Blogaytransgêneros – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Transgêneros no mercado de trabalho http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/01/29/transgeneros-no-mercado-de-trabalho/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/01/29/transgeneros-no-mercado-de-trabalho/#comments Wed, 29 Jan 2014 18:30:05 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1589 Existem muitas questões e conquistas que travestis e transexuais ainda precisam alcançar e adquirir, mas uma central diz respeito ao trabalho. Sabemos que no nosso mundo capitalista, as minorias conseguiram certo respeito, status e inserção através do poder do capital. Negros americanos endinheirados do rap ou o chamado “pink money” estão aí que provar a tese. Sim, vivemos no mundo que o dinheiro traz “aceitação” e ele se consegue, a princípio, através do trabalho.  Negar trabalho para este segmento é coloca-lo à margem e dificultar sua aceitação social.

Transgêneros geralmente são expulsos cedo de casa e acabam encontrando pouquíssimas oportunidades de trabalho, em geral, relacionadas à prostituição. São raras as exceções que conseguem sair da condição de exercer profissões marginalizadas.  Geralmente, por serem expulsas de casa muito jovens não completam os estudos, tem baixa escolaridade e as oportunidades de emprego são ínfimas. Mas quem se importa?, dirão os fundamentalistas do alto de suas intolerâncias. Pois um grupo de jovens estudantes da Cásper Líbero se importa e, apesar do total desconhecimento inicial sobre o tema, foram a campo para entender e contribuir ao debate sobre o mercado de trabalho, ainda insípido, para travestis e transexuais.

Com o trabalho “Trasposição”, os alunos Amanda Caleffi Secco, Gabriela Nunes de Almeida, Rafael Perecin Foltram e Thais Lee tornaram visíveis as trans que estão no mercado de trabalho para além do chavão da prostituição, empresas que empregam transgêneros e também a transfobia velada e aberta, além de questões como o banheiro a ser usado.

Transposição

È um trabalho importante e interessante, raro no panorama videográfico brasileiro, a começar pela dignidade que eles dão para as e os trans retratados, a câmera nunca é alta ou baixa, está sempre no nível do diálogo, cara a cara, até porque eles querem dialogar com o assunto e não provar uma tese, esta é uma das muitas riquezas do vídeo e um excelente presente para este dia 29 de janeiro, o Dia da Visibilidade Trans.

Veja o vídeo abaixo:

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Visibilidade trans: Três relatos (parte 3) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/visibilidade-trans-tres-relatos-parte-3/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/17/visibilidade-trans-tres-relatos-parte-3/#comments Sun, 17 Feb 2013 14:00:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1083 Quando levantada aqui no blog as questões sobre qual lugar os transgêneros teriam e devem ter na vida social montada em cima de um sistema binário, muitos responderam nos comentários que a questão era simples: se tem pênis, vai no banheiro/vestiário masculino e se tem vagina no feminino.

Ao afirmarem isto estão em total desrespeito sobre o que é ser transgênero, por ignorância ou má fé, não conseguem enxergar que a própria existência dos/das trans questiona o órgão sexual como definidor de seu gênero.

Grosso modo, o indivíduo trans se sente inadequado ou em desconformidade com o gênero que nasceu. Então nada mais obtuso e grosseiro do que falar quem tem tal órgão vai pra tal casinha e tudo certo. Estes com certeza não se interessam e querem se livrar rapidamente de um dilema que não conhecem pelo mais rasteiro senso comum.

Por isto o Blogay conversou com três trans femininas – que são as personagens que devem ser primeiramente escutadas. Elas contam o que acham de um terceiro banheiro e se já sofreram preconceito ao ir em um banheiro ou vestiário público

Samantha Aguiar (Reprodução/Facebook)

 Samantha Aguiar, transexual

Sim, sim, já sofri preconceito anos atrás num baile de Carnaval no extinto Palace [em São Paulo] depois de duas vezes que já tinha entrado no banheiro feminino, uma segurança pediu meu RG pra entrar no banheiro.

Mas não evito frequentar lugar nenhum com medo nenhum.

Não acho bacana criar banheiros pra trans… Um horror, as chacotas só aumentariam… Na Europa, em alguns clubes, sabiamente, os banheiros são UNISSEX. Uma trans feminina deve sim usar só o banheiro feminino. Eu só uso banheiro feminino, e essa historia do Palace foi a única na minha vida; e seria muito mais problema e alvoroço uma trans num banheiro masculino.

Viviany Beleboni (Reprodução/Facebook)

Viviany Beleboni, travesti

Nunca sofri preconceito [em banheiros e vestiários públicos], às vezes olhares mais perceptivos, algumas meninas olham e percebem , a maioria que percebe sorri e admira, muitas poucas olham com ar de deboche ou risos, pelo menos no meu caso.

Conheço muitas travestis que se sentem oprimidas em viver com a sociedade e se reprimem achando que não tem o direito de ir e vir, com medo de transfobia e humilhações seja em shoppings, bares ou baladas. Mas confesso, é muito frustrante você ir em algum lugar e as pessoas te olharem como algo de outro mundo ou rirem como se você não fosse para estar ali com elas. Isso já me aconteceu em baladas mas tiro de letra quando acontece.

Eu acho uma bobagem um banheiro para trans, uma travesti ou transexual, na minha opinião, não entraria nesse banheiro, porque ao entrar ou sair sofreria sim preconceito, eu até hoje como disse nunca vi nenhuma situação das mulheres se sentirem constrangidas, muito pelo contrário, a maioria elogia.

Lógico que eu uso o banheiro feminino, seria ridículo e completamente constrangedor para nós travestis, uma por que ao entrar seríamos motivos de chacotas, risos, deboches, e até vitima de transfobia, pois vivemos em um pais muito machista e hipócrita onde a maioria sai [sexualmente] com trans e ao falar sobre o assunto eles dizem completamente o contrário. E até mesmo se precisam, eles [os que saem com trans] xingam falando que é errado.

É muito mais discreto você entrar em um banheiro feminino, é muito mais confortável você entrar com suas amigas mulheres ou trans.

Bianca Soares (Reprodução/Facebook)

Bianca Soares, transexual

Sofri preconceito não como trans, mas como gay vestida de mulher há muito tempo. A recepcionista do banheiro ou seja a encarregada da limpeza falou para eu ir no banheiro masculino, lógico que não fui. Hoje em dia não (sofro preconceito em banheiros públicos) porque sou muito segura de mim e tenho as leis do Brasil a meu favor. ufa!

Sou contra o banheiro para trans. Acho puro preconceito, óbvio que tem que ser o feminino afinal sou uma mulher (Bianca conseguiu seu registro social, isto é trocar seu nome da certidão nos documentos para um nome feminino há oito meses) e vou no banheiro não para ficar caçando ou vendo mulher pelada, idem o transexual masculino . Óbvio que uma trans feminina, educada, que tem índole prefira o feminino porque o objetivo do banheiro é o mesmo pra um hétero educado e íntegro.

Quando Bianca diz que tem as leis a seu favor, ela esta se referindo às mesmas que Laerte na entrevista anterior citou, a lei estadual 10948 (se você não morar no estado de São Paulo, informe-se se não existe nenhuma lei análoga em seu estado ou município). Clique aqui para saber mais.

Leia a parte 1 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

Leia a parte 2 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

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Visibilidade trans: O 3º banheiro é um modo de fugir do problema aparentando resolvê-lo (parte 2) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/04/visibilidade-trans-o-3o-banheiro-e-um-modo-de-fugir-do-problema-aparentando-resolve-lo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/04/visibilidade-trans-o-3o-banheiro-e-um-modo-de-fugir-do-problema-aparentando-resolve-lo/#comments Mon, 04 Feb 2013 22:30:44 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1062 Colocada a questão do não lugar social na transexualidade e o caso de Ranata Bastos, que em sua ida ao clube municipal do Pacaembu, em São Paulo, para ir à piscina, acabou sendo encaminhada para um vestiário masculino quando, com peitos e aparência feminina se sente mais à vontade frequentando o que é reservado para mulheres, surge a questão do terceiro banheiro.

Muitos acreditam nele como uma via para resolver o problema, já que um dos argumentos ao debate é que mulheres se sentem mal na presença de transgêneros no mesmo banheiro.

A travesti Laerte Coutinho, cartunista da Folha, desmonta estes dois pontos e levanta outras questões em entrevista para o Blogay. Laerte foi protagonista de um episódio semelhante em relação ao banheiro feminino em um restaurante.

Blogay – Quando ocorreu um caso semelhante contigo em um restaurante que reclamaram que você usou o banheiro feminino, houve uma proposta de um banheiro para trans, o que você se colocou contra. Por quê?

Laerte Coutinho – O vereador Carlos Apolinário (DEM-SP) propôs essa “saída” de um terceiro banheiro, que seria inclusive proibido para “crianças desacompanhadas” (está no projeto dele, juro)… Sou contra, porque é uma iniciativa que busca a segregação de uma parte da população – que busca sacramentar o estranhamento gerado pelo preconceito de que essa população é alvo. Semelhante a isso foi a criação do “vagão para mulheres” no metrô do Rio (de onde, aliás, duas mulheres trans foram retiradas a força há poucos dias). Uma pseudo-solução, que só consagra a segregação e deixa impune e livre a violência sexual praticada no transporte público. Acho que numa escola de samba também se criou um 3º banheiro, como “solução”. É e sempre será um modo de fugir do problema aparentando resolvê-lo e, pelo contrário, eternizando-o.

Um/uma trans feminina ou masculino deve – em cada caso – usar o banheiro masculino ou feminino? Por quê?

A pessoa deve usar o banheiro que lhe pareça mais adequado. Como meta a ser buscada, banheiros públicos devem ser limpos e confortáveis – e não divididos por gênero, algo sem nenhum sentido sob a luz dos motivos para os quais foram criados.

Seres humanos excretam de forma idêntica, machos ou fêmeas. O uso de mictório vertical, que é tão invocado pela argumentação dos conservadores, é detalhe ridículo. Mulheres, muito frequentemente, mijam sem encostar no assento – é só perguntar. Mictórios à luz do dia, onde o usuário pode ser visto por todos, são usados em várias partes do mundo, inclusive no Rio de Janeiro. A Argentina começou a abolir a divisão por gênero de banheiros públicos – justamente como decorrência da lei de livre identidade de gênero no país.

Um dos argumentos usados contra esta liberdade de escolha dos transexuais é que uma trans feminina pode chocar as mulheres que estejam no mesmo banheiro. Como desmontar este argumento?

Uma mulher “genética” que não corresponda fisicamente ao modelo de gênero feminino pode chocar as mulheres.  Uma lésbica “visível” pode chocar as mulheres. Em que se baseia esse choque? Na possibilidade de uma agressão, seja em forma de violência física, seja em forma de assédio agressivo. E, afinal, quem são essas mulheres-vítima?

Por que devemos considerar a proteção de uma reserva de mulheres “100% mulheres”, como diria a entrevistadora da Lea T. no Fantástico (exibido do dia 27 de janeiro deste ano), se a humanidade tem uma riqueza de representações de gênero tão vasta? E é realmente considerável a hipótese de agressões no banheiro público? Não deveríamos lembrar que a maior parte das agressões e estupros sofridos pela população feminina se dá nos seus lares e imediações, praticados por maridos, familiares, vizinhos?

Tudo isso leva a crer que esse choque/medo de ameaças (frequentemente incrementado pela presença de “crianças inocentes”) é muito mais um mito a serviço da construção permanente da cultura de gênero binária [o mundo dividido estritamente em masculino e feminino].

Laerte lembra existe uma lei que protege os transgêneros neste sentido. “Aprendi com a minha experiência (o episódio do restaurante) que a nossa presença no banheiro que consideramos adequado é garantida pela lei estadual 10948.” Clique aqui para saber mais.

PS: No post seguinte, outras transgêneros opinam sobre estas questões e contam casos de enfrentamento deste problema.

Laerte Coutinho (Leticia Moreira/Folhapress)
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Visibilidade trans: O fim do não lugar (parte 1) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/01/visibilidade-trans-o-fim-do-nao-lugar-parte-1/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/01/visibilidade-trans-o-fim-do-nao-lugar-parte-1/#comments Fri, 01 Feb 2013 16:00:47 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1054 Durante muito tempo, a transexualidade foi colocada à margem da sociedade , como algo a ser escondido, ou pior, esquecido. Como era algo que não se encaixa no mundo binário masculino e feminino, pois quebra as barreiras do que define o que é ser homem e o que é ser mulher,  além de questionar estes conceitos, foi melhor tratar as(os) trangêneros como uma anomalia. E com isto, tirá-las(os) de qualquer debate sobre qual é o lugar deles (delas) ou o lugar que eles(elas) desejam ter na vida social foi uma solução que funcionou por um certo período. Marginalizá-los(as) foi a “melhor solução”.

Muitas vezes expulsas(os) de casa logo muito cedo, nas escolas sendo um dos alvos preferenciais do bullying, as(os) trans acabavam sem espaços que não numa certa marginalidade para onde eram guetizadas(os).

São poucos, mas cada vez mais crescente o número de trans com ensino superior, algum cargo de comando como síndico(a) ou vereador(a) e outras profissões que não a prostituição, outro estigma (longe de qualquer moralismo) que envolve a vida trans e que, dentro do senso comum da nossa sociedade, é sinal de marginalidade. Mas estes cidadãos e, acima de tudo, seres humanos começaram a ganhar cada vez mais voz fora dos guetos.

Com isto, o não lugar social que estava reservado para (os)as transgêneros não faz mais sentido e nem serve mais para que elas(eles) se sintam protegidas(os).  Eles(elas) querem viver em sociedade, mas em um mundo separado entre homem e mulher, qual o lugar daqueles que não se encaixam com perfeição nesta divisão? Sim, o mundo é formado por homens e mulheres (dirão os mais óbvios e os mais conservadores), mas com a transexualidade não será o momento de alargarmos este conceito?

Renata Bastos, vendedora e hostess, que hoje se considera travesti – antes ela se recusava a definir sua identidade de gênero -, frequentava o clube Pacaembu, em São Paulo, como menino. Apesar de muito feminina e a maioria das vezes andar como menina, aliás, até dormir de baby-doll, ela usava sunga e frequentava o vestiário masculino. “Fazia uma linha Fernando Gabeira”, brinca ela ao relatar o caso para o Blogay.

Faz um ano e pouco que ela começou a tomar hormônios, seus peitos cresceram e se sentiu mais confortável usar o vestiário feminino. Ela fez exame médico com sua identidade no sexo masculino, mas trajando biquíni. O mesmo aconteceu quando passou pela catraca do vestiário feminino, a moça viu sua identidade mas nada comentou.  Foi depois de um tempo que estava na psicina que começou um buchicho e um salva-vidas veio falar com ela pedindo para que se trocasse no vestiário masculino já que a identidade de carteira dela era masculina.

Ela narra que ele foi extremamente educado e disse que aquilo era uma situação nova pra ele. Esta ”situação nova” é o que mais me chamou a atenção (e não me venham os imbecis da naturalidade falar que isto não existe porque não é natural, estes mesmos que usam computador, geladeira, dirigem carros, objetos que estão longe do que é natural exatamente no sentido tacanho que usam a palavra). Realmente, o mundo antes estava separado por gêneros identificados por seus RGs e os(as) transgêneros estavam totalmente à margem disto.

Ela, Renata, gostaria de frequentar o clube, mas se sente constrangida agora.  Segundo ela, não pelo clube, mas porque se sente deslocada, está de volta a um não lugar social pois não se sente bem no masculino (acredita que pode ser alvo de agressão verbal ou física), e o salva-vidas falou que algumas mulheres ficaram incomodadas com a sua presença no vestiário feminino, apesar dela sempre – tanto no masculino como no feminino se trocar no reservado.

O que fazer? Muitas dúvidas e apenas uma certeza: este impasse, este não lugar é o único lugar que ela não pode voltar a frequentar.

PS: No post seguinte, Laerte Coutinho e outras transgêneros debatem a questão.

Renata Bastos (Reprodução/Facebook)
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‘Glitter – Em Busca de um Sonho’ é o primeiro reality gay do Brasil http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/10/19/glitter-em-busca-de-um-sonho-e-o-primeiro-reality-gay-do-brasil/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/10/19/glitter-em-busca-de-um-sonho-e-o-primeiro-reality-gay-do-brasil/#comments Fri, 19 Oct 2012 22:50:10 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=947
As participantes de “Glitter” com a apresentadora Lena Oxa e Ênio Carlos (Divulgação)

“Vai ser choque de monstro”, “apenas meu silêncio pra você”, “não se engane comigo porque dois e dois pode ser três”. Alguns destes termos começam a circular no meio LGBT e de onde eles vieram? De  “Glitter – Em Busca de um Sonho”. Sim, o primeiro reality show feito no país apenas com gays, travestis e drags. E se engana quem acha que é algo que saiu do “moderninho” eixo Rio-São Paulo. O reality acontece dentro do programa do apresentador Ênio Carlos, na TV Diário, em Fortaleza. Ele também é apresentado pela travesti Lena Oxa.

Aliás, foi ela que teve a ideia do reality que é sucesso local e também na internet. O blog da Katylene, por exemplo, tem acompanhado cada capítulo assim que ele é postado no YouTube. Oxa contou ao Blogay em entrevista por telefone que “desde 2005, o mundo das transformistas estava parado em Fortaleza, daí pensei na ideia de fazer um BBB cearense mas apenas com trans, travestis, drags, go go boys.”

[youtube b09hjtSArus nolink]

Ela admite que o nordestino é muito homofóbico. “O gay aqui é uma coisa louca, sofre muito preconceito”, diz a travesti que já militou no GGB (Grupo Gay da Bahia) e participou de um associação de travestis em Salvador. Porém, a sua ideia de um reality show LGBT teve uma enorme receptividade por parte de Carlos e sua equipe. “Ênio é hétero e tem todo cuidado com as meninas, ele pergunta como querem que elas sejam chamadas, se tudo bem dizer tal coisa.”

E com o programa no ar, um burburinho começou a se formar nas ruas de Fortaleza. “As pessoas estão adorando, torcendo, tem participante que tem até fã clube agora”, diz Oxa.

[youtube d2PLpSjE4Og nolink]

São dez sexodiversos que participam do quadro que encerra o programa e fica em um bloco de 40 minutos. A cada semana, uma é eliminada. “O prêmio é a realização de um sonho, tem desde fazer um cruzeiro, reformar a casa, ter um imóvel próprio, mas a grande maioria quer abrir um salão de beleza”, conta a apresentadora.

Ela revelou para o blog que o sucesso está tão grande que o programa aumentou, terminará só no dia 16 de dezembro. Além disso, terá repescagem e alguma das participantes que foi eliminada retornará para a competição.

Oxa também pretende que um dos quadros seja com a presença dos familiares das competidoras. “Para tirar o estigma [de que gay é sempre rejeita pelos parentes], ampliar o universo porque apesar de toda a loucura que elas fazem, elas têm uma família que as apoia e incentiva”.

O pajubá das bees é outro atrativo de um programa divertido, non sense e muito tolerante. Choque de monstro!

Veja os vídeos com os resumos abaixo:

[youtube JlKJGL-Khx0 nolink]

[youtube fpmbzgGV3Tc nolink]

[youtube Ez5L5AvizOk nolink]

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Transfobia: Travestis são mortas na Grande Goiânia e transexual é barrada em casa de eventos no interior de São Paulo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/07/transfobia-travestis-sao-mortos-na-grande-goiania-e-transexual-e-barrada-em-casa-noturna-no-interior-de-sao-paulo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/07/transfobia-travestis-sao-mortos-na-grande-goiania-e-transexual-e-barrada-em-casa-noturna-no-interior-de-sao-paulo/#comments Sat, 08 Sep 2012 02:50:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=821 Na madrugada de sexta-feira, 7, três travestis foram assassinadas  em Aparecida de Goiânia, na Grade Goiânia. Elas foram fuziladas por homens armados. Uma outra travesti foi esfaqueada em outra cidade próxima, Hidrolândia, em um posto de gasolina.

As quatro supostamente se prostituíam pois esta é uma realidade e uma solução para grande parte das travestis que são expulsas de casa sem nenhum tipo de ajuda da família, que as renegam veementemente. O fato só muda quando muitas conseguem, além de sobreviver, mudar de país e ganhar muito dinheiro com a prostituição no exterior. Ao voltar para o Brasil, em geral, compram a casa dos familiares e os sustentam. Neste momento, o que era vergonha vira esquecimento ( de que tem um(a) transgênero na família) e silêncio.

Mas existe um outro silêncio, o silêncio da humilhação que é uma coisa que muitos transgêneros estão resolvendo quebrar. Nesta mesma sexta-feira, rodou pelas redes sociais o desabafo da transexual Jessyca Dias:

“Eu, Jessyca Dias, 27 anos, Transexual desde os 18 anos, fui vitima da mais abjeta transfobia num estabelecimento chamado Rancho Jundiaí [em Jundiaí, interior de São Paulo]. Ao chegar na entrada do estabelecimento com minhas amigas, a segurança pediu meu RG. Quando viu que o documento constava ainda o nome de homem, a segurança disse que eu não poderia entrar e que eram ordens da casa. Indignada, disse que ela não podia me impedir pelo fato de eu ser transexual, pois aquilo era preconceito. Nesse momento, a segurança chamou um outro colega que perguntou se eu estava com as meninas, que estavam ao meu lado. Ao confirmar, o segurança me deixou entrar. Na bilheteria reclamei do ocorrido com a moça que recebia o meu dinheiro e ela disse que a atitude de não deixar entrar travestis e transexuais estava correta.

Ao entrar na casa, fui falar com o dono do evento, de nome Edson Del Roy . Ele disse que estava proibida a presença de travestis e transexuais, pois elas usam vestimentas inadequadas para o local, como vestidos, blusinhas e saias curtas. Quando falei que as mulheres que frequentavam o local se vestiam da mesma maneira, ele disse que eu não podia ser comparada a uma mulher. Ao final, disse que iria buscar meus direitos, e ele com a voz já alterada, disse que não se importava com isso. A conversa encerrou-se ali.

Minha noite de diversão acabou. Me senti ultrajada, humilhada. Desde que me assumi, como transexual, nunca tinha passado por isso. […] Informo também que estarei tomando todas as medidas, judiciais e extra judiciais, contra o estabelecimento e contra o dono do evento. É obrigação de cada LGBT, que foi violentado em sua honra e dignidade, ir até as ultimas consequências para obter Justiça!”

A análise desta situação é melhor descrita pela filósofa Marilena Chauí em sua fala no debate “A Ascensão Conservadora”, que aconteceu no final de agosto, em São Paulo. “A sociedade brasileira é extremamente violenta e tem a tendência a situar a violência apenas na região da criminalidade e, de não perceber, que a violência é toda a violação física e psíquica que você faz contra a natureza de alguém. Ora, uma sociedade que trata seres humanos que são racionais, dotados de sensibilidade e dotados de linguagem como se eles fossem coisas, portanto irracionais, mudos, inertes e passivos, é o grau máximo da violência porque você não reconhece a humanidade do outro”.

O Blogay tentou contato com o estabelecimento sem sucesso.

Os dois casos acima mostram o alto grau de transfobia que a sociedade brasileira ainda teima em se enlamear.  Como já escrevi algumas vezes aqui no blog, os transgêneros estão na vanguarda, no sentido de estarem na linha de frente na batalha contra os intolerantes e, estando nesta posição, são as primeiras a levar as pedradas.

***

Mas nem tudo é ruína, ainda temos algumas brechas de uma possível sociedade mais inclusiva e generosa. A revista “Trip”, por exemplo, escolheu a modelo transexual Carol Marra para ser sua “trip girl” deste mês.

Carol Marra (Marcio Simnch – Revista Trip)
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“Laerte é uma diva” dizem diretores de filme com a cartunista http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/25/laerte-e-uma-diva-dizem-diretores-de-filme-com-a-cartunista/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/25/laerte-e-uma-diva-dizem-diretores-de-filme-com-a-cartunista/#comments Sat, 25 Aug 2012 05:30:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=752
Cena de “Vestido de Laerte” (Divulgação)

Neste sábado, 25, tem a première do filme “Vestido de Laerte”, na sala da Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207), em São Paulo, às 17h, dentro do Festival Internacional de Curtas de São Paulo. Dirigido por Claudia Priscilla e Pedro Marques, a película conta a história da(o) cartunista transgênero tentando tirar um simples documento. O Blogay conversou com os diretores sobre o filme.

Blogay – Como surgiu a ideia de “Vestido de Laerte” ? É documentário, ficção, ou a mistura dos dois?

Claudia Priscilla – O Pedro me convidou para este filme por causa do meu interesse e pesquisa sobre sexualidade. Além disso, somos parceiros em muitas produções ligadas ao tema. Nos sentimos instigados em realizar um filme sobre este momento de vida de Laerte. Chamamos o curta de filme, compactuamos da ideia de Jean Claude Bernardet [ crítico e cineasta brasileiro] de que não existe uma linha que divida o que é ficção e o que é documentário.

O filme mostra Laerte tentando tirar um documento. É uma exemplificação de como os(as) transgêneros são tratados em determinadas situações?

Claudia Priscilla e Pedro Marques – Não é uma exemplificação. Laerte está na mídia e isso o(a) deixa blindado(a) de situações mais violentas de preconceito. Ele(a) é reconhecido(a) nas ruas pelas pessoas, mas, é claro, que ele(a) vive constrangimentos cotidianos como outros transgêneros. Colocamos no filme – de forma satírica – a questão do uso do banheiro público por causa de um problema recente que ele(a) sofreu em um restaurante. Vivemos num mundo onde os banheiros são divididos por gêneros, isso é um indicativo de como a sociedade não está preparada para essas mudanças, da dificuldade de absorver a diversidade.

Como foi o contato com Laerte? Como se saiu dramaticamente?

Claudia e Pedro – Laerte foi muito generoso(a) com a gente. Na verdade, exigimos dele(a) mais do que se costuma exigir de personagens. Utilizamos uma metodologia diferente para a confecção do roteiro que começou com entrevistas com Laerte, só nos dois e ele(a)… Isso rendeu material para a confecção do roteiro. Durante as filmagens, deixamos espaços para improvisações que também foram incorporadas ao filme. Além disso, Laerte nos enviava tirinhas de sua personagem Muriel para possivelmente serem incorporadas no filme. Dramaticamente, Laerte foi surpreendente, é uma diva!!!!

Cena de “Vestido de Laerte” (Divulgação)

Houve alguma questão que tocou vocês e que vocês desconheciam sobre os transgêneros?

Pedro – Laerte é impressionante e uma pessoa única, foi um aprendizado conviver com ele(a) durante todo o processo

Claudia – Desde meu primeiro curta, trabalho com questões ligadas à sexualidade. Há algum tempo me dedico a entender um pouco mais sobre transgêneros, já fiz duas produções sobre personagens trans, o curta “Phedra”, sobre uma atriz cubana que vive no Brasil e o longa “Olhe Pra Mim de Novo”, sobre Syllvio Luccio que mora no sertão. Além da direção, fiz pesquisa para os filmes, e nesse processo li bastante sobre o tema e encontrei médicos e pessoas que trabalham especificamente com esse grupo.

[vimeo 46395238 nolink]

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Rio Grande do Sul é o primeiro estado brasileiro a admitir o nome social dos transgêneros http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/17/rio-grande-do-sul-e-o-primeiro-estado-brasileiro-a-admitir-o-nome-social-dos-transgeneros/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/17/rio-grande-do-sul-e-o-primeiro-estado-brasileiro-a-admitir-o-nome-social-dos-transgeneros/#comments Sat, 18 Aug 2012 02:00:43 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=728
Roberta Close (Divulgação)

 

Roberta Close só pode trocar o nome de nascença, Luís Roberto Gambine Moreira, finalmente para Roberta Gambine Moreira, em 2005. 15 anos depois de sua cirurgia de redesignação sexual e 41 de seu nascimento.

La Close já era muito famosa no país desde os anos 1980 e nem este fato facilitou a burocracia da humilhação. Bom, pelo menos ela conseguiu o que chamamos de o nome social, isto é, ter o direito de ter documentos que correspondam com sua identidade de gênero. Exemplo: uma transexual que nasceu Thiago pode mudar o nome para Tyra ou Bárbara.

O preconceito com os transgêneros passa por esta questão fundamental. Ela começa principalmente na hora de apresentar algum documento. É um constrangimento proposital e policialesco, pois é também uma forma de punir aqueles que ousam ultrapassar e mostrar que as barreiras entre masculino e feminino não são fixas e imóveis.

O Rio Grande do Sul é pioneiro no país contra esta perversão e emite, desde este mês, a Carteira de Nome Social (CNS). É uma forma de pressionar que órgãos públicos aceitem  o novo documento.  É também o reconhecimento civil da existência dos transgêneros , já que existimos para o Estado a partir do momento que temos um nome e um documento com este nome.

Neste mesmo estado, mais de uma década atrás, aprovou-se a pensão para um companheiro do mesmo sexo que perdeu seu marido, rumando depois para a afirmação legal da parceria civil de um casal gay.  Hoje, o Supremo Tribunal Federal recomenda que este tipo de união seja reconhecido legalmente.

É um pequeno passo para um grande futuro.

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Todos odeiam travesti http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/14/todos-odeiam-travesti/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/07/14/todos-odeiam-travesti/#comments Sat, 14 Jul 2012 23:30:48 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=590 Gay barbie odeia gay urso que não suporta lésbica que não tolera bissexual que detesta gay efeminado e todos odeiam travesti. Esta paródia de uma quadrilha “dus infernus” que li em algum lugar é uma triste verdade.

Se existe competição e críticas entre os vários segmentos LGBTs, o mais recriminado são os trangêneros. Os homossexuais masculinos e femininos, por estarem “em concordância” tanto na questão de identidade de gênero como de orientação sexual, sempre tem um pé atrás com os bissexuais (os indefinidos na visão de muitos de sua orientação sexual) , vistos sempre com desconfiança. Mas é com os travestis e transexuais que o bicho pega de fato, a porta muitas vezes fecha para elas/eles (os transhomens), apesar delas/deles quando precisamos serem sempre a vanguarda do movimento, de se colocarem de forma aberta, explícita.

Capa da revista “Simples Assim” com a trans Carol Marra (Divulgação)

O jornalista Neto Lucon em entrevista com a modelo transexual Carol Marra para o site Virgula coloca esta questão. Ela é capa da nova edição da revista “Simples Assim”, uma publicação LGBT. A última trans que foi cover girl de uma revista gay foi Roberta Close, na excelente e extinta Sui Generis, nos anos 1990, isto é, faz mais de década que nenhuma revista especializada coloca em sua capa alguém do segmento transgêneros.

“Mas não vende revista com travesti na capa”, vai se desculpar algum publisher. Oras, este é o mesmo discurso que a mídia de revistas mainstream falava sobre negros tempos atrás, antes da ascensão de Barack Obama, para se posicionar sobre a cobrança que muitos faziam pela falta de negros nas capas das revistas.

Mas acredito ser pior quando se trata de uma revista especializada, que pensa em representar um grupo diverso e acaba apenas priorizando um pequeno segmento dentro desta legenda chamada LGBT. Que não venda, mas que consiga prestígio com a atitude de pelo menos sair da repetição do discurso mainstream.

Este é só um detalhe, ao ler a declaração de Carol Marra ao Virgula – “É a primeira vez que faço um ensaio para uma revista gay e fui recebida com muito carinho. É curioso, pois no próprio meio GLS existe muito preconceito com as transexuais” –  percebe-se que ainda temos um longo caminho a percorrer contra as estigmatizações e elas devem começar por nós mesmos, antes de ficarmos apontando o dedo na cara dos outros.

A modelo Carol Marra (Divulgação)
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A polêmica e a complexidade de Léo Áquilla http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/30/a-polemica-e-a-complexidade-de-leo-aquilla/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/30/a-polemica-e-a-complexidade-de-leo-aquilla/#comments Wed, 30 May 2012 23:00:28 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=399
Léo Áquilla (Divulgação/Edu Moraes - TV Record)

Léo Áquilla está na “A Fazenda 5”, até aí tudo bem. Mas está no grupo masculino. A partir deste fato, as redes sociais desde a noite de estreia do programa, na terça-feira, 29, não pararam de especular o porquê.

Será a rede Record? Fato desmentido logo em seguida. Foi o próprio Léo Áquilla que disse na estreia: “Eu sou um menino que adora parecer uma menina. Sou menina e também sou menino”. Pronto, mais arsenal pras discussões.

Nas redes sociais, muitos tentam definir se Léo é travesti, drag queen ou transexual? Outros, mas simplistas afirmam que se tem pênis é homem.

O que podemos afirmar com certeza é que a postura  de Leo Áquilla é um excelente exemplo para demonstrar a complexidade dos  chamados LGBTs e das liberdades individuais onde o movimento gay está inserido.

Sim, a colocação de Léo é um desastre no sentido coletivo para as transgêneros. A luta pela mudança de registro do nome nas certidões tem sido uma das duras e árduas batalhas de travestis e transexuais. Muitas sofrem preconceito desde a escola até quando precisam fazer uma ficha de um simples requerimento. O nome não condizer com a imagem é o reflexo perturbador do que elas vivenciam por dentro, quando o sexo não reflete sua identidade.

Existe todo um esforço das trans e dos trans de que o gênero corresponda à imagem. Ao mesmo tempo, os intolerantes/ignorantes fazem questão de criar ruído negando este direito a esta população. O direito do gênero.

Mas sim, a colocação de Léo é um grito de liberação no campo das liberdades individuais.  Ao dizer que não se preocupa com o gênero, ele quer avançar a questão – pelo menos para ele/ela, pois tanto faz se ele é ele ou ela, o que importa é que é Léo Áquilla. O direito do indivíduo.

De fundo, as lutas das minorias é também a luta pelas liberdades individuais. Que cada um viva sua vida, que cada um faça sexo com quem quiser, que case com quem desejar, que use o artigo masculino ou feminino quando bem entender.

No clássico filme de Glauber Rocha, “Terra em Transe”, o poeta Paulo diz algo que sintetiza esta discussão. “No meio da massa tem o indivíduo e este é muito mais difícil de domar”.

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