Blogaygays – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A Parada Gay de São Paulo é negra e pobre http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/#comments Mon, 05 May 2014 23:00:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1688 No domingo, 4, o centro de São Paulo parou para ver a Parada LGBT passar. Durante as seis horas que permaneci no evento, uma constatação que já tinha feito em outros anos se impôs:  o evento gay é feito principalmente por negros e pobres.

“Jardim Ângela”, “Itaquaquecetuba”, “Pirituba” foram algumas das inúmeras respostas à pergunta que fazia aos participantes pra saber de onde é que eles tinham vindo para o evento. Muitos com cabelos com luzes, outros com um corte que lembrava o do sertanejo Gusttavo Lima, muitos com camisetas de marca e algumas tatuagens tribais que os desenhos muito lembravam uma espinheira, sem falar do boné. Estava de frente com uma classe social que conhecia das fotos dos jornais, dos chamados rolezinhos. As classes C e D ocupam novos lugares em um misto de enxergar a Parada como diversão enquanto consumo e também como um ato de cidadania (seja consciente ou não).

A Parada também lembrou muito os entrudos populares, os carnavais de rua do Brasil Colonial e monarquista que os escravos eram os protagonistas e os brancos assistiam à festa de suas janelas. E não precisava de nenhum instituto de pesquisa para constatar o óbvio, a presença de uma imensa maioria de pessoas negras.

Esta presença de negros e pobres no evento o faz ter muito mais significados e levanta complexidades mais ricas sobre as minorias no país. Já escrevi aqui que a luta de uma minoria é a luta de todas as minorias, e a presença delas em uma parada gay, mesmo que de forma desarticulada só comprova a tese acima. Estão todos na mesma marcha querendo direitos e respeito.

A parada paulistana surgiu branca e hype, era chique ir defender os gays, mesmo você sendo apenas um simpatizante, termo usado na época. Com os anos, um evento de graça, em uma cidade que o dinheiro rege o seu poder de ter lazer, fez com que negros e pobres também quisessem este ato de cidadania (a diversão de graça mais do que a própria parada). Entretanto, a presença, nos primeiros anos até violenta e mal educada destes novos convidados, afugentou.

Surgiram muitas desculpas, então, como as que parada virou uma micareta, um Carnaval fora de época (sempre foi e isto faz parte de nossa cultura), agora só tem putaria (sempre teve e não devemos olhar com moralismo, o mesmo moralismo que, de fundo, condena a existência de homossexuais), não era politizada (nunca foi em um sentido muito dogmático e restrito do termo). Desculpas para, talvez, esconder a verdadeira razão, a questão classista disfarçada na expressão “agora só tem gente feia”.

Talvez as únicas desculpas aceitáveis eram as das mulheres que ficaram assustadas com o assédio de um grande número de homens héteros que iam fazer pegação na Parada. Mas este ano, vi muitas lésbicas bem à vontade sem serem repreendidas por nenhum marmanjo. Não vi abordagens ostensivas que já cansei de presenciar nas edições passadas, nem vi tanto lixo no chão, nem pessoas muito bêbadas caídas, nem um clima de possível violência. Vi um ato civilizatório entre gays e negros e pobres e a própria Parada, porque, mesmo que inconscientemente, estavam todos lá por direitos, nem que fosse pelo direito de se divertir.

18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
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A tal questão de gosto dos homossexuais http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/03/29/a-tal-questao-de-gosto-dos-homossexuais/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/03/29/a-tal-questao-de-gosto-dos-homossexuais/#comments Sat, 29 Mar 2014 18:00:53 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1638 Recentemente, um texto de Marcio Caparica no site Lado Bi sobre a busca da masculinidade total que muitos gays se impõem e exigem dos seus parceiros e amigos gerou certa polêmica entre os homossexuais masculinos.

De forma breve explico, o texto coloca uma questão importante já discutida pelo colunista americano Dan Savage: que os homens heterossexuais vivem em eterno estado de vigilância por todos (seus amigos, as mulheres, os outros héteros, os LGBTs). Qualquer deslize dentro de uma conduta dita adequada para “machos”, podem acabar fazendo com que sejam apontados como homossexuais ou não tão “homens” (como se gays não fossem homens…) suficientes.

Ao fazermos tal policiamento de forma ostensiva ou mesmo de modo leviano e bem humorado, enfim, de todas as elas, contribuímos para a manutenção de certos padrões machistas e homofóbicos.  Afinal, por que nos interessa tanto a sexualidade do outro (desculpando-se apenas se for para fins sexuais)? E o mais estarrecedor é que fazemos esta vigilância com a maior naturalidade. Todos!

Levantado este ponto, vem o próximo que diz sobre  a exigência de muitos gays de se mostrarem machões. O texto diz: “Amarrar-se a uma masculinidade completa é a verdadeira demonstração de uma visão limitada do que é ser gay. O homem que se coloca nessa jaula se priva de samplear a enorme gama da sexualidade humana, e se engana quando se sente privilegiado ao se limitar à caixinha de uma identidade que sabe não ser a sua. Não adotar alguns (ou muitos) comportamentos pintosos porque não se identifica com eles é normal e razoável. Quando um homossexual repudia absolutamente tudo do “mundo gay”, no entanto? Isso é sintoma de um medo de rebaixar-se ao se afastar do olimpo tão cobiçado da heteronormatividade. E pior, ceder a esse medo não traz vantagem nenhuma. Ninguém além do próprio vai considerá-lo um gay melhor por isso – nem os héteros, muito menos os ‘outros’ gays. Melhor é escapar dessa tocaia e se permitir experimentar outras atitudes. A vida vai ser mais relaxada – e quem sabe até mais feliz”.

Pronto, bastou isto para muitos homossexuais nos comentários do post se revoltarem contra o autor. A desculpa: a questão do gosto. “Mas eu gosto de ser masculino”, ou “Eu prefiro sair com homens discretos”. Antes de mais nada, gosto se discute sim, porque ele não é só uma conquista individual, ele carrega muito da cultura, muito mais do que pensamos, por isto ele se modifica, se aprimora, se cultiva. Se fosse estático como algo individual que trazemos do nossa nascimento, ele não se transformaria.

Posto isto, é muito estranho em diversos aplicativos gays, chats de encontro entre pessoas do mesmo sexo nunca aparecer: “só curto efeminados”, “dispenso discretos”. Se é uma questão de gosto, porque não existe este gosto por efeminados, mesmo que em pequena escala. Se a nossa sexualidade é tão diversa porque estas categorias nunca aparecem como algo desejável. Há alguns anos, era muito frequente o texto de gays que procuravam parceiros em chats dizendo: “não curto gordos” ou “velhos fora”. Com a ascensão da cultura urso no meio gay, estas prerrogativas foram sendo cada vez menos colocadas e manifestadas (a pessoa pode até não desejar gordos, mas é cada vez mais raro ela escrever isto). Aliás, hoje, tem uma quantidade grande que deseja pessoas mais velhas: “curto coroa” é um termo muito presente nos aplicativos de encontros gays. Mais uma prova que gosto se aprimora, se modifica.

Não é uma questão que, mais pra frente, os gays só irão curtir homens mais femininos, mas talvez muito deles irão se permitir, se refletirmos por que nós, homossexuais masculinos, negamos tanto a feminilidade em nós e nos outros como algo desejável.

De fundo e para se pensar,  o não gostar de efeminados passa muito perto pelo mesmo discurso daqueles homofóbicos que dizem que não gostam de gays. A desculpa é a mesma: “é uma questão de gosto”. Será?

David de Michelangelo (Wikicommons)
David de Michelangelo (Wikicommons)
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Que Comissão dos Direitos Humanos é essa? http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/16/que-comissao-dos-direitos-humanos-e-essa/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/16/que-comissao-dos-direitos-humanos-e-essa/#comments Wed, 16 Oct 2013 23:00:19 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1448 Os protestos contra Marco Feliciano (PSC-SP) quando assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara, no começo deste ano, já previam sua ação desastrosa em um lugar que tem como princípio a inclusão e a tentativa de corrigir erros históricos com os oprimidos, sejam eles negros, índios, mulheres, portadores de necessidades especiais, gays, ou tudo isto misturado. Ao aprovar um projeto de lei que evita a criminalização de religiosos, caso se recusem a realizar casamentos homossexuais, batizados de filhos de casais gays ou mesmo terem o poder de expulsar a presença de LGBTs de igrejas e templos, como noticia a Folha, ele mostra a verdadeira face desta Comissão.

Atrás da máscara de proteção, a Comissão evidencia seu verdadeiro papel fundamentalista e intolerante, pois em seu núcleo não existe o projeto de inclusão, fundamental para os chamados direitos humanos e sim, o seu antagonismo: a exclusão.

Não é a questão de gays quererem batizar seus filhos ou casarem em certas religiões. Os LGBTs aprendem desde muito cedo que não é bom frequentar onde não são bem-vindos. Ninguém quer o congraçamento espiritual em um lugar que se é hostilizado, não faz bem para a espiritualidade de ninguém, isto os fundamentalistas podem ficar bem tranquilos. Talvez um militante bem radical possa querer como afronta, mas é algo raro e não precisa de projetos de lei para evitar excessos deste nível. Até porque os gays querem é casar no civil, o religioso é opcional e existem outras religiões que os LGBTS podem fazer este tipo de cerimônia sem estresse.

O que verdadeiramente ressalta aos olhos é a questão da expulsão de gays de igrejas e templos. Na contramão do catolicismo na voz do papa Francisco que parece estender a mão aos homossexuais, mesmo que dentro de pré-requisitos questionáveis, Feliciano e sua trupe trabalham com a exclusão e contra a diversidade.

Aceitam os gays egodistônicos (aqueles que estão em conflito com sua orientação sexual ), mas na desculpa de ajuda, visando o interesse econômico que podem ganhar com tratamentos. Aceitam os que querem se curar por acreditarem nas palavras preconceituosas dos fundamentalistas e assim estes mesmos religiosos podem lucrar muito com isto – estou falando de grana mesmo. E isto a sociedade civil não aceita, como aconteceu com a rejeição do projeto de lei de “cura gay”, que esta mesma comissão obscurantista aprovou, mas que a pressão popular das manifestações de junho fez com o Congresso rejeitasse tal aberração.

Uma comissão, presidida por uma mente como a de Feliciano e formada quase em sua totalidade por pessoas que pensam como ele, não se deve esperar nada e este projeto de lei é seu maior exemplo. Era para ser um lugar para defender as minorias e os oprimidos, mas como quase tudo no Brasil, acabou sendo um lugar de defesa de seus próprios interesses.

 

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Mamma mia! A força do pink money: o caso Barilla http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/08/mamma-mia-a-forca-do-pink-money-o-caso-barilla/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/08/mamma-mia-a-forca-do-pink-money-o-caso-barilla/#comments Tue, 08 Oct 2013 15:00:41 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1435 Logo depois que o presidente do grupo Barilla, Guido Barilla, declarou que “nunca faria um anúncio com uma família homossexual” e que “se os gays não gostam (da decisão), eles podem ir comer outra marca”, para uma rádio italiana, ativistas gays assim como artistas, como a atriz Mia Farrow, começaram a propor um boicote aos produtos desta empresa.

Com os protestos, começaram a pipocar ironias com a marca como esta postada nas redes sociais:

Cartaz diz : “O amor é para os corajosos. Todo o resto é macarrão Barilla” em protesto contra a declaração do presidente da marca (Reprodução/Facebook)

 

Uma ironia muito curiosa chamou a atenção. Scott Bixby, editor de mídias sociais da Bloomberg – importante fonte de informação sobre o mercado financeiro e de negócio – escreveu no Twitter tirando um sarro da marca de massa: .“Gays não comem carboidrato”.

O fato do editor de mídias sociais, hoje considerada a primeira imagem de uma empresa, do porte da Bloomberg, ter tido humor e, de certa forma, ironizado a marca, dá pistas muitos maiores do que supomos. Não se trata de uma briga entre simpatizantes e homofóbicos. Mas de como marcas e empresas estão entendendo o atual mercado e as que não.

Uma matéria de quase uma ano atrás da revista “Época Negócios” diz que  marcas que apoiam com ações positivas o consumidor LGBT tem lucrado mais e este cenário parece não ter mudado, só aprimorado com o tempo. Não é de se estranhar a quantidade de empresas brasileiras e estrangeiras que, quando se discutia o casamento igualitário nos Estados Unidos, adotou o símbolo do movimento  pró-LGBT ( o =) em seus logotipos.

Mais do que a força política, (um campo que os religiosos fundamentalistas conseguem avançar e ocupar), os LGBTs se apresentam como uma força econômica (o tal do pink money – dinheiro que movimenta a economia vindos dos gays – é real e sua postura e consciência na hora de consumir é vital para sua cada vez maior valorização). Na força econômica que está a nossa força política.

É de direito o sr. Barilla se manifestar assim como é de direito os gays decidirem que não querem mais consumir este produto que os rejeita. Estamos no campo das liberdades individuais. Mas então porque o sr. Barilla recuou e apresentou um pedido de desculpas?

Não foi por que ele teve compaixão pelos homossexuais ou sentiu que foi preconceituoso, mas sim por que  algo poderia mexer em seu bolso. Sua cara no anúncio não nos convence, mesmo a empresa tendo se empenhado verdadeiramente para pedir desculpas aos homossexuais. Como comunicou o diretor geral da Barilla do Brasil e América Latina, Maurizio Scarpa: “Nós da Barilla temos a missão de tratar os nossos consumidores e parceiros como os nossos vizinhos – com amor e respeito – e entregar os melhores produtos possíveis. Tomamos essa responsabilidade a sério e a consideramos como parte fundamental de quem somos como uma empresa familiar. Embora não possamos desfazer os acontecimentos recentes, podemos pedir desculpas. Para todos os nossos amigos, familiares, funcionários e parceiros que magoamos ou ofendemos de alguma forma, estamos profundamente arrependidos”.

O importante neste caso é cada vez tomarmos consciência que o nosso poder econômico tem voz. O recuo da marca foi muito mais por questões econômicas do que humanistas. Cientes do poder do chamado pink money, as marcas concorrentes trataram de se mostrar diferente da Barilla: 

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Deus é menino e menina em show de Baby do Brasil http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/07/deus-e-menino-e-menina-em-show-de-baby-brasil/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/10/07/deus-e-menino-e-menina-em-show-de-baby-brasil/#comments Mon, 07 Oct 2013 14:30:29 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1423 Com quase um ano de estrada, o show “Baby Sucessos” encerrou sua turnê neste domingo, 6,  em São Paulo. Foi a última apresentação da aclamada volta de Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade, por anos foi nossa Baby Consuelo e depois do Brasil, que estava afastada de um repertório mais mundano desde que se converteu à Igreja Evangélica.

Baby do Brasil e seu filho, o guitarrista Pedro Baby (Divulgação)

Ao completar 60 anos, no dia  18 de julho de 2012, a cantora teve um chamado do filho Pedro Baby. O guitarrista queria a mãe cantando seus antigos sucessos.  Como ela mesmo diz no show: “não se faz mais 60 anos como antigamente”. Mas ela precisava ter a resposta de Deus. Pedro sabiamente disse: “Você acha que Ele não vai querer uma mãe e um filho tocando juntos?”

Mas, mesmo assim, ela preferiu jejuar e rezar para saber a resposta… Em Nova York (“porque Deus é chiquérrimo”, disse ela brincando).  A resposta veio: “Deus está te dando a unção de Daniel para você entrar na Babilônia e a unção de Oséias para santificar uma geração”.

Escrito desta maneira pode parecer que era muito mais uma pregação que um show (em um outro nível de vínculo, o da metáfora, até podemos considerar esta ideia como verdadeira), mas é tudo feito com delicadeza, sem o discurso impositivo que estamos acostumados a perceber em uma pregação. No fim , já encarnando a popstora, como ela se auto-intitula, diz: “Se você ler estes livros, você vai pensar que eles tomavam LSD”.

Ao pensar no repertório, Pedro novamente a reconfigura, pois Baby estava temerosa com o que cantar. “Mãe, tá tudo ali, eles vão saber que você sempre foi assim”.  Neste momento sutil de autocrítica, ela revela que talvez tenha sido radical como são alguns religiosos mais fundamentalistas e também como muitas vezes olhamos para certas posturas destes religiosos.

E o repertório do passado pré-gospel de Baby é repleto de amor, transcendência, espiritualidade e de felicidade. De certo modo, nada mais cristão em essência (e também de muitas outras religiões) impossível!

Está tudo ali, a compaixão, a generosidade e a poesia em músicas como “Planeta Vênus”, “Seus Olhos”, “Um Auê com Você” e “Menino Do Rio”.  A força de “Todo Dia Era Dia de Índio” apresenta-se muito atual, com o total desprezo do Governo Brasileiro (Executivo e Legislativo) em relação às questões indígenas. Mesmo podendo não ser a intenção da cantora, é um momento muito político do show e a plateia parece entender e mandar este recado para ela e a banda.

No bis, ela volta e diz que fará uma homenagem ao DNA de sua história. Pepeu Gomes, seu ex-marido com que teve seis filhos. É uma declaração de amor, agora não mais carnal  (“com todo respeito a sua atual esposa”, fala), mas intensamente espiritual. E canta “Masculino e Feminino”, grande sucesso do guitarrista dos Novos Baianos.

“Ser um homem feminino / Não fere o meu lado masculino / Se Deus é menina e menino/ Sou masculino e feminino”, diz a letra. E assim como Baby trocou a frase “dragão tatuado no braço” para “Jesus forever (para sempre) no braço” em “Menino do Rio”, ela também cantou que era “uma mulher masculina e não feria o seu lado feminino”. O interessante da música é que sabidamente Pepeu é heterossexual e sua preocupação sobre a tal masculinidade e feminilidade é de nível transcendente. E sua visão é muito abrangente, pois inclui os LGBTs também nesta visão de mundo.

Existe, generalizando, uma forte hostilização entre gays e evangélicos no país. Como se fossem inimigos inconciliáveis, esquecem-se que existe uma zona cinza, muito tolerante de ambos os lados. Baby do Brasil é o exemplo que esta indisposição tanto de um lado como de outro é para radicais. Diferente do discurso que prega que homem é homem e não existe áreas cinzas pois assim Deus quis, ela canta que é uma mulher masculina e ser um homem feminino não tira masculinidade deste homem e está tudo certo pois Deus é menino e menina.  E todos e todas saímos ungidos deste show!

Salve Baby do Brasil! (Greg Salibian/Folhapress)
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O papa Francisco e os LGBTs http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/09/21/o-papa-francisco-e-os-lgbts/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/09/21/o-papa-francisco-e-os-lgbts/#comments Sat, 21 Sep 2013 15:00:57 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1409 A primeira mensagem do papa Francisco aos LGBTs foi dada na coletiva para jornalistas que fez no avião de volta para o Vaticano, depois de sua visita ao Brasil neste ano.  E a segunda foi para o padre Antonio Spadaro, diretor da “La Civiltà Cattolica”, em um longo artigo em que ele reforça sua primeira declaração e desenvolve um pouco mais a ideia.

“Durante o voo em que regressava do Rio de Janeiro, disse que se uma pessoa homossexual tem boa vontade e busca a Deus, não sou eu quem vai julgá-la. Ao dizer isto, disse o que diz o catecismo. A religião tem o direito de expressar suas próprias opiniões a serviço das pessoas, mas Deus na criação nos fez livres: não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal. Uma vez uma pessoa, para me provocar, perguntou-me se eu aprovava a homossexualidade. Eu então lhe respondi com outra pergunta: ‘Diga-me, Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova sua existência com afeto ou a rechaça e a condena?’ É preciso sempre levar em conta a pessoa. E aqui entramos no mistério do ser humano. Nesta vida Deus acompanha as pessoas e é nosso dever acompanhá-las a partir de sua condição. É preciso acompanhar com misericórdia. Quando isso ocorre, o Espírito Santo inspira ao sacerdote a palavra oportuna”, diz o papa para a revista jesuíta.

O papa Francisco (Lalo de Almeida/Folhapress)

Estas duas mensagens do papa aos LGBTs significam uma mudança de postura da Igreja Católica em relação aos gays? A resposta é sim e não.

Se pensarmos nos discursos do seu antecessor, o papa Bento 16, que dizia, por exemplo, que o casamento homossexual “ameaça o futuro da humanidade”, podemos enxergar um discurso mais generoso e mais positivo em relação aos gays.

Existe uma sensível mudança ideológica no novo pontífice, por um lado, já não é mais a igreja que está no comando de tudo e todos, mas a igreja que quer arrebanhar, conquistar – pois tem perdido fiéis nas últimas décadas. E, neste sentido, o discurso de autoridade que condena, exclui, não cabe nesta nova igreja que deseja ser mais inclusiva.

Também no sentido filosófico, existe uma retomada explícita da questão do livre arbítrio. O papa diz claramente: “Deus na criação nos fez livres”. E vai mais longe, a coloca em um terreno esquecido ultimamente pelo cristianismo mas que está no seu cerne, a individualidade. “Não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal”. E não podemos esquecer como a individualidade e fundamental tanto para as questões de orientação sexual e de identidade de gênero.

O papa retoma valores fundamentais da cristandade e as coloca em primeiro plano, como o amor ao próximo, e o “atire a primeira pedra quem estiver livre de pecado” que é o avesso do discurso condenatório feito pela Igreja Católica como também em muitas outras religiões cristãs.

E melhor, critica a obsessão do catolicismo  – podemos entender por extensão o de outras religiões cristãs – de condenar certas posturas o tempo todo, todos ligadas à questão da individualidade. “Não podemos continuar insistindo só em questões referentes ao aborto, ao casamento homossexual ou ao uso de anticoncepcionais. É impossível”.

De certa forma, ele prega uma igreja mais tolerante, mas suas ideias não mudaram. Na mesma frase, ele diz: “a religião tem o direito de expressar suas próprias opiniões a serviço das pessoas”. Isto é, a igreja continua não concordando com a homossexualidade, com o aborto e os anticoncepcionais (apesar dele agora coloca-las como coisas secundárias pois existem outras questões mais importante como a pobreza, por exemplo). Quer dizer, suas opiniões continuam as mesmas.

De fundo, não existe mudança substancial, mas sim, se antes era a fogueira para os LGBTs, agora é possível ser um colega, um conhecido que apenas não concorda com nossas posturas, ficou mais leve.

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Obama reafirma a questão gay como uma das centrais no mundo de hoje http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/01/22/obama-reafirma-a-questao-gay-como-uma-das-centrais-no-mundo-de-hoje/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/01/22/obama-reafirma-a-questao-gay-como-uma-das-centrais-no-mundo-de-hoje/#comments Tue, 22 Jan 2013 04:00:47 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1035 Os gays (e quando digo gays considere a forma de chamar os LGBTs como um todo) realmente estão no centro das questões políticas mundiais. O exemplo mais recente foi o discurso de posse do presidente reeleito dos Estados Unidos, Barack Obama, nesta segunda-feira, 21, em Washington.

Ele, que é apontado como o homem mais poderoso do mundo, citou a revolta de Stonewall (que aconteceu em 1969 quando gays, travestis e lésbicas se rebelaram contra a polícia de Nova York pelas constantes humilhações e estelionatos sofridos) e a equipara a movimentos importantes para os direitos civis das mulheres e negros.

“Nós, o povo, declaramos hoje que a mais evidente verdade, a de que todos nós somos iguais, é a estrela que ainda nos guia, assim como guiou nossos antepassados através de Seneca Falls e Selma e Stonewall; assim como guiou todos os homens e mulheres, celebrados e não celebrados, que deixaram pegadas por esse longo caminho para ouvir um pregador dizer que não podemos andar sozinhos, para ouvir um rei proclamar que a nossa liberdade individual está intrinsecamente ligada à liberdade de cada alma da Terra”, disse o presidente.

E foi enfático: “Nossa jornada não estará completa até que os nossos irmãos e irmãs gays forem tratados como qualquer outra pessoa perante a lei, pois se realmente fomos criados como iguais, certamente o amor que atribuímos uns aos outros deve ser igual também”.

Ao colocar os direitos humanos no centro de seu discurso assim como a da igualdade de direitos à população LGBT, Obama endossa o papel que esta questão tem guiado discursos e ações políticas no mundo.

Neste exato momento, os gays estão também no centro do debate político na França através da lei que propõem o casamento homossexual. Do outro lado do mundo, o Vietnã estuda legalizar a união homossexual e é algo muito debatido na imprensa vietnamita.  Os homossexuais foram também peça importante na recente disputa pela prefeitura de São Paulo, no segundo turno gastou-se um bom tempo discutindo também os direitos dos gays, o que parecia algo um pouco deslocado (para os menos avisados) já que estávamos no terreno da municipalidade.

Se temos estes exemplos positivos acima, os gays também estão no debate de países africanos que ainda consideram a homossexualidade crime e em alguns casos querem aprovar uma pena de morte para aqueles que amam pessoas do mesmo sexo. No Brasil, um dos candidatos para vaga à presidência da Câmara dos Deputados, Ronaldo Fonseca (PR-DF), está vinculando sua candidatura com a ideia de levar à votação e derrotar propostas de direitos iguais aos homossexuais.

Obama então só reafirma que as questões dos direitos LGBTs estão mesmo no centro do debate político no mundo hoje. E por quê? Com uma crise econômica afetando o mundo, este seria uma pauta pertinente?

Com certeza diferente de todas as outras minorias que é muito explícito a questão do grupo (é clara e visível a identificação do negro, da mulher ou do cadeirante como grupo), os LGBTs trazem dentro de sua essência a questão da sexualidade e do sexo que é talvez um dos componentes que mais identifica a individualidade ou a liberdade do indivíduo. No sexo e no desejo sexual percebemos que algo pertence só a nós e que só a nós nos interessa para exercê-lo, isto é, trabalha-se no terreno dos indivíduos.

O que vale apontar é que atrás (ui) da questão gay está a questão das liberdades individuais, e é contra esta liberdade que o autoritarismo e o totalitarismo (que costuma surgir em tempos de crise econômica como a que vivemos hoje) sempre irá tentar se opor e destruí-la. Não estamos no centro do debate em vão.

Barack Obama na cerimônia de posse em Washington (Justin Sullivan/AFP)
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Eleições: Os gays como bode expiatório http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/10/17/eleicoes-os-gays-como-bode-expiatorio/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/10/17/eleicoes-os-gays-como-bode-expiatorio/#comments Thu, 18 Oct 2012 02:40:08 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=936
José Serra e Fernando Haddad em debate do primeiro turno (Joel Silva/Folhapress)

Nas últimas semanas, o centro das discussões da eleição municipal de São Paulo foi algo que está fora do debate entre os que querem saber qual o projeto de cidade que os dois candidatos restantes têm para a maior metrópole do país.  Um kit educacional contra a homofobia está no alvo tanto de Serra como de Haddad. Em um  primeiro momento, para um deles foi como ataque e para o outro foi como esquecimento. Depois, como um espelhamento, se inverteu.

Serra já no primeiro turno das eleições municipais voltou a usar a mesma tática de tentar atrair para si um eleitorado conservador. Quando na corrida presidencial de 2010, ele questionou Dilma Rousseff sobre sua posição favorável ao aborto – a “forçando a recuar”. Desta vez, foi com o tal do “kit gay”, nome pejorativo dado pela bancada fundamentalista do Congresso sobre material didático contra a homofobia que seria distribuído em escolas públicas. O projeto foi feito e elaborado com Fernando Haddad como ministro da Educação. Ataque.

Dilma vetou o kit “Escola sem Homofobia” por pressão da bancada evangélica. Para não acontecer uma manobra mais forte destes políticos para averiguarem as suspeitas de aumento de patrimônio do então ministro Antonio Palocci, a presidente não pensou duas vezes em ceder à pressão dos conservadores de sua base governista. Claro que o discurso de fachada foi outro, o material foi rejeitado porque “não era bem feito” (suspeite de todo político e militante que vira um esteta de uma hora pra outra). O então ministro da Educação sinalizou que o projeto só estava temporariamente suspenso. Já o candidato Haddad na sabatina Folha/UOL no primeiro turno se responsabilizou pelo ato do veto junto com Dilma, algo que ele não tinha feito antes. Esquecimento.

É bem verdade, os dois candidatos preferiram o discurso do atraso, do obscurantismo,  retornaram ao armário para usar uma linguagem bem gay.

No segundo turno das eleições municipais, temos a volta do tema agora com uma reviravolta digna de novela. Serra, em 2009, quando governador de São Paulo, aprovou e distribuiu um kit contra a intolerância e a homofobia muito semelhante ao que seus aliados – entre eles o pastor Silas Malafaia – tanto praguejaram contra. Dois vídeos aliás eram idênticos aos kit que petistas vetaram e depois chamaram de “mal-feitos”. A arma política homofóbica do tucano em ataccar o “kit gay” de Haddad acabou sendo apontada para ele mesmo. Esquecimento?

Já a colunista da Folha Vera Magalhães publicou a seguinte nota no dia 12 de outubro: “Lula tem dito que Haddad precisa se posicionar sobre a polêmica do ‘kit gay’ o quanto antes, para evitar desgastes. Quer que o candidato declare que não adotará material similar caso eleito”. Ataque?

Um projeto que era para educar os professores a ensinar os alunos a serem tolerantes com outras crianças e pessoas diferentes delas acabou se transformando – de forma mentirosa – em um kit que transformaria os jovens em gays.  Em seguida, usado como moeda de troca para livrar o ministro Palocci de qualquer acusação mais pesada que poderia pairar sobre ele e o PT. Depois, como discurso de ódio de religiosos fundamentalistas e políticos conservadores, usado pelo candidato tucano como arma de ataque (baixíssima, diga-se) em campanha eleitoral. E por fim, como jogatina política de dois partidos que nasceram com a democratização do país e que possuíam projetos modernizadores da sociedade. Lamentável.

Com as negações de todos eles em relação a um projeto pela diversidade e tolerância e seu uso político da forma mais safada, podemos concluir que os homossexuais, bissexuais e transgêneros são hoje o bode expiatório. E, exemplos históricos, sempre mostraram que isto nem sempre acaba bem… para os gays.

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Hebe Camargo e os gays http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/29/hebe-camargo-e-os-gays/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/29/hebe-camargo-e-os-gays/#comments Sun, 30 Sep 2012 01:00:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=885
Primeira gravação do programa da apresentadora Hebe Camargo, após a retirada de um tumor no intestino (Julia Chequer – 23.abr.12/Folhapress)

Tinha um amigo da faculdade que nunca saia às segundas-feiras à noite, pois era dia do programa da Hebe. Ele era homossexual.  Tinha uma conhecida que fazia questão de ter perucas loiras e cheias de laquê por causa da apresentadora. Ela era travesti.

De uma certa forma, Hebe Camargo, morta neste sábado, 29, encontrava eco no meio gay. Eu mesmo que, nos anos 1980, a achava perua quando isto era algo ofensivo para uma certa intelligentsia e muito reacionária – apoiou durante um tempo Paulo Maluf e Celso Pitta assumidamente para depois também de peito aberto fazer um mea culpa e se arrepender destas ligações -, tinha um carinho especial e, por que não,  um fetiche pelo sofá. Tá certo, vou confessar, todo o malufismo dela ficava para trás, quando ela entornava um copo de cerveja gelada, ao vivo.

Tinha uma colega de trabalho que dizia sentir tesão por mulheres mais velhas como a Hebe. Ela era lésbica. Tinha um amigo que no Carnaval saía vestido como a apresentadora, falando “que gracinha” para todos os homens que via pela frente. Ele era drag.

Com o passar do tempo, a lenda viva foi ficando mais lenda e mais viva na televisão brasileira. Sua parceria com Nair Bello, sua grande amiga, era digno do melhor da comédia produzida na TV. Sem falar que foi Hebe quem levou a drag Nany People para frente das câmeras. Não como algo meramente humorístico ou enfeite cômico como até então era o papel das drags na televisão aberta e sim como sujeito atuante. Nany entrevistava, opinava e também dava muita pinta, tudo para uma classe média bem conservadora do fim dos anos 1990 e começo dos 2000. “Hebe é uma santa. Sentei em seu sofá plebeia e saí de lá princesa”,  disse a drag em uma entrevista na época para a revista “Veja”.

Tinha eu que me despi dos preconceitos partidários dos anos 1980, do meu esnobismo intelectual de faculdades de humanas e, que por volta de 2007, fui escrever textos para ela e descobrir depois de décadas na TV que ainda tinha muito que aprender sobre o ofício assistindo nos bastidores Hebe atuar.

Hoje a TV está de luto, a deliciosa gargalhada se silenciou, mas tenho certeza – pois lembro dela rindo solto quando soube que Zé Simão disse na época que as múmias achadas em um convento em São Paulo eram a Nair Bello e ela – que ela iria chorar de gargalhar se assistisse este vídeo das ultramonas Las Bibas From Vizcaya:

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O que aconteceu no encontro de Celso Russomanno com o empresariado LGBT de SP http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/23/o-que-aconteceu-no-encontro-de-celso-russomanno-com-uma-parte-do-empresariado-lgbt-de-sao-paulo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/23/o-que-aconteceu-no-encontro-de-celso-russomanno-com-uma-parte-do-empresariado-lgbt-de-sao-paulo/#comments Mon, 24 Sep 2012 00:00:43 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=856
Manifestantes distribuem panfleto na porta da The Society, em São Paulo (Reprodução/Facebook)

Uma manifestação ocorreu no sábado à noite, 22, organizada pelos Setoriais LGBT do PT, PSDB, PSOL, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo e militantes independentes, na porta da The Society. Por volta de 60 pessoas, segundo os organizadores, distribuíram folhetos na entrada do clube pedindo explicações para André Almada, dono do boate, sobre a reunião na casa noturna entre o candidato à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB), líder nas pesquisas eleitorais e ligado a alguns líderes políticos e religiosos conhecidamente homofóbicos, e alguns setores do empresariado LGBT.

Na carta aberta que eles entragavam aos frequentadores da casa, os militantes levantaram alguns pontos que os leitores deste blog também me cobraram. O que foi discutido? Quais as propostas feitas pelo candidato do PRB?

O Blogay também interessado na discussão enviou algumas perguntas simples para o empresário que respondeu via assessoria:

“Sobre questões referentes ao bate-papo com o candidato Celso Russomanno, no clube de The Society, viemos a público elucidar os principais pontos, observados em fóruns de redes sociais.

Novamente reiteramos que a iniciativa partiu do PTB, do deputado Campos Machado, partido do qual o empresário André Almada é filiado desde 3 de outubro de 2009, quando recebeu convite para presidir o Departamento da Diversidade, sem no entanto ter ocupado o cargo nem ter sido atuante político. Acima de tudo, sua função social como empresário de entretenimento é dar todo o apoio necessário, independentemente de candidato ou partido, para políticas públicas que vão ao encontro do interesse da sociedade como um todo.

Abrimos espaço para que o candidato se apresentasse à classe LGBT. Além disto, sua visita a um clube gay, com a presença de personalidades e empresários do meio, inclusive o próprio Almada, mostra o comprometimento do candidato com o público, caso seja eleito.

Muito se tem questionado o porquê de não divulgarmos as propostas apresentadas. Em nenhum momento esse foi o objetivo do evento, que serviu para uma aproximação com o público gay. O próprio convite, feito pelo André Almada, deixou claro que se tratava de um bate-papo informal, sem cunho político ou necessidade de ampla divulgação pela mídia.

Quanto à sugestão de promovermos um debate com a presença de todos os candidatos, consideramos muito válida a ideia. Acreditamos que esse papel cabe à militância, não a um grupo empresarial, como o nosso. No entanto, colocamo-nos à disposição como apoiadores, cedendo espaço para a realização do evento relacionado”.

Apesar de esclarecedor em diversos aspectos, o comunicado oficial da assessoria não responde às perguntas – simples – que fiz ao empresário (como foi a conversa com o Russomano? Quais foram as propostas dele para o segmento LGBT?; como foi a reação dos convidados?; quem participou desse encontro?). Neste momento, ao qual Almada está sendo atacado por tantos segmentos ligados à militância de promover um debate às escondidas, tudo deveria ter mais transparência. O trecho que “era um bate-papo informal, sem cunho político” foi mostrado para alguns jornalistas ligados à cobertura de política que disseram que isto não existe, ainda mais de um candidato que está em plena campanha eleitoral.

O encontro

Convite do evento ( Reprodução)

O Blogay apurou e descobriu alguns fatos que aconteceram neste encontro que ocorreu na sexta-feira, 14, mas só veio a publico quase uma semana depois. Como são comuns nesta época eleitoral, alguns candidatos convidam empresários para conversar, mostrar ideias e foi um pouco nesta base que aconteceu o encontro. Mas diferente do habitual, havia uma forte presença de militantes do PTB – partido da base de apoio de Russomanno. Tinha-se a impressão da presença de uma certa imprensa pois tinham fotógrafos, pessoas com vídeo, mas realmente conhecida do público LGBT só estava o Mix Brasil. Pesquisa feita mostra que não se noticiou nada sobre o encontro em nenhum jornal relevante ou mesmo no site ligado aos homossexuais que estava presente. Todos os jornalistas amigos deste blog disseram que um evento desta envergadura – do provável prefeito da cidade de São Paulo ligado aos líderes da Igreja Universal (forte opositora dos direitos homossexuais) com o empresariado gay seria notícia de destaque em qualquer jornal, mesmo que a discussão fosse feita na base da informalidade.

Os discursos que antecederam o de Celso Russomanno foram todos feitos com muita cautela e elogiosos tanto sobre a casa noturna como do debate que estava acontecendo. O empresário Alberto Hiar, o Turco Loco, dono da grife Cavalera, estava sentado na plateia e foi convidado para subir à mesa de debate. Ele pode ter subido por ser talvez o mais famoso presente no encontro ou por muitos comentarem que ele faz parte da campanha de Russomanno e foi às reuniões de Campos Machado (PTB), realizados todas as segundas-feiras, para traçar diretrizes da candidatura a prefeito de Celso. Hiar foi contactado pelo blog, mas ainda não respondeu.

Por fim, Celso Russomanno chegou mais de 40 minutos atrasado e com um outro compromisso na agenda. Pediu desculpas pelo atraso, e foi realmente o único a falar sobre os LGBTs de forma mais direta. Disse que é contra a discriminação, que não é homofóbico, e teve uma funcionária que era transexual, e – o mais importante de sua fala – que ele ira escutar os gays, pois ele governará uma cidade para todos. Foram abertas para as perguntas, mas deu tempo apenas para duas , uma delas feita por uma moça que disse ser de um blog desconhecido falava sobre os cadeirantes, algo fora de foco para um debate específico. O candidato se despediu rapidamente pois já tinha outro encontro na sua agenda política.

Conclusão

Não foi discutido nada mais profundo, por isto a dificuldade deste blog de entender o mistério em volta deste encontro – importante sim – não podemos subjugar o potencial político nele contido em todas as suas nuances.

Dois pontos a ressaltar: os gays conhecem o discurso do “não sou homofóbico, tenho um primo, um cabeleireiro, uma funcionária que é  gay” para camuflar a homofobia… Mas, no caso, esta funcionária citada por Russomanno no encontro existe. Chama-se Maria Eduarda Borges, é transexual, e trabalhou para o deputado durante oito anos na Câmara Federal. Ela escreveu para o blog dizendo que nunca sentiu preconceito por parte do deputado.

Pois bem, o Russomanno pode até não ser homofóbico, mas em política, aprendemos rapidinho que este valor conta pouco. As forças que o apoiam e o financiam são – boa parte vinda dos líderes da Universal. Para não ir muito longe, temos o caso de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais, que no primeiro turno disse acreditar que o aborto é um caso de saúde pública. Era explícito que ela tinha um posição mais flexível em relação ao assunto. No segundo turno, as alianças que fez, inclusive com o atual ministro da Pesca, Marcelo Crivella – também ligado à Universal – fez com que recuasse sua posição para o lado inverso. Então, Celso pode até não ser homofóbico, mas se quem deu o dinheiro de sua campanha pressionar como fizeram com Dilma, ele nada poderá fazer a favor dos LGBTs.

Exatamente por isto, por mais burocrático que possa parecer o “vou governar para cidade e quero dialogar com os gays” ganha aqui uma outra conotação, muito mais importante e política. Se estas linhas tivessem sido publicadas ou assumidas por aqueles que estiveram no evento e tanto disseram que não aconteceu nada demais, poderíamos, mesmo que frágil, ter um argumento em uma hora de uma possível repressão por parte de uma provável gestão Russomanno: “Prefeito, você encontrou conosco, por que quer tirar a parada da Paulista? Ou por que quer fechar o Cads? Ou qualquer ato que poderá prejudicar gays, bissexuais e transgêneros.” Isto é algo de cunho político em essência.

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