Blogaysexualidade – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os garotos e garotas de Blur http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/11/10/os-garotos-e-garotas-de-blur/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/11/10/os-garotos-e-garotas-de-blur/#comments Sun, 10 Nov 2013 22:00:50 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1501 “Você é Blur ou Oasis?” Esta pergunta (típica dos anos 1990 e uma espécie de nova e outra versão da rivalidade entre Emilinha Borba e Marlene) tinha contornos mais que musicais. Sabe-se hoje que era uma grande jogada de marketing (Damon e Noel fizeram as “pazes” uma década depois), mas na época a briga entre as duas maiores bandas do Britpop também dizia muito sobre a questão comportamental.  Preferir a banda do vocalista Damon Albarn, do guitarrista Graham Coxon, do baixista Alex James e do baterista Dave Rowntree era estar mais tolerante com as diversas influências musicais que um grupo poderia ter em sua sonoridade, mais crítico na visão de uma vida pós-Margaret Thatcher e todo o seu neoliberalismo e mais fluido no campo das orientações sexuais. Era estar em oposição à influência apenas de uma banda (no caso da sonoridade dos irmãos Gallagher, os Beatles) e ao rock “macho”.

Foram exatamente as afirmações de Damon Albarn, para a imprensa britânica, no auge da fama, que já tinha transado com homens (provocação ou verdade, pouco importa) que faziam Noel e Liam Gallagher dirigir ofensas sobre a sexualidade do vocalista do Blur, proferindo frase de efeitos como a que adorariam que ele “pegasse Aids”. Apesar de tudo ou por isto tudo, um dos grandes hits da banda é “Girls and Boys”, exatamente sobre a complexidade das relações e orientações sexuais do “amor nos 90” e nos anos que se seguem.

E foi com este clássico lançado há quase duas décadas que a banda inglesa abriu sua apresentação no Festival Planeta Terra, no sábado, 9, no Campo de Marte, em São Paulo. “Girls who want boys / who like boys to be girls / who do boys like they’re girls/ who do girls, like they’re boys /Always should be someone you really love (Garotas que querem garotos / que gostam de garotos para ser garotas / que pegam garotos como se fossem garotas / que pegam garotas como se fossem garotos / Sempre tem que ser alguém que você realmente ama)” foi cantado em uníssono pela plateia.

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Certo que o público presente neste festival era menos testosterona, aquele que não precisa se provar macho e hétero. Casais gays conviviam com casais héteros em total harmonia ou indiferença e não foi apenas no show de Lana Del Rey, que fazia parte do line up e era o mais clichê que isso acontecesse. O rock de Beck assim como o rap do The Roots conviveram com esta plateia, que pode deixar tudo menos embaçado, quando Blur começou seu show.  Afinal o que importa é “sempre ter alguém que você realmente ama”. Todos ali tinham entendido o recado.

Voltando ao Blur, a figura de Damon Albarn tem sua importância para o rompimento das fronteiras (invisíveis e limitantes)  entre o que é de hétero e o que é de gay. Em certo sentido, ele embaçou estas demarcações, ainda mais em relação aos roqueiros. Suas afirmações sobre sua (bi)sexualidade, mesmo quando namorava firme com Justine Frischmann, do Elastica, fizeram muitos garotos e garotas, que gostavam de pessoas do mesmo sexo e ao mesmo tempo de rock, se sentirem mais confortáveis. Ele também tinha uma imagem de garoto, masculina, o que era diferente dos roqueiros que questionavam os papeis sexuais e de gênero através da androginia. Seu uniforme não era o glitter e sim o jeans e a camiseta.

“Eles são os  únicos que usam camiseta e jeans e parecem que estão de smoking”, dizia uma amiga entre um drink e outro na Torre, uma casa noturna underground de São Paulo, mas que era assim que também costumava-se chamar as noites de quinta-feira neste mesmo clube, como uma metonímia. A festa Début era comandada pelo DJ Alexandre Bispo e pelo artista plástico Adriano Costa, este, na época, uma metáfora de Damon Albarn. E, não por acaso, foi lá, no final da década de 90, que uma das trilhas tocadas era Blur.

Mais de vinte anos depois, eles ainda usam jeans e camiseta cantando que “o amor é a melhor coisa”, independente se é com outro ou com outra. E nós, que esperamos por este sentimento, pudemos, numa noite quente de sábado, saber que o amor veio. Oh why, Oh my!

Damon Albarn no palco. Blur encerra a sétima edição do festival Planeta Terra (Avener Prado/Folhapress)
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Lou Reed: ‘transformer’ e transgressor http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/27/lou-reed-transformer-e-transgressor/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/27/lou-reed-transformer-e-transgressor/#comments Mon, 28 Oct 2013 01:30:50 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1457 “Queridinho, se você não conhece nenhuma banda que toca aqui, mas não quer fazer feio, diga que só escuta Velvet Underground”, aconselhava sempre uma amiga para desavisados que chegavam no Madame Satã, famosa casa underground dos anos 1980, em São Paulo. Neste mesmo local, um futuro crítico de música também adorava citar o ex-vocalista do Velvet diante a cena pansexual da casa noturna. “Lou Reed é muito louco, ele transa com travesti”, gostava de repetir entre a admiração e o sarcasmo machista. E tinha Claudia Wonder, a transexual que cantava músicas do roqueiro em versões em português, no palco do clube onde todos iam sempre vestidos de preto como já prenunciava a banda apadrinhada por Andy Warhol lá na década de 60.

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Um pouco antes, quando eu ainda era pré-adolescente, tocava de vez em quando “Walk On the Wild Side” (um dos maiores sucessos de Lou Reed) na rádio e eu achava fofo quando entravam as “colored girls” em um coro fazendo “doo do doo do doo do do doo…” Nem imaginava a potência narrativa das histórias dos vários personagens citados na música de Reed e que frequentavam, assim como o músico, a lendária Factory, o estúdio de arte babadeiro de Andy Warhol. As travestis Holly Woodlawn, Candy Darling e Jackie Curtis assim como Joe Dallesandro e Sugar Plum Fairy são atores dos filmes de Warhol e também personagens do lado selvagem de Lou Reed. Tudo isso, fiquei sabendo no Satã, anos antes do músico lançar “New York”. Foi neste clube, que abriu as portas para tantas informações, que Lou Reed era uma grande referência, já sabia-se lá que tudo o que vivíamos: o punk, o pós punk, a urbanidade, a diversidade sexual era também por causa dele ter indicado caminhos. Aliás, da mesma forma que a Factory foi importante para o orgulho gay (mesmo de forma indireta), Lou Reed foi vital para a visibilidade trans. Ele abriu portas.

O anúncio da morte de Lou Reed neste domingo, 27 de outubro, na sua conta de Facebook. “The door (a porta)” estava escrito na legenda da imagem (Reprodução/Facebook)

E foi neste “sunday morning”, domingo de manhã, 27, que, no Facebook do músico, apareceu uma foto sua com a legenda “the door” (a porta). De forma poética e sintética, a mensagem anunciava a morte de Lou Reed. Aquele que mostrou outros caminhos, na música e no comportamento, abriu portas enquanto muito as fechavam.

No meio machista do rock dos anos 1970, ele não teve medo de namorar uma travesti, a bela Rachel, como narra “Mate-me, Por Favor”, de Larry “Legs” McNeil e Gilliam McCain. Diz, no livro, que ela chegou para as outras colegas e foi bem direta: “Eu não quero ninguém perto dele. Eu não quero ninguém conversando com ele. Ele é meu”.

Em “Transformer” (1973) e em “Rock’n Roll Animal” (1974), ele está maquiado ao estilo glam rock da época, mas na contracapa do primeiro álbum, uma travesti e um drag king dão o tom do que Reed queria dizer com “transformer”.

Também foi surpresa para muitos ele namorar a andrógina compositora Laurie Anderson. Mas é mais uma prova de como Lou é livre e suas portas estão sempre abertas. Viveram juntos por mais de 13 anos e, em 2008, se casaram secretamente. 

Uma vez, andando pelo Lincoln Center, em Nova York, minha amiga, a artista visual Marie Ange Bordas, me apontou para um casal ao lado. Era Laurie e Lou, era verão, mas eles estavam de preto. “Quem ama o sol?” Ficamos seguindo eles por um tempo, os dois de mãos dadas como num “perfect day”, até sumirem pois nada é perfeito para sempre. Ficamos um tempo encantados como se o show particular de amorosidade e carinho em meio a tanta roupa preta tivesse sido feito para nós, só para nós. De certa forma, eles nos diziam ali naquele momento que não há regras para nada, para o amor, para o verão, para a vida, como dois verdadeiros transgressores. Eles abriram novas portas para nós, porque como diz a letra da música de Reed, “After Hours”: “se você fechar a porta, a noite poderá durar para sempre”.

R.I.P., senhor Transformer! R.I.P., senhor Transgressor! Afinal estas duas palavras para Lou Reed são sinônimos. 

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Projeto aprofunda a questão da pluralidade no sexo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/09/06/projeto-aprofunda-a-questao-da-pluralidade-no-sexo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/09/06/projeto-aprofunda-a-questao-da-pluralidade-no-sexo/#comments Fri, 06 Sep 2013 10:00:03 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1396 Homem com mulher pode ser uma das formas ricas que o sexo pode nos proporcionar, mas não a única como muitos latem por aí. Também tem homem com homem e mulher com mulher, mas também terminar as denominações por  aí é empobrecer a riqueza plural do sexo, seus desejos e sua ação libertária. Foi pensando nisto que surgiu o projeto “Flexões”, de André Medeiros Martins.

Ele tem formação em teatro e a fotografia, um dos veículos centrais de seu trabalho – mas não o único – para registrar o gozar da liberdade plural das sexualidades não é sua especialidade. Em conversa com o Blogay, André disse que não se considera fotógrafo, apenas a foto é um dos veículos que o ajudam a tentar decifrar as múltiplas facetas do desejo sexual.

Foto do livro “Flexões: Um Estudo Sobre a Sexualidade Plural” (André Medeiros Martins)

Foi pela experiência teatral que conseguiu seus primeiros modelos  – amigos atores – e foi pela teatralidade que tentou iniciar sua investigação das sexualidades e desejos. As fotos acabaram, junto com textos, compondo o livro “Flexões: Um Estudo Sobre a Sexualidade Plural”, lançado este ano. A publicação tem este ar performático, com máscaras e objetos compondo o quadro. Ele revela como encaramos também o sexo não como algo nosso, mas algo externo a nós, um outro, um estranho.

Foto do livro “Flexões: Um Estudo Sobre a Sexualidade Plural” (André Medeiros Martins)

O livro traz ainda em sua diagramação um caos próprio da sexualidade, mas tenta dar um norte ao leitor  sendo ordenado em três tópicos: tempo (com textos de “notáveis”), modo (com a transcrição dos debates promovidos em diversos locais como centros de cultura e de psicanálise) e sujeito (com pessoas anônimas escrevendo sobre as fotos que foram expostas em diversos ponto da cidade de São Paulo). Esta ordenação, que justamente acaba no sujeito,  mais do que guiar o livro, deu as setas dos próximos passos que André deveria seguir para aprofundar sua pesquisa sobre o plural na sexualidade.

Foto do projeto “Flexões” depois do livro (André Medeiros Martins)

Seu trabalho depois do livro se tornou mais íntimo, menos alegórico. E para criar esta intimidade, ele mesmo começou de uma forma ou outra a participar e se colocar nas fotos, revelando o quanto de sexual também existe no ato de retratar o outro, de tentar penetrar na alma do retratado. Não era mais uma alegoria (ou a alegoria de um desejo de ser fotografado de certa forma com tais objetos), agora estava se descortinando o indivíduo, o sujeito em sua essência (sexual?).

Foto do projeto “Flexões” depois do livro (André Medeiros Martins)

Ao colocar-se na foto, além de revelar o lado sexual do trabalho fotográfico e também a intimidade do sujeito, André também retira a distância entre o fotografado e o fotografo, torna-se um só, como são as melhores relações sexuais.

Um outro passo importante foi quando, ao expor as fotos do livro, André resolveu não fazer apenas uma exposição fotográfica e resolveu trazer objetos de sua casa para a mostra. O teatro e a performance estão de volta, mas em outra chave, agora não só mais íntima, como também pessoal. Não é a teatralidade que está em jogo, mas o ator (André) que usa a teatralidade para entender certas questões gerais e também suas, pessoais.

Casa Flexões, que aconteceu durante a exposição fotográfica de André, na Livraria Cultura, em São Paulo, em junho de 2013 (André Medeiros Martins)

Ao dormir de conchinha em uma tarde na exposição com um amigo, ele mais do que evidenciar intimidade, está trazendo um elemento importante para o seu trabalho (não que não estivesse presente) agora de forma explícita: a afetividade.

Casa Flexões, que aconteceu durante a exposição fotográfica de André, na Livraria Cultura, em São Paulo, em junho de 2013 (André Medeiros Martins)

Hoje, sexo, afetividade e intimidade aparecem como coisas totalmente distintas e desassociadas, quando estão muito mais próximas do que pensamos. Apesar dos três (sexo, afetividade, intimidade), na cultura contemporânea, serem registrados como objetivos fora de nós que precisam ser alcançados por todos, eles sempre estiveram dentro de nós.

Entra agora André, nesta fase do projeto, em terreno muito mais perigoso e inquietante. A pluralidade do sexo é uma questão individual (das liberdades individuais), íntima e afetiva (em uma dimensão ampla do termo). Talvez esteja aí a razão do porquê, depois de três anos, ele teve suas páginas no Facebook apagadas pelos administradores da rede. Questão de pele em mundo virtual!

Casa Flexões, que aconteceu durante a exposição fotográfica de André, na Livraria Cultura, em São Paulo, em junho de 2013 (André Medeiros Martins)
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Vigiar e punir: o caso Ronald http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/07/18/vigiar-e-punir-o-caso-ronald/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/07/18/vigiar-e-punir-o-caso-ronald/#comments Fri, 19 Jul 2013 02:45:56 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1318 No começo desta semana circularam fotos do filho do ex-jogador Ronaldo Nazário, Ronald, 13, abraçado com um amigo da mesma faixa etária no aeroporto, embarcando para Ibiza, na Espanha – com a família (mas que não aparecia nas fotos). Logo iniciaram piadinhas dizendo que o adolescente era gay.

Ronald com amigo no aeroporto (Reprodução/Instagram)

Para além da homofobia internalizada de muitos homossexuais (e sites gays) que aderiram na vigilância da sexualidade alheia (reproduzindo a cultura machista que todos estamos inseridos), e também para longe da intromissão da vida privada de forma grosseira, o que é mais interessante deste episódio é como os mecanismos de controle ainda estão afiados para que, tudo que sair fora de uma certa conduta normativa, seja punido. Isto é, dentro do patriarcalismo temos regras de como se monta a masculinidade e como ela deve se comportar para estar no comando. As mulheres e os LGBTs conhecem bem – mesmo que de forma inconsciente – a mão pesada desta patrulha.

Mas engana-se quem acha que os homens heterossexuais também não sofrem com ela, claro que de uma forma muito  mais sutil. Também é violento não poder demonstrar a afetividade fraternal de forma plena, disfarçadas em soquinhos e tapinhas. É uma sociedade triste aquela que o pai ao abraçar o filho recebe o selo de homossexual e este, como “ser inferior” dentro do patriarcalismo/machismo, merece a violência física mais pura, talvez com uma orelha sendo arrancada. Que nem o surto mais louco de Van Gogh imaginaria.

É bom beijar um amigo, mostrar seu afeto a ele sem que isto tenha alguma conotação sexual. E talvez nos dias de hoje seja libertador fazer tal ato. Deixem os meninos, deixem os homens se abraçarem, chorarem, se beijarem, sem que isto ponha em questão suas orientações sexuais, com certeza o mundo será mais saudável.

Deixem Ronald em paz e vão cuidar de suas afetividades que devem estar em frangalhos pois não conseguem conceber que amizade e carinho ainda é possível, nesta sociedade ultrasexualizada e totalmente carente.

 

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“Laerte é uma diva” dizem diretores de filme com a cartunista http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/25/laerte-e-uma-diva-dizem-diretores-de-filme-com-a-cartunista/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/25/laerte-e-uma-diva-dizem-diretores-de-filme-com-a-cartunista/#comments Sat, 25 Aug 2012 05:30:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=752
Cena de “Vestido de Laerte” (Divulgação)

Neste sábado, 25, tem a première do filme “Vestido de Laerte”, na sala da Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207), em São Paulo, às 17h, dentro do Festival Internacional de Curtas de São Paulo. Dirigido por Claudia Priscilla e Pedro Marques, a película conta a história da(o) cartunista transgênero tentando tirar um simples documento. O Blogay conversou com os diretores sobre o filme.

Blogay – Como surgiu a ideia de “Vestido de Laerte” ? É documentário, ficção, ou a mistura dos dois?

Claudia Priscilla – O Pedro me convidou para este filme por causa do meu interesse e pesquisa sobre sexualidade. Além disso, somos parceiros em muitas produções ligadas ao tema. Nos sentimos instigados em realizar um filme sobre este momento de vida de Laerte. Chamamos o curta de filme, compactuamos da ideia de Jean Claude Bernardet [ crítico e cineasta brasileiro] de que não existe uma linha que divida o que é ficção e o que é documentário.

O filme mostra Laerte tentando tirar um documento. É uma exemplificação de como os(as) transgêneros são tratados em determinadas situações?

Claudia Priscilla e Pedro Marques – Não é uma exemplificação. Laerte está na mídia e isso o(a) deixa blindado(a) de situações mais violentas de preconceito. Ele(a) é reconhecido(a) nas ruas pelas pessoas, mas, é claro, que ele(a) vive constrangimentos cotidianos como outros transgêneros. Colocamos no filme – de forma satírica – a questão do uso do banheiro público por causa de um problema recente que ele(a) sofreu em um restaurante. Vivemos num mundo onde os banheiros são divididos por gêneros, isso é um indicativo de como a sociedade não está preparada para essas mudanças, da dificuldade de absorver a diversidade.

Como foi o contato com Laerte? Como se saiu dramaticamente?

Claudia e Pedro – Laerte foi muito generoso(a) com a gente. Na verdade, exigimos dele(a) mais do que se costuma exigir de personagens. Utilizamos uma metodologia diferente para a confecção do roteiro que começou com entrevistas com Laerte, só nos dois e ele(a)… Isso rendeu material para a confecção do roteiro. Durante as filmagens, deixamos espaços para improvisações que também foram incorporadas ao filme. Além disso, Laerte nos enviava tirinhas de sua personagem Muriel para possivelmente serem incorporadas no filme. Dramaticamente, Laerte foi surpreendente, é uma diva!!!!

Cena de “Vestido de Laerte” (Divulgação)

Houve alguma questão que tocou vocês e que vocês desconheciam sobre os transgêneros?

Pedro – Laerte é impressionante e uma pessoa única, foi um aprendizado conviver com ele(a) durante todo o processo

Claudia – Desde meu primeiro curta, trabalho com questões ligadas à sexualidade. Há algum tempo me dedico a entender um pouco mais sobre transgêneros, já fiz duas produções sobre personagens trans, o curta “Phedra”, sobre uma atriz cubana que vive no Brasil e o longa “Olhe Pra Mim de Novo”, sobre Syllvio Luccio que mora no sertão. Além da direção, fiz pesquisa para os filmes, e nesse processo li bastante sobre o tema e encontrei médicos e pessoas que trabalham especificamente com esse grupo.

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Sagat e as aproximações entre o pornô e a vida http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/03/sagat-e-as-aproximacoes-entre-o-porno-e-a-vida/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/03/sagat-e-as-aproximacoes-entre-o-porno-e-a-vida/#comments Mon, 04 Jun 2012 02:50:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=427
François Sagat ( Divulgação)

François Sagat é um ator pornô gay muito conhecido. Além de produções de filmes adultos, ele também trabalhou em filmes de ficção e um documentário sobre sua vida (Sagat, dir: Pascal Roche & Jérôme M. Oliveira, França, 2011, 40 min.) encerrou a segunda edição do Pop Porn Festival, em São Paulo, neste domingo, 03.

Dois pontos interessantes do documentário.  O homem de corpo perfeito e masculinidade exacerbada não consegue amar, ter um relacionamento duradouro como confessa em um determinado momento do filme.  Como uma Marilyn Monroe gay, ele paga o preço de ser exacerbadamente desejado, mas também se humaniza aos nossos olhos, aquele homem inalcançável se torna nosso amigo, que se abre com problemas que são muito nossos também. Existe uma desidealização da pornografia como o mundo do sexo perfeito e do mito do porn star.

Ao mesmo tempo, ao descontruir o ator pornô como ícone do sexo, François também nos mostra como este ideal é construção. Ele era uma criança afeminada, sofria bullying na escola. Contra isto, ele construiu uma imagem supermasculinizada, horas de academia e a aplicação de testosterona. Ele diz algo intrigante ao assumir que se considera um transexual, pois procurou a imagem que o satisfazia e achava adequada para o seu corpo.

Solidão, bullyng e superação são algo tão da vida e aparentemente não da pornografia que seria uma ilusão, como diz uma drag no meio do documentário. Mas o filme mostra como este universo está embargado de vida comum.

 O Pop Porn Festival

Circular pelos corretores da Trackers, no centro da cidade, onde aconteceu o evento já era um acontecimento. Em uma sala, pessoas aprendiam a fazer bondage, em especial, o shibari, prática de amarração com cordas. Todos compenetrados em fazer os nós, não diferia por exemplo de alguma oficina de costura.

Em um corredor, performance de um homem vestido de mulher entrevistando passantes. No bar, muita conversa e o festival que foi criado inspirado no seu homônimo de Berlim, não perde em nada para sua matriz.

Em 2010, conheci em Berlim o festival e sinto a versão brasileira, apesar de ter o mesmo cárater alternativo, tem um certo remelexo muito nosso. Que venham mais.

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