioneiro no país contra esta perversão e emite, desde este mês, a Carteira de Nome Social (CNS). É uma forma de pressionar que órgãos públicos aceitem  o novo documento.  É também o reconhecimento civil da existência dos transgêneros , já que existimos para o Estado a partir do momento que temos um nome e um documento com este nome.

Neste mesmo estado, mais de uma década atrás, aprovou-se a pensão para um companheiro do mesmo sexo que perdeu seu marido, rumando depois para a afirmação legal da parceria civil de um casal gay.  Hoje, o Supremo Tribunal Federal recomenda que este tipo de união seja reconhecido legalmente.

É um pequeno passo para um grande futuro.

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Suposta travesti é encontrada carbonizada em Lençóis Paulista http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/07/suposta-travesti-e-encontrado-carbonizado-em-lencois-paulistas/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/07/suposta-travesti-e-encontrado-carbonizado-em-lencois-paulistas/#comments Sat, 07 Jul 2012 22:18:28 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=560 O corpo de um homem tatuado – ainda não identificado – vestido com roupas femininas foi encontrado carbonizado numa região rural próxima de Macatuba, em Lençóis Paulista. A Polícia Civil suspeita que possa ser uma travesti e trabalha com a possibilidade de ser um homicídio. As informações são da versão online do Jornal da Cidade, de Bauru, neste sábado, 7.

Os funcionários de uma empresa de celulose foram acionados às 6h deste sábado pois teria um foco de incêndio na propriedade. No meio da plantação de eucaliptos, encontraram o corpo.

Se confirmado ser o corpo de uma travesti, este será o terceiro caso de assassinato de homossexuais na região de Bauru este ano, colocando o Estado de São Paulo em primeiro lugar no Brasil em crimes homofóbicos.

Antes que o senso comum relinche por aqui dizendo que também mata-se velhos, mulheres, homens e crianças em número muito maior, o fato é que a princípio o motivo dos assassinatos não é porque  se é velho, homem, mulher ou criança, diferentes dos gays, lésbicas e travestis que o fato de ser homossexual é a premissa para intolerantes cometerem crimes hediondos.

Militante faz ato simbólico em nome das travestis assassinadas no país (Vitor Angelo)

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Mademoiselle é a primeira rapper travesti do Brasil http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/03/mademoiselle-e-a-primeira-rapper-travesti-do-brasil/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/03/mademoiselle-e-a-primeira-rapper-travesti-do-brasil/#comments Thu, 03 May 2012 22:00:14 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=297
A rapper Mademoiselle (Divulgação)

Quando o rap nasceu, nas profundidades do Bronx, já surgia ali dois elementos que parecem estar em sua essência: a diversidade e a contestação. Estavam ali, no “Planet Rock”, o globo terrestre musical que poderia unir os alemães do Kraftwerk com jamaicanos como Kool Herc e seus sound systems. Do que era diverso, saiu toda uma poética de protesto e uma ação afirmativa ao retratar a vida de uma minoria que, mesmo depois de mais de um século de abolição, ainda vivia em condições quase escravas.

O rap une periferias do mundo e é a música que rima com excluídos. Então não seria estranho outras minorias excluídas sentirem-se atraídas por esta forma de poesia e ritmo. É por esta e outras razões que Mademoiselle Lulu Mon’Amour, de Goiânia, é a primeira rapper travesti do Brasil.

Claro que, assim como o rap é uma espécie de documentário musical de uma certa realidade, a vivência de Mademoiselle como travesti não poderia estar de fora de suas composições. Temas como a homofobia e o preconceito fazem parte de sua “diss” (canção de insatisfação).

“O movimento [hip hop] ainda carrega o machismo e os rappers ainda são sim muito machistas. Acho lastimável!” diz ela em sua página do Soundcloud. “Se para as mulheres em cena no movimento já era difícil serem ouvidas pra mim é apenas uma etapa a ser vencida! Meu som é pra todas as manas, mulheres guerreiras e batalhadoras, gays, lésbicas ou qualquer pessoa que já sentiu desconforto, desprezo ou humilhação com qualquer preconceito seja de teor racial ou sexual imposto pela sociedade.”

Solta a poesia, Mademoiselle!

[youtube tzG8YbyQG7A nolink]

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