Blogaymorte – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A morte http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/10/01/a-morte/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/10/01/a-morte/#comments Tue, 02 Oct 2012 02:30:21 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=893
Velório de Hebe (Arquivo Pessoal)

A morte é fria! Isto é um clichê absoluto, mas também uma verdade das mais profundas. Ao tocar na mão de Hebe Camargo em seu velório, que aconteceu no sábado, 29, em São Paulo, nada mais real que o freezer de seus dedos, e nada mais falso do que achar que ali estava a apresentadora, ali existia apenas um corpo.

Era uma máscara mortuária apenas, nem as joias que compunham o que chamávamos de Hebe estavam presente, comprovando a ideia de Aristóteles sobre essência: algo que dá identidade a um ser, que o faz reconhecido como único.

Somos únicos e o que nos une é a morte. Seja homossexual, fundamentalista, lésbica, heterossexual, intolerantes, travestis, a senhora da foice estará em algum momento nos esperando.

Mas o arquétipo da morte também significa transformação, mudança. Platão em seu livro “Fédon” conta a condenação de Sócrates e seu suicídio com a cicuta. Já prestes a ter que cumprir a pena de se matar, os soldados libertam o filósofo das correntes  que tinha nos pés e ele diz: “Como é estranho isso que os homens denominam prazer. Ele está intimamente ligado à dor, que acreditamos ser o seu oposto. Embora essas duas sensações não se apresentem simultaneamente, aquele que persegue uma das duas é levado a experimentar a outra. É como se fossem inseparáveis. Agora que me soltaram das correntes, sobreveio-me um sentimento de prazer; o prazer de estar liberto. Ocorreu uma substituição de um pelo outro”.

Neste sentido, morre uma sensação para nascer outra e sendo a morte uma ideia de mudança, esteja também aí a mais profunda raiz para as rejeições e/ou insegurança e /ou apreensão que temos com toda e qualquer transformação.

Mas as mudanças (talvez aí, que sabe, incluso a do fim da sociedade patriarcal, de uma maior liberdade de gênero e dos direitos aos homossexuais) assim como a morte são inevitáveis. Ao ver Hebe em seu caixão sabia que algo tinha mudado, em seu corpo que já não apresentava “anima”, na essência que ali não existia mais e na transformação que a falta daquela presença nos fará. Foi assim com Hebe, com meus amigos e parentes queridos que já morreram. E um dia será comigo, e com você. Pois repito: as mudanças assim como a morte são inevitáveis. Ainda bem!

]]>
50
Hebe Camargo e os gays http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/29/hebe-camargo-e-os-gays/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/29/hebe-camargo-e-os-gays/#comments Sun, 30 Sep 2012 01:00:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=885
Primeira gravação do programa da apresentadora Hebe Camargo, após a retirada de um tumor no intestino (Julia Chequer – 23.abr.12/Folhapress)

Tinha um amigo da faculdade que nunca saia às segundas-feiras à noite, pois era dia do programa da Hebe. Ele era homossexual.  Tinha uma conhecida que fazia questão de ter perucas loiras e cheias de laquê por causa da apresentadora. Ela era travesti.

De uma certa forma, Hebe Camargo, morta neste sábado, 29, encontrava eco no meio gay. Eu mesmo que, nos anos 1980, a achava perua quando isto era algo ofensivo para uma certa intelligentsia e muito reacionária – apoiou durante um tempo Paulo Maluf e Celso Pitta assumidamente para depois também de peito aberto fazer um mea culpa e se arrepender destas ligações -, tinha um carinho especial e, por que não,  um fetiche pelo sofá. Tá certo, vou confessar, todo o malufismo dela ficava para trás, quando ela entornava um copo de cerveja gelada, ao vivo.

Tinha uma colega de trabalho que dizia sentir tesão por mulheres mais velhas como a Hebe. Ela era lésbica. Tinha um amigo que no Carnaval saía vestido como a apresentadora, falando “que gracinha” para todos os homens que via pela frente. Ele era drag.

Com o passar do tempo, a lenda viva foi ficando mais lenda e mais viva na televisão brasileira. Sua parceria com Nair Bello, sua grande amiga, era digno do melhor da comédia produzida na TV. Sem falar que foi Hebe quem levou a drag Nany People para frente das câmeras. Não como algo meramente humorístico ou enfeite cômico como até então era o papel das drags na televisão aberta e sim como sujeito atuante. Nany entrevistava, opinava e também dava muita pinta, tudo para uma classe média bem conservadora do fim dos anos 1990 e começo dos 2000. “Hebe é uma santa. Sentei em seu sofá plebeia e saí de lá princesa”,  disse a drag em uma entrevista na época para a revista “Veja”.

Tinha eu que me despi dos preconceitos partidários dos anos 1980, do meu esnobismo intelectual de faculdades de humanas e, que por volta de 2007, fui escrever textos para ela e descobrir depois de décadas na TV que ainda tinha muito que aprender sobre o ofício assistindo nos bastidores Hebe atuar.

Hoje a TV está de luto, a deliciosa gargalhada se silenciou, mas tenho certeza – pois lembro dela rindo solto quando soube que Zé Simão disse na época que as múmias achadas em um convento em São Paulo eram a Nair Bello e ela – que ela iria chorar de gargalhar se assistisse este vídeo das ultramonas Las Bibas From Vizcaya:

[youtube x7qfUpNc5kA nolink]

]]>
22
Meninos, eu vi: A morte de Lady Di http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/31/meninos-eu-vi-a-morte-de-lady-di/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/31/meninos-eu-vi-a-morte-de-lady-di/#comments Sat, 01 Sep 2012 01:00:45 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=768 Prólogo:

Era um verão tipicamente brasileiro em Londres. Algo atípico aquele sol todo. Um agosto destes que faz você estranhar que a Inglaterra tem fama de chuvosa. Estava na cidade para uma temporada de dois meses. Costumava me reunir com amigos no Soho Square para o piquenique do almoço que sempre se estendia –  para os que não estavam trabalhando como eu – até o “happy hour”. Por incrível que pareça, meus amigos ingleses (sim, existem ingleses em Londres) eram todos republicanos, antimonarquistas e odiavam a princesa Diana. “Ela tem um senso de moda detestável”, dizia uma amiga muito elegante. “Cada um tem a novela que merece, nós ingleses temos a família real com a Lady Di”, disse outro entre uma cerveja e outra sob sol do meio-dia.

***

Remoção dos destroços do carro em que estava Diana, em Paris (Pierre Boussel – 31.ago.97/France Presse)

Era um verão muito quente e as pessoas estavam animadas, até abrir as casas para dar festas, elas estavam fazendo. Era um ambiente de exceção para quem conhece os londrinos. E em um “saturday night fever” destes que pede alegria, fui a uma dessas festas, na casa de uma pessoa que eu mal conhecia – algo bem exceção – e, de repente, percebi que todos sumiram da sala, a pista de dança improvisada. Reencontrei a festa em silêncio em um quarto, todos meio chocados – sem falar nem “oh, my God” nem nada – viam as imagens anunciando a morte de Lady Di em um túnel de Paris.

Nunca me esqueço que as primeiras imagens na televisão mostravam os clubbers com seus cabelos laranjas e azuis saindo das boates e os negros indo levar flores para a ex-princesa Diana, na porta dos palácios de  Kensington e Buckingham. Foram as primeiras de milhares.

Acabou a festa, acabou o verão, o tempo fechou em um clima de tristeza mórbida e quieta – muito diferente do melodrama quase histérico dos brasileiros ao presenciarem mortes históricas. Mesmo aqueles meus amigos que escorraçavam a família real e Lady Di estavam quietos, não se ouviu uma piada sobre a morte, nenhum comentário malicioso. A turbulenta Londres era só silêncio muito antes das 23h, quando costumavam fechar os pubs.

Os indianos colocaram, em cada deli, um cartaz na porta de entrada escrito: “Diana, Princess of Ours Hearts” (“Diana, Princesa de Nossos Corações”). A vida gay sempre tão agitada teve uma semana desanimada. A ressaca de um verão maravilhoso bateu antes do previsto. O luto de uma semana foi sentido por todos, os que gostavam ou não da mãe de William e Harry.

Era realmente a princesa do povo, sem demagogias. E isto ficou claro quando as minorias – negros, indianos, gays, clubbers – choravam, emudeciam-se, levavam flores nas portas dos palácios reais e se indignavam com a frieza da rainha Elizabeth. De certa forma, ela representava o retrato daquela minoria perante a aristocracia. Diana estava à margem mas, mesmo assim, era odiada por estes mesmos aristocratas, pois ela era o centro de todas as atenções. Como as minorias o são quando lutam pelos seus direitos e dignidade e irritam uma certa “maioria” que tem todos os direitos e não quer que outros os tenham.

Há 15 anos, o verão mas atípico da capital inglesa terminou de uma forma mais triste que o habitual.

Turistas prestam homenagens à Diana em frente ao monumento Chama da Liberdade com flores, fotos e cartazes, em Paris (Jacques Brinon – 31.ago.12/Associated Press)
]]>
1
Gore Vidal, gay http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/01/gore-vidal-gay/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/01/gore-vidal-gay/#comments Thu, 02 Aug 2012 02:30:57 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=662 Os “Estados Unidos da Amnésia” como Gore Vidal chamava o seu país já o tinha esquecido há tempos. O escritor causou um canto do cisne como polemista que sempre o habitou quando culpou o governo Bush pelos atentados de 11 de setembro de 2001. Depois: silêncio, não dele, mas dos americanos em relação a ele. Nesta quarta-feira, 1º, os jornais dos Estados Unidos  irão ter que relembrar o grande escritor e o ser político atuante, pois terão que anunciar sua morte em notas. E nestes textos de hoje terão que rememorar o papel de Vidal para a vida política e cultural do país. Vai ser um raro momento que a amnésia não ocupará o lugar central de certas discussões americanas como Vidal tanto criticava.

Ele mesmo estava afastado da cena cultural e política fisicamente desde 2008 quando fraturou a coluna e começou a andar de cadeira de rodas. Todos sabem de sua ambição política – se candidatou duas vezes ao Congresso americano e não conseguiu vencer – mas isto não deixou de torna-lo por suas atitudes um ser político da mais alta importância, ainda mais para os direitos da minorias.

O significado de ser assumidamente gay antes da revolta de Stonewall em 1969, é algo que não conseguimos dimensionar, exatamente em uma época que a homossexualidade era ou crime ou doença. Gore Vidal rocks!

Um pouco antes da rebelião gay em Nova York, no ano de 1969, ele falou para a revista Esquire: “A homossexualidade é tão natural quanto a heterossexualidade. Repare que eu uso a palavra natural e não normal”.  E a definição de seu estilo literário bem pode servir para a sua sexualidade: “Saber quem você é, o que você quer dizer, e não dando a mínima”.

Foi seguindo seu próprio conselho que seu terceiro livro, “A Cidade e o Pilar” (1946), causou escândalo nos Estados Unidos e fez com que o jornal New York Times tivesse uma futura amnésia de seus seis próximos livros lançados depois desta afronta. Nenhuma linha foi escrita sobre a literatura de Vidal no prestigioso jornal por anos a fio por causa deste livro.

O pecado? Retratar dois jovens sem problemas psicológicos ou distúrbios vivendo um caso homossexual. Detalhe importantíssimo: eles também não acabam no final do livro punidos por isto. Apesar de ter sido publicado quase duas décadas depois de “O Poço da Solidão” (1928), de Radcliff Hall, que também causou escândalo, mas na Inglaterra, o livro não condena a homossexualidade como acontece no romance da inglesa, pois é para o narrador algo natural.

O livro de Vidal abriu corações e mentes e Alfred C. Kinsey, ao lançar “Comportamento Sexual no Macho Humano” (1948),  fez uma nota agradecendo o escritor “por seu trabalho de campo”.

No cinema, como roteirista de Ben-Hur (1959), dirigido por William Wyler, ele fez um subtexto gay sem que ninguém soubesse:  “Charlton Heston nunca soube disso, mas, para mim, Ben-Hur e Massala tiveram um romance na adolescência. Depois de muito tempo separados, Massala volta e quer reatar o romance. Diante da impossibilidade, se torna inimigo de Ben-Hur”.

Desde os anos 1950, tinha um caso com publicitário Howard Austen, que faleceu em 2003. Vidal deve ser enterrado, se seguirem seu desejo, ao lado dele. O resto é silêncio e nunca amnésia.

Gore Vidal (Divulgação)
]]>
12
Carlos Reichenbach, generosidade libertária http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/14/carlos-reichenbach-generosidade-libertaria/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/14/carlos-reichenbach-generosidade-libertaria/#comments Fri, 15 Jun 2012 01:00:17 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=478 São muitas palavras para definir Carlos Reichenbach, que todos na verdade chamavam de Carlão, mas se tivesse que escolher uma seria: generosidade. A morte do cineasta, nesta quinta-feira, 14, só comprova que o país paulatinamente vai perdendo seus pensadores mais libertários, que o Brasil com sua ascensão para um país novo-rico vai ficando um lugar mais egoísta.

Mas não é hora de falar dos tempos de hoje, é a hora da perda e como o instinto de permanência daquilo que se esvai, a memória se torna peça sólida para termos presente aquilo que não está mais entre nós.

A primeira lembrança vem não de um filme, mas de um ato. Éramos todos alunos da ECA-USP meio angustiados com a pasmaceira que ali vivíamos e resolvemos fazer uma semana de estudos cinematográficos. Carlão, sem nos conhecer e já um cineasta consagrado, aceitou na hora fazer um workshop de direção… de graça.

Uma outra lembrança é como ele sabia, por vias improváveis de seu talento, colocar atores então questionáveis na qualidade dramatúrgica como protagonistas, em papeis cruciais, e tirar um resultado inesperado (para nós, não para ele) deles. É o caso de Beth Faria em “Anjos do Arrabalde” (1986) ou Carlos Alberto Riccelli em “Dois Córregos” (1999).

Por fim,  lembro-me de uma longa entrevista que fiz com ele a pedido do jornalista Marcelo Rezende. Carlão me confessou que quando jovem conhecia todos os cinemas de São Paulo e que ia de bicicleta do Jabaquara até o Tatuapé ou a Penha (para quem não mora na capital paulista, eu digo, são grandes distâncias) para ver um filme qualquer, num misto poético de  “E.T.” e o “Grande Momento”, clássico de Roberto Santos.

Nestas três memórias pulsam generosidade, seja com o cinema, com os atores e com os desconhecidos.

Era um anarquista, um libertário. As questões da liberdade e da liberdade sexual eram uns dos pontos centrais para ele. A homossexualidade de companheiros da sétima arte, como a de João Silvério Trevisan, eram por ele admirada, como sinal de coragem em um tempo e uma sociedade (ainda) tão conservadora.

Para ele tanto fazia se você era gay, hétero, ou o que quisesse ser, o importante era amar o cinema. E ele o amou! Com generosidade e de forma libertária.

Carlos Reichenbach, cinema e utopia sempre (Rafael Hupsel - 23.dez.08/Folhapress)
]]>
3
“I feel love”, Donna Summer: ícone da música, da liberação sexual e dos gays http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/17/we-feel-love-donna-summer-icone-da-musica-da-liberacao-sexual-e-dos-gays/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/17/we-feel-love-donna-summer-icone-da-musica-da-liberacao-sexual-e-dos-gays/#comments Thu, 17 May 2012 20:30:28 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=347
Donna Summer, diva (Adlen - 11.ago.79/Associated Press)

O poderoso produtor Quincy Jones ao saber da morte de Donna Summer, nesta quinta-feira, 17, escreveu: “Descanse em paz, querida Donna Summer. Sua voz foi a batida e a trilha sonora de uma década.”

Pensar em LaDonna Adrian Gaines como alguém definidora de uma época é muito para muitos artistas, mas é pouco pela grandeza simbólica desta cantora nascida em Boston. Ela foi e é a Disco, a década de 70, mas também o chamado hedonismo que Madonna soube reaproveitar repaginado para a época da Aids nos anos 80 e 90. Negra, sexy, mulher, Donna Summer não poderia ser a melhor figura para personificar um certo ideal de liberdade almejado nos anos 1970 ( no bojo das lutas pelas direitos dos negros, da mulher e da liberdade sexual), mas que continua ainda de maneira silenciosa a nos cutucar. Sim, Donna Summer foi uma verdadeira “bad girl”

[youtube V5AztWseIdU nolink]

Com o produtor italiano Giorgio Moroder, eles formaram uma espécie de dupla dinâmica da nova música para dançar que surgia direta dos globos espelhados. A escritora e jornalista Claudia Assef escreveu sob o impacto da notícia da morte da cantora: “Numa atitude à la Gainsbourg, Donna Summer levou o sexo às boates. Tremendamente sexy no visual, ela gravou a proibidona “Love To Love You Baby”, com sussurros e gemidos gravados ao longo de seus 17 minutos de música, isso em 1975. A BBC chegou a contar 23 orgasmos na música. Lógico que a faixa foi censurada em diversos países!”

Esta bomba sexy caíria no agrado de gays e travestis. Até hoje, muito de seus sucessos como “Hot Stuff”, “Enough Is Enough” e “My Life” são números constantes em shows de transformistas.

O hedonismo da música de Donna Summer e da vida gay pré-Aids – que estava muito mais a serviço de uma revolução dos costumes [contra família, o casamento e a ordem estabelecida bem ao gosto das contestações da geração pós-guerra] do que a atual luta por uma inserção neles [os costumes] e a conquista de direitos civis – se entrelaçam para iluminar uma ideia: a liberdade também é feita da liberação sexual.

O culto à Donna Summer também representa para muitos gays a afirmação que os caminhos da sexualidade e da liberdade sexual são múltiplos, uma espécie de sopro melódico hedonista contra os ruídos moralistas deste estranho terceiro milênio. Não à toa, a cantora se transformou como suas fãs transformistas em ícone gay, mesmo depois dela fazer aparições em diversos programas de TV cristãos, que costumam tratar os homossexuais como lixo. Mesmo assim, os gays nunca a abandonaram, basta ler as inúmeras mensagens de pêsames deles hoje por sua morte de câncer aos 63 anos.

Com certeza esta não foi sua “last dance”, Donna Summer!

Donna Summer em Berlim, na Alemanha, em 2009 (Marc Muller - 30.jul.09/France Presse)
]]>
14