Blogayheterossexual – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Héteros que se garantem: ‘Minha sexualidade não tem nada a ver com meu caráter’ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/18/heteros-que-se-garantem-minha-sexualidade-nao-tem-nada-a-ver-com-meu-carater/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/18/heteros-que-se-garantem-minha-sexualidade-nao-tem-nada-a-ver-com-meu-carater/#comments Sun, 18 May 2014 20:00:35 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1696 Em uma sociedade acostumada a vigiar e punir os homens heterossexuais  ou não que saem fora das normas de conduta do padrão do que se entende por masculinidade, ver héteros dando de ombros para o policiamento feito por outros héteros, mulheres e mesmo gays é muito alentador e nos enche de esperança de um mundo com menos patrulha.

Gabriel Yamamoto Nanbu, 30, é jornalista do site “Virgula” e deu de ombros para a policia da sexualidade quando uma amiga da redação, Juliana Tozzi, propôs a ele ser o personagem de uma reportagem que teria de ir à feira LGBT, se montar de drag e participar de um concurso. Em anos de redação, já vi meninas tentarem com que garotos fizessem este papel e a resposta sem foi a da recusa. Brincando com o policiamento e o invertendo, diria que eles não foram machos o suficiente.

Porém, Nanbu, hétero e não diferente dos outros homens, sempre vigiado para saber se sua conduta fugia dos padrões do que consideramos coisa de homem, teve culhões e topou ir fundo na matéria.

Ele se montou de drag (que acabou sendo batizada de Felícia Drag), narrou suas dificuldades sem pudor e, depois da experiência , continuou com a mesma orientação sexual, o medo de muitos héteros, mas estes, diferentes de Nanbu, não se garantem.

Blogay fez três perguntas para Nanbu sobre o assunto:

Blogay – Qual foi a sensação de vestir-se de drag? Como foi a experiência?

Gabriel Yamamoto Nanbu – Foi uma experiência bem bacana, algo pelo qual eu nunca tinha passado na minha vida. Me ver como uma mulher toda maquiada deu um nó na cabeça; às vezes, eu tinha dificuldade de me reconhecer no espelho. A experiência de incorporar a personagem Felícia Drag foi um desafio dos grandes, já que as drags são superfemininas e superextrovertidas, o oposto de mim. Estava totalmente fora do meu habitat, mas visitei um universo muito, muito interessante.

Você não teve medo de bullying ou alguma represália?

Eu fiquei um pouco apreensivo com a reação de algumas pessoas que conheço no Facebook (claro que a reportagem seria compartilhada por lá). Sabia que algumas pessoas não aceitariam bem. No entanto, cheguei à conclusão de que a reportagem seria uma informação positiva na timeline delas, poderia fazê-las repensar alguns preconceitos.

Você acredita que existe uma grande patrulha em relação ao homem hétero para que, a qualquer saída do padrão do que é chamado de masculinidade, acusá-lo de gay. Como você lida com esta patrulha?

Sim, certamente existe. Muitos conhecidos “brincaram” comigo depois da publicação da reportagem. “Finalmente saiu do armário, hein”, “Eu já sabia”, “Que viado” foram coisas que escutei. Eu, muito sinceramente, não me importo. É estranho as pessoas ainda se sentirem ofendidas por serem tachadas de “gay”. Minha sexualidade não tem nada a ver com meu caráter. Sei que muito cara hétero tem medo de se envolver com qualquer aspecto do universo da cultura gay por receio de ser julgado, já que vivemos em uma sociedade heteronormativa e preconceituosa. Eu prefiro não ter medo de ser julgado do que me preocupar em cumprir as expectativas de ser “machão”, super-hétero que assobia para menina na rua e coça o saco…

Gabriel Nambu como Felícia Drag, um hétero que se garante (Gabriel Quintão)
Gabriel Nanbu como Felícia Drag, um hétero que se garante (Gabriel Quintão)
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A invisibilidade da visibilidade lésbica http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/08/29/a-invisibilidade-da-visibilidade-lesbica/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/08/29/a-invisibilidade-da-visibilidade-lesbica/#comments Thu, 29 Aug 2013 06:00:22 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1377 Ainda pré-adolescente, escutei “Bárbara”, de Chico Buarque na voz de Simone e Gal Costa na casa de uns amigos. Ali, naquela tarde de chuva, com o disco na vitrola, no começo dos anos 1980, algo se mostrava pra mim: a música era sobre o amor de duas mulheres. Era algo possível e poético em um mundo que pra mim até então era feito apenas do amor entre homem e mulher.

Tempos depois, no antigo cineclube do Bixiga, assisti “Fome de Viver” (“The Hunger”, 1983), de Tony Scott. Ali, as atrizes Catherine Deneuve e Susan Sarandon se beijam e transam.

Desde então amigas homossexuais me cercam e a lesbianidade é algo palpável e diverso para mim. Das chamadas caminhoneiras do antigo Ferro’s Bar às “lesbian chic” da cena clubber de São Paulo dos 90, elas sempre estiveram visíveis para mim.

Mas uma parte do mundo está muito longe da canção de Chico e do filme cult da subcultura gótica da década de 1980. Uma parcela dele, infelizmente, acredita no estupro corretivo como forma de reversão da lesbianidade – pior que qualquer cura gay pois carrega a violência sexual em seu âmago.

A visibilidade lésbica carrega agentes mais complexos que a dos homossexuais masculinos que muitas vezes a jogam ao invisível. A começar pela bissexualidade mais permissiva que a sociedade contemporânea tem em relação às mulheres, muito diferente de como trata a mesma questão na chave do sexo masculino.

Longe de afirmar que a bissexualidade seja um problema – ela deve ser respeitada e vivenciada para os que tem esta orientação sexual – mas traz uma confusão para a afirmação das lésbicas.

Ela (a tal bissexualidade consentida) acontece também porque a relação entre duas mulheres é aceita enquanto fetiche do homem heterossexual – por isto o quesito bissexual, para depois, dentro da fantasia, ter também a relação sexual também com o sexo masculino. Não que o fetiche não seja legítimo, mas a lesbianidade fica apenas – socialmente aceita – como apêndice da relação heterossexual.

Enfim, não existe pior invisibilidade do que esta que é não existir em sua completude, a visibilidade lésbica deve ser plena como o amor de Bárbara, como o beijo de Catherine Deneuve e Susan Sarandon.

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A situação tá russa: Heterossexual é preso por defender gays http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/04/13/a-situacao-ta-russa-heterossexual-e-preso-por-defender-gays/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/04/13/a-situacao-ta-russa-heterossexual-e-preso-por-defender-gays/#comments Fri, 13 Apr 2012 23:30:07 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=248 No último domingo, 7,  Sergey Kondrashov segurou um cartaz, em São Petersburgo, na Rússia, com a seguinte frase: “Uma querida amiga da família é lésbica. Minha esposa e eu a amamos e a respeitamos. E sua família é exatamente igual a nossa.” Ele foi preso.

Sergey Kondrashov segura placa pró gay antes de ser preso (Divulgação)

Acusado de ativista, o advogado só queria mostrar seu apoio a uma amiga homossexual e solidarizar-se contra a lei anti gay (que proíbe qualquer “propaganda” homossexual, aliás nem a palavra gay pode ser falada)  aprovada na cidade russa de São Petersburgo. Na verdade, Sergey ergueu seu cartaz porque acredita que todos os russos são iguais perante o Estado e devem ter os mesmo deveres e mesmo direitos e a lei anti gay não faz nenhum sentido.

Por sua atitude fraterna, ele pode ser multado e preso por até duas semanas. Entidades ligadas aos direitos dos homossexuais estão protestando contra a prisão. Pois a lei anti gay de São Petersburgo, mais do que um reflexo dos tempos presentes, é um sintoma de um passado ditatorial travestido de comunismo que acreditava que os homossexuais eram o sinal da decadência do capitalismo.

Se o tal comunismo real caiu, muito de seus aparatos continuam firmes como o autoritarismo presente na figura quase “imexível” do Primeiro Ministro russo Vladimir Putin, os privilégios dos burocratas transferidos para os mafiosos e o puritanismo do proletariado transformado em moral conservadora.

Enquanto isso, a Rússia mostra ser um país pouco amistoso com os homossexuais e acaba de rejeitar a declaração dos direitos dos homossexuais pelo G8, nesta quinta-feira, 12. É, infelizmente, a próxima placa que o gays e progressistas devem levantar por lá é: “A coisa tá russa!”

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Filme mostra que as relações homossexuais podem ser semelhantes as héteros http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/04/04/filme-mostra-que-as-relacoes-homossexuais-podem-ser-semelhantes-as-heteros/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/04/04/filme-mostra-que-as-relacoes-homossexuais-podem-ser-semelhantes-as-heteros/#comments Thu, 05 Apr 2012 02:50:32 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=207
Cartaz do filme "Verão em L.A." (Divulgação)

Existe duas perspectivas do que é ser (ter uma vivência) gay que muitas vezes se confundem, se opõem e dialogam. Uma é de rebeldia contra o sistema binário masculino-feminino, contra a ideia de monogamia, o casamento e o modo de vida normativo. A outra é de inserção, a favor da extensão dos direitos civis aos homossexuais, de uma reafirmação do sistema binário masculino-feminino em uma chave mais liberal e uma aproximação ao modo de vida heterossexual.

Neste sentido, o filme “Verão em L.A.” (“August”), do diretor israelense Eldar Rapaport, encaixa-se mais no segundo caso e traz, principalmente para uma plateia heterossexual, a ideia que as diferenças entre o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo podem não ser muito diferentes das relações entre homem e mulher.

A começar pela ideia de triângulo amoroso, uma estratégia clássica da literatura romântica, transposta para o personagen Troy (Murray Bartlett), que volta para Los Angeles e reencontra com seu antigo namorado Jonathan (Daniel Dugan), agora se relacionando com Raul (Adrian Gonzalez). Neste sentido, coloca-se uma espécie de universalização dos relacionamentos, tanto homos como héteros podem cair nestas “armadilhas de Vênus”. Assim como a crise de Troy é muito conhecida de todos – tanto héteros como homos – que ao sentir que a vida amorosa parece sem muito sentido, volta-se às lembranças da última e mais forte paixão.

Dentro do contexto de  aparar as diferenças entre as relações héteros e gays, o filme é muito eficaz e até didático.  Ao mostrar em uma cena – aliás a única que explicita os papeis sexuais na cama dos personagens –  Jonathan transando como passivo, podemos enxergar aí também a reafirmação do sistema binário masculino-feminino. Ele é o apaixonado, o frágil, o confuso, enfim, no esquemático sistema binário, ele seria a mulher, enquanto Troy é o masculino que mesmo confuso é quem conduz a história. Mas como disse, é um sistema binário mais liberal e essa função cabe ao personagem Raul, que cumpre um importante papel para o desenlace do triângulo.

Ao mostrar que os relacionamentos homossexuais podem ser muito parecidos com os heterossexuais, “Verão em L.A.” ajuda a desmontar um pouco o medo de audiências mais conservadoras em relação ao amor gay e isto é um grande mérito.

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Se todos fossem iguais a você, George Clooney http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/03/02/se-todos-fossem-iguais-a-voce-george-clooney/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/03/02/se-todos-fossem-iguais-a-voce-george-clooney/#comments Fri, 02 Mar 2012 22:03:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=103 O mundo precisa de mais Georges Clooneys. E não é nem no quesito beleza, nem fortuna, mas na questão de gente bem resolvida. Ok, não existe gente totalmente bem resolvida, mas o que tem de gente que quer se resolver julgando os problemas dos outros e acreditando que isso é um caminho para se tornar uma pessoa melhor, “mais próxima de Deus” estando certamente muito mais perto do Diabo, não é brincadeira. Principalmente, neste Brasil fundamentalista nosso de cada dia.

É preciso ser muito bem resolvido para declarar que nunca se preocupou em desmentir os boatos se era ou não gay.  “Acho engraçado, mas a última coisa que você jamais vai me ver fazer é dizer: ‘Isto são mentiras!’ Seria injusto e cruel para os meus bons amigos da comunidade gay. Eu não vou deixar ninguém fazer parecer que ser gay é uma coisa ruim. Minha vida privada é privada, e eu estou muito feliz com ela”, disse o George Clooney, 50, em entrevista para a revista “Advocate”. “Eu estarei morto há muito tempo e ainda haverá pessoas que dirão que eu era gay. Eu não dou a mínima”.

Homem que se garante, diriam muitas amigas minhas. E homem que se garante não precisa provar nada pra ninguém, só pra si mesmo. Mas para além da autoconfiança, o que Clooney avança é atentar sobre o padrão cultural que certas verdades prontas como macarrão instantâneo se formam, perceber com clareza as armadilhas de pensamentos solidificados que parecem fórmulas universais imutáveis, mas são só produto de seu tempo como “ser gay é algo ruim” ou a balela que “toda mãe não quer ter um filho gay”.

Frases como estas acima cristalizadas no panorama cultural parecem – mas não são – uma verdade universal que Clooney sabe bem o fundo ao defender o casamento gay. “É o mesmo tipo de argumento que eles [os conservadores] fizeram quando eles não queriam negros para servir nas Forças Armadas, ou quando eles não queriam que os negros se casassem com brancos. Um dia, a luta pelo casamento igualitário parecerá tão arcaica quanto impedir alguém de ir à universidade por ser negro”.

O ator fará junto com Brad Pitt, Martin Sheen, Kevin Bacon, Jane Lynch, Matthew Morrison, Jamie Lee Curtis e Rob Reiner a leitura de uma peça sobre o casamento gay no YouTube, ao vivo do Ebell Wilshire Theatre, em Los Angeles, Califórnia, às 19h45 (14h45 no horário de Brasília). A peça, escrita pelo vencedor do Oscar de melhor roteiro por “Milk – A Voz da Igualdade”, Dustin Lance Black, é um relato de um caso apresentado pela Fundação Americana para os Direitos da Igualdade (AFER) no Tribunal Distrital dos EUA em 2010 para derrubar a Proposição 8, uma emenda constitucional que eliminou os direitos dos casais do mesmo sexo a casar-se no estado da Califórnia.

Engajado na luta pelos direitos dos gays, Clooney mostra generosidade acima de tudo, em um mundo cada vez mais mesquinho, que fundamentalistas sujam Cristo de sangue (coitado!) para impedir outras pessoas que não tem nada com as suas vidas de serem felizes. Incomodam-se tanto com os gays que esquecem de olhar para dentro de suas próprias vidas e viverem em conformidade com o que pregam, confundindo amor com ódio.

Claro que, ao invés de olhar a sua própria sexualidade que deve ser problemática para se incomodar tanto com a dos outros, devem comentar como ratos e com um ar de maldade a sexualidade do ator que segundo o F5 “foi casado de 1989 a 1993 com a atriz Talia Balsam–, namora a lutadora Stacy Keibler, 32, e milita em prol do casamento gay”.

Ah, se todos fossem iguais a você, George!

George Clooney com a namorada, Stacy Keibler (Mario Anzuoni/Reuters)
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