Blogayentrevista – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Visibilidade trans: O 3º banheiro é um modo de fugir do problema aparentando resolvê-lo (parte 2) http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/04/visibilidade-trans-o-3o-banheiro-e-um-modo-de-fugir-do-problema-aparentando-resolve-lo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/02/04/visibilidade-trans-o-3o-banheiro-e-um-modo-de-fugir-do-problema-aparentando-resolve-lo/#comments Mon, 04 Feb 2013 22:30:44 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1062 Colocada a questão do não lugar social na transexualidade e o caso de Ranata Bastos, que em sua ida ao clube municipal do Pacaembu, em São Paulo, para ir à piscina, acabou sendo encaminhada para um vestiário masculino quando, com peitos e aparência feminina se sente mais à vontade frequentando o que é reservado para mulheres, surge a questão do terceiro banheiro.

Muitos acreditam nele como uma via para resolver o problema, já que um dos argumentos ao debate é que mulheres se sentem mal na presença de transgêneros no mesmo banheiro.

A travesti Laerte Coutinho, cartunista da Folha, desmonta estes dois pontos e levanta outras questões em entrevista para o Blogay. Laerte foi protagonista de um episódio semelhante em relação ao banheiro feminino em um restaurante.

Blogay – Quando ocorreu um caso semelhante contigo em um restaurante que reclamaram que você usou o banheiro feminino, houve uma proposta de um banheiro para trans, o que você se colocou contra. Por quê?

Laerte Coutinho – O vereador Carlos Apolinário (DEM-SP) propôs essa “saída” de um terceiro banheiro, que seria inclusive proibido para “crianças desacompanhadas” (está no projeto dele, juro)… Sou contra, porque é uma iniciativa que busca a segregação de uma parte da população – que busca sacramentar o estranhamento gerado pelo preconceito de que essa população é alvo. Semelhante a isso foi a criação do “vagão para mulheres” no metrô do Rio (de onde, aliás, duas mulheres trans foram retiradas a força há poucos dias). Uma pseudo-solução, que só consagra a segregação e deixa impune e livre a violência sexual praticada no transporte público. Acho que numa escola de samba também se criou um 3º banheiro, como “solução”. É e sempre será um modo de fugir do problema aparentando resolvê-lo e, pelo contrário, eternizando-o.

Um/uma trans feminina ou masculino deve – em cada caso – usar o banheiro masculino ou feminino? Por quê?

A pessoa deve usar o banheiro que lhe pareça mais adequado. Como meta a ser buscada, banheiros públicos devem ser limpos e confortáveis – e não divididos por gênero, algo sem nenhum sentido sob a luz dos motivos para os quais foram criados.

Seres humanos excretam de forma idêntica, machos ou fêmeas. O uso de mictório vertical, que é tão invocado pela argumentação dos conservadores, é detalhe ridículo. Mulheres, muito frequentemente, mijam sem encostar no assento – é só perguntar. Mictórios à luz do dia, onde o usuário pode ser visto por todos, são usados em várias partes do mundo, inclusive no Rio de Janeiro. A Argentina começou a abolir a divisão por gênero de banheiros públicos – justamente como decorrência da lei de livre identidade de gênero no país.

Um dos argumentos usados contra esta liberdade de escolha dos transexuais é que uma trans feminina pode chocar as mulheres que estejam no mesmo banheiro. Como desmontar este argumento?

Uma mulher “genética” que não corresponda fisicamente ao modelo de gênero feminino pode chocar as mulheres.  Uma lésbica “visível” pode chocar as mulheres. Em que se baseia esse choque? Na possibilidade de uma agressão, seja em forma de violência física, seja em forma de assédio agressivo. E, afinal, quem são essas mulheres-vítima?

Por que devemos considerar a proteção de uma reserva de mulheres “100% mulheres”, como diria a entrevistadora da Lea T. no Fantástico (exibido do dia 27 de janeiro deste ano), se a humanidade tem uma riqueza de representações de gênero tão vasta? E é realmente considerável a hipótese de agressões no banheiro público? Não deveríamos lembrar que a maior parte das agressões e estupros sofridos pela população feminina se dá nos seus lares e imediações, praticados por maridos, familiares, vizinhos?

Tudo isso leva a crer que esse choque/medo de ameaças (frequentemente incrementado pela presença de “crianças inocentes”) é muito mais um mito a serviço da construção permanente da cultura de gênero binária [o mundo dividido estritamente em masculino e feminino].

Laerte lembra existe uma lei que protege os transgêneros neste sentido. “Aprendi com a minha experiência (o episódio do restaurante) que a nossa presença no banheiro que consideramos adequado é garantida pela lei estadual 10948.” Clique aqui para saber mais.

PS: No post seguinte, outras transgêneros opinam sobre estas questões e contam casos de enfrentamento deste problema.

Laerte Coutinho (Leticia Moreira/Folhapress)
]]>
220
Senador Paulo Paim, o novo relator do projeto que criminaliza a homofobia, diz que PLC poderá ir à votação em 2013 http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/12/19/senador-paulo-paim-o-novo-relator-do-projeto-que-criminaliza-a-homofobia-diz-que-plc-podera-ir-a-votacao-em-2013/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/12/19/senador-paulo-paim-o-novo-relator-do-projeto-que-criminaliza-a-homofobia-diz-que-plc-podera-ir-a-votacao-em-2013/#comments Wed, 19 Dec 2012 22:00:54 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1001 O senador Paulo Paim (PT-RS) é o novo relator do PLC 122/06, projeto que criminaliza a homofobia, na CDH (Comissão dos Direitos Humanos ) do Senado. Ele se autonomeou (Paim é presidente da CDH) em nome da conciliação em reunião realizada na segunda-feira, 17, em Brasília. Em entrevista para o Blogay, nesta quarta-feira, 19, ele explica que militantes LGBTs queriam que a relatoria do projeto ficasse com a senadora Lídice da Mata ((PSB-BA) e fundamentalistas desejavam Magno Malta (PR-ES) como relator.

Senador Paulo Paim (PT-RS) (Agência Senado)

Leia entrevista:

Blogay – Senador, a militância LGBT fez uma petição encaminhada para o senhor pedindo que a relatoria ficasse com a senadora Lídice da Mata. Por que o senhor resolveu assumir a relatoria do PLC 122/06?

Paulo Paim – Primeiramente, eu quero dizer que se fosse fácil de votar o PLC 122/06, nós já teríamos votado há muito tempo. Só a ex-senadora Marta Suplicy (PT-SP) ficou com ele por quase dois anos. Não é falta de boa vontade da comissão. O projeto não foi colocado em votação por outros presidentes porque, da forma que estava, seria derrotado. E agora havia dois pedidos para a relatoria: um grupo favorável ao projeto queria a senadora Lídice da Mata. E outro contrário ao PLC 122 queria o senador Magno Malta. Portanto, como presidente da CDH busquei a relatoria com objetivo de construir um cenário positivo para a aprovação da matéria, mediante entendimento de todos.

Quais serão os seus primeiros passos para que o PLC 122/06 seja aprovado no CDH do Senado? Pretende coloca-lo em votação em 2013?

Pretendo realizar no inicio do ano uma reunião com todos os lideres e militantes LGBT, bem como aqueles que são contrários ao projeto. Como relator, eu tenho a obrigação de ouvir a todos, independente de suas posições. Vamos também estabelecer um amplo diálogo com todos os líderes partidários. Eu entendo que o projeto deve ser votado em 2013.

Tem alguma estratégia que pode revelar?

A estratégia é a transparência absoluta de todo o processo, buscando a aprovação do projeto mediante acordo. Lembro aqui que apresentei e relatei centenas de projetos, muitos deles considerados polêmicos e que na época falavam que não seriam aprovados. Ledo engano, muitos foram aprovados praticamente por unanimidade e hoje são leis e beneficiam milhões de brasileiros: Estatuto da Igualdade Racial, Estatuto do Idoso, Política de Cotas, Política Nacional do Salário Mínimo, periculosidade para carteiros e vigilantes, Lei 9.459/97 que pune crimes de preconceito de raça, cor, etnia com reclusão e multa.

O senhor acha o PLC122/06 uma questão polêmica? Por que?

Não tenho dúvida alguma que o projeto é polêmico. Se não fosse, ele não estaria tramitando há seis anos no Congresso Nacional, com a realização de dezenas de reuniões, seminários, audiências públicas, e sendo retirado de pauta de votação por várias vezes a pedido dos próprios relatores, pois não havia cenário para aprovação.

***

O militante solitário

Markos Oliveira foi o único militante gay a estar presente na reunião de segunda-feira, 17. Ele é membro do Conselho LGBT da Liga Humanista Secular do Brasil e colaborador do site PLC 122. Ninguém da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) esteve presente apesar do convite.

Oliveira ressalta uma preocupação em relação ao senador: “O fato de Paulo Paim, presidente de uma comissão de direitos humanos, não ser integrante da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT diz muito sobre o seu não comprometimento real com a causa LGBT. Eu estive em uma audiência pública homofóbica convocada pelo senador Magno Malta, com o pastor Silas Malafaia e o presidente da Fenasp (Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política) como convidados e presidida pelo Paulo Paim. No fim da audiência, o presidente da Fenasp disse que eles iriam trabalhar para ‘enterrar toda a agenda gay no Brasil’. É com pessoas desse nível que o Paulo Paim diz que o movimento LGBT deve fazer um acordo sobre o PLC 122”.

“Eu também estive na última tentativa de votação do projeto, em dezembro de 2011, em que LGBTs foram provocados e ameaçados por pastores homofóbicos. O Paulo Paim não só não expulsou os homofóbicos como disse que era só os LGBTs não responderem a provocação deles que não haveria tumulto. Pedir que LGBTs não reajam e que aceitem quietos serem discriminados não é homofobia pro Paim? Pra mim é. Nesta mesma sessão foi distribuído panfleto homofóbico, visto e colhido inclusive por representante da ONU. Que presidência da Comissão de Direitos Humanos é essa que deixa panfleto homofóbico circulando livremente lá dentro? O Paim sequer teve pulso pra expulsar os homofóbicos que agrediram verbalmente as as senadoras Marta Suplicy e Marinor Britto, que dirá impedir que que as discriminações verbais saia do PLC 122”, diz Oliveira receoso.

E conclui: “A maneira correta de se levar o PLC 122 é esclarecer aos senadores que resistem apoia-lo que o projeto não é inconstitucional e não fere liberdade religiosa ou de expressão. O movimento LGBT não deve aceitar que a homofobia não seja equiparada ao crime de racismo.”

]]>
48
Peça Desamor explicita que uma das razões da falta de amor é a incompreensão http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/11/30/peca-desamor-explicita-que-uma-das-razoes-da-falta-de-amor-e-a-incompreensao/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/11/30/peca-desamor-explicita-que-uma-das-razoes-da-falta-de-amor-e-a-incompreensao/#comments Fri, 30 Nov 2012 15:00:18 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=980 Em época que não existe amor em SP e a cidade vive uma onda de violência, a peça “Desamor”, de Walcyr Carrasco, com Dionisio Neto, em cartaz todas as sextas-feiras na boate gay Blue Space, na capital paulista, em curta temporada, parece fazer um sentido maior ainda para tempos de intolerância, falta de gentileza e egocentrismo.

O trabalho, o segundo da parceira entre Neto e Carrasco, coloca novamente em xeque a questão da incompreensão do outro como um dado absoluto e impossível de ser transposto. Mas diferente de como foi em “Seios”, a primeira peça da dupla -que um homem que resolve mudar de sexo é questionado por sua esposa que não entende seu ato -, em “Desamor” é a plateia que desentende e renega o personagem central, um taxista homofóbico, misógino e ex-michê. O ato de não amor do protagonista é compartilhado com o público que o assiste, em uma relação espelhada, assim como sua mudança no decorrer da dramaturgia também é vivenciada em conjunto: texto e audiência.

Em um quase monólogo, Dionisio se apresenta inteiro na proposta de levar o sentimento de desamor e o desprezo (este sim o contrário do amor e não o ódio) para o público que o assiste. Em um texto curto, com momentos humorados, mas cheio de densidades e colorações, ele nos guia de um sentimento a outro, da intolerância a possibilidade fraternal. E no fim podemos até pensar que existe desamor em SP, mas também há amor.

O Blogay entrevistou Dionisio Neto sobre a peça.

Blogay – Como surgiu o texto para você? O que ele traz de novidades?

Dionisio Neto – Há mais ou menos dois anos, na época em que eu estava em cartaz com “Seios” (2010), de autoria de Walcyr Carrasco, ele me telefonou e disse que estava me mandando um texto que tinha escrito para mim, que sentia falta de uma peça que conversasse com aquela. Então chegou aqui em casa, no meu email, este texto, que não tinha nem nome, e me tocou profundamente, tanto pela forma literária, quanto pelo conteúdo. Chorei, chorei, chorei! Eu tinha acabado de ler “A Arte de Andar nas Ruas do Rio de Janeiro” do Rubem Fonseca, e fiquei com uma vontade louca de montar no teatro porque era muito bom de ler em voz alta aquele conto… E o texto do Walcyr conversava com a musicalidade do texto do Rubem… Fiquei instigadíssimo a montar, liguei imediatamente para ele, emocionado pela riqueza do texto, agradecendo-o. E ele me agradeceu por tê-lo transformado em um autor melhor. Ele pediu para que eu batizasse o texto, e assim o fiz, mais honrosamente ainda… O texto é inspirado em um fato real, que aconteceu com ele, e depois ficcionado. A novidade é juntar homossexualidade, homofobia, religião, poesia coloquial seca, escatologia, misoginia e resultar em humor. E ser popular! Só mesmo um grande autor consegue isso. Walcyr se superou com “Desamor”, ele vai além! E [o diretor de teatro] Antunes Filho estava certo quando me disse que novos textos serão escritos para novos atores. Estou amando o posto de Muso!

Em quem ou no que você se inspirou pra fazer um personagem com tanto desamor? Como você compôs o personagem?

Eu me inspirei no [Marcelo] Dourado do BBB, no [ator] Milhem Cortaz, que é meu amigo desde “Carandiru”, em um homem que vi em um boteco aqui na Rua Cardoso de Almeida, perto da minha casa, e em Marlon Brando, obviamente, como em tudo o que eu faço. Eu compus o personagem aos poucos, por camadas, com muita fé, determinação e prática do método Lee Strasberg, que minha diretora Lucia Segall, que estudou por seis anos no Lee Strasberg Institute, mestra, portanto, do método, me ensina desde os tempos do CPT (Centro de Pesquisas Teatrais do Sesc, dirigido por Antunes Filho). O taxista homofóbico e michê é completamente diferente de mim. Eu não represento, eu vivo.

Como se mistura as citações eruditas e populares no texto e na encenação?

A parte erudita fica a cargo do violino de Bach, somente. Como todo clássico que se preze é extremamente popular. Misturamos naturalmente com o realismo proposto pelo texto, tanto que decidimos estrear em uma locação, a Blue Space, que é uma boate gay, talvez por influência do teatro que fazíamos nos anos 90 (meu primeiro texto “Perpétua” (1995) foi inicialmente encenado na pista de dança do extinto Columbia da esquina da Rua Augusta com Estados Unidos). “Desamor” é um espetáculo extremamente pop! Amor Humor.

Por que a opção de fazer em uma boate gay?

No começo dos ensaios abertos, nós chamamos curadores de festivais e teatros, para apresentações fechadas, que talvez tenham ressaltado o lado dark do texto. Misturar religião com sexo é um tabu que vem sendo quebrado ao longo da História da Arte. Por ser um texto popular em sua essência, ele precisa de um público mínimo para que a comédia aflore, e só tivemos isso na pré-estreia das Satyrianas, para 60 pessoas. O palco italiano, como em “Perpétua”, fez a comédia explodir! Cheguei a ouvir de uma curadora que “o brasileiro tem problemas com a palavra cu”. Desde a Idade Média, o cu vira comédia no teatro. Enfim, então, pela rejeição ao espetáculo destas pessoas, eu tive um insight: vamos fazer a peça em uma casa gay! É fazer teatro de uma forma mais ampla, com um questionamento social efetivo! Sinto-me um cidadão melhor fazendo isso. Depois, certamente, com o interesse que o espetáculo está despertando, tenho certeza que iremos para teatros mais populares. Meu desejo é quebrar mesmo os tabus e transformá-los em totem, para citar o mestre José Celso Martinez Corrêa [diretor de teatro]. Aliás, José Celso disse-me em um voo que fizemos juntos ao Rio de Janeiro que hoje o tabu nâo é mais o sexo, hoje o tabu é o amor!

O que é desamor tanto para você como na peça?

Eu escolhi a música do Criolo “Não Existe Amor em SP”, que caiu feito uma luva para o espetáculo, para a solidão do meu adorável taxista. Para muito além das questões sexuais presentes e poeticamente presentes no espetáculo, o tema central da peça é a transformação de um ser humano, que é tema caro ao Walcyr. Desamor para mim é a falta de fé, de espiritualidade, de compaixão, sobretudo, são as pessoas de coração seco, de alma bem pequena, para quem pedimos piedade, Senhor, piedade! Na peça, desamor é isso também.

[youtube e5WEBjUxDMU nolink]

]]>
1
Filme cria grande painel sobre a noite gay de São Paulo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/11/15/964/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/11/15/964/#comments Thu, 15 Nov 2012 17:00:27 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=964
Cartaz do filme “A Volta da Pauliceia Desvairada” (Divulgação)

Um dos símbolos maiores de São Paulo é sua noite. E um dos grandes destaques do 20ª edição do Festival Mix Brasil é o longa “A Volta da Pauliceia Desvairada”, dirigida por Lufe Steffen, que traça um amplo painel poético sobre a vida noturna gay da cidade. O documentário tem sua última exibição dentro do evento nesta quinta-feira, 15, na sala 3 do Espaço Unibanco,  em São Paulo, e uma outra marcada para o final de novembro no Rio de Janeiro.

O filme documenta a cena noturna gay de São Paulo neste ano de 2012. O que poderia cair na fragilidade de ser algo datado exatamente por fechar o recorte em uma data específica, acaba surtindo efeito contrário. Ao tratar de liberdades e desejos com jovens que saem na noite para se divertirem, o documentário acaba se tornando atemporal, pois são, de fundo, as mesmas liberdades e desejos que as pessoas buscam desde tempos imemoriáveis.

Como escreveu o DJ Zé Pedro em seu blog sobre o filme e seus personagens: “Em sua maioria são meninos e meninas que vêm da periferia para terem na noite a sua hora da estrela. E fazem de tudo por isso: cabelos assimétricos, piercings nos lugares mais inusitados e uma edição fashion de abalar! Todos demonstram imensa liberdade, uma leve consciência social e sexual somados a uma vontade extrema de ser feliz”.

O Blogay conversou com o diretor Lufe Steffen, 37, sobre o filme.

Blogay – Como surgiu a ideia do filme?

Lufe Steffen – Desde que eu saio na noite, na metade da década de 90, eu acho tudo muito pitoresco, as pessoas, os locais, as situações, então sempre tive vontade de fazer um filme assim, que retratasse esse universo. Aí agora rolou.

Como você conseguiu fazer o recorte do filme, já que a noite gay de São Paulo é tão vasta?

A gente tentou mapear todos os bares e boates homo de SP, de gays e lésbicas, vale lembrar. A partir disso, surgem sub recortes sociais, financeiros, sexuais, de moda, etc… Não sei como, nem se, consegui fazer esse recorte, mas enfim, o filme responde por mim.

Ainda existe uma cena underground em São Paulo ou foi tudo banalizado?

Acho que houve sim uma banalização do underground, do lado outsider, ou melhor, uma comercialização e uma padronização disso. Mas sempre aparecem espasmos que tentam resgatar o verdadeiro underground, como o Bar do Netão, a festa Voodoo Hop, a festa Vaca Galactose…

Como foi a pesquisa das pessoas para os depoimentos?

A pesquisa buscou localizar pessoas que tivessem uma ligação direta com a noite gay: DJs, drags, promoters, empresários, jornalistas que frequentam a cena, estilistas que usam a noite em suas criações, e por aí afora. Além dessa pesquisa, marcando previamente entrevistas, teve também a pesquisa “caçada”. Ou seja, na hora, nos próprios locais, observávamos pessoas interessantes e convidávamos para falar.

Fale um pouco do trabalho de edição, como pensou a estrutura do filme para que desse voz a muitas pessoas?

São mais de 100 pessoas que aparecem no filme, então dividimos o filme em uma estrutura por dias de semana, situando os locais e festas nos dias em que ocorrem, por exemplo, Grind na Lôca é no domingo. Dentro dessa estrutura, surgem sub divisões por temas: sexo, drogas, política, etc.

Qual a importância para você dos gays na noite de São Paulo?

Os gays sempre tiveram e continuam tendo importância na noite de São Paulo, justamente por serem “avant-garde”, por lançarem modas, anteciparem tendências inclusive de comportamento. Apesar de hoje isso também estar desgastado, acredito que os gays em geral continuam ocupando essa função.

O filme vê a noite como uma forma de liberdade e hedonismo ou como alienação ou ainda como ambas?

O filme não julga a noite, eu espero (risos). Não estabelece uma visão. Acredito que ele mostre uma série de posturas das pessoas, e aí sim, o espectador pode ver essas posturas e encará-las como libertação, hedonismo, alienação, válvula de escape, militância, sobrevivência, necessidade, dependendo de cada núcleo ou personagem que aparece. Eu acredito que a noite é isso mesmo: ela engloba todas essas coisas, simultaneamente.

São Paulo ainda está desvairada?

Eu gostaria de ter vivido a noite de São Paulo nas décadas de 70 e 80, pois creio que ali sim São Paulo estava mesmo desvairada. Consegui pegar um pouco do movimento clubber, comecei a sair no Massivo [lendário clube localizado nos Jardins] em 1991, então deu pra ver a loucura clubber de 91, 92, 93, 94… Depois veio a coisa do techno e tal, mas acho que lá pela metade da década de 90 a loucura já começou a cair. Teve um momento bom de renascimento no período 2001-2005, mas de lá pra cá sinto que está cada vez menos desvairada. Infelizmente. Isso no sentido de ser desvairada de uma forma alegre, criativa, ousada, libertária. O título do filme na verdade é quase um pedido, um desejo, ansiando pela verdadeira volta da pauliceia desvairada! Que o filme ajude essa volta a se concretizar…

[youtube kkDENTlfCR0 nolink]

]]>
10
Foto polêmica entre empresário gay e Celso Russomanno causa polêmica nos meios LGBTs http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/20/foto-polemica-entre-empresario-gay-e-celso-russomanno-causa-polemica-nos-meios-lgbts/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/20/foto-polemica-entre-empresario-gay-e-celso-russomanno-causa-polemica-nos-meios-lgbts/#comments Thu, 20 Sep 2012 23:30:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=844 Na manhã desta quinta-feira, 20, uma imagem caiu como uma bomba para a comunidade LGBT. Um dos empresários mais poderosos da noite gay de São Paulo, André Almada, apareceu em uma foto abraçado com o candidato do PRB à prefeitura da cidade, Celso Russomanno.

As fortes ligações do político com as lideranças da Universal, igreja que faz forte oposição aos direitos dos homossexuais, bissexuais e transgêneros transforma o apresentador de TV e deputado federal em antagonista dos gays.

Celso Russomanno e André Almada no centro da foto (Reprodução)

Esta sensação do gesto entre figuras emblemáticas que a princípio estão em campos opostos se abraçando logo causou celeuma. E multiplicaram-se no mar de palavras e sensações que são as redes sociais manifestações de repúdio e de apoio a esta imagem. Para uns, foi um ato democrático, para outros, foi um sinal do jogo de interesses políticos sem nenhuma ideologia ou preocupação com os direitos dos LGBTs.

Protesto no Facebook (Reprodução)

Uma manifestação de repúdio está sendo marcada no sábado, 22, em frente a um dos clubes de Almada. “Gritemos, demonstremos nossa indignação e repulsa a este ato e inspirados em Harvey Milk vamos à frente da boate ‘The Society’ de André Almada demonstrar nossa ojeriza em relação ao seu apoio ao candidato não desejado pela comunidade LGBT”, diz o manifesto no Facebook.

A assessoria do empresário soltou uma nota esclarecendo o caso: “Sobre a foto que tem circulado pela internet, na qual o empresário André Almada aparece ao lado do candidato a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, explicamos que se trata de um evento realizado na semana passada no clube ‘The Society’. Russomanno, apontado por muitos como opositor da comunidade e dos direitos LGBT, foi justamente esclarecer essa questão e apresentar seus planos e projetos pertinentes a esse público. O que fizemos foi dar direito de resposta e promover um debate saudável. O Grupo The Week, além de promover entretenimento, exerce sua responsabilidade social. Nossas portas estão abertas a todos os demais candidatos.”

Muito se questionou se o empresário estava apoiando Russomanno, o porquê da foto, qual a qualidade daquele encontro. O Blogay mandou via e-mail perguntas para André Almada que explica seu ponto de vista no caso.

Blogay – Como aconteceu este encontro entre você e Russomanno?

André Almada  – O partido do deputado Campos Machado (o PTB) solicitou um encontro com o candidato. Então convidei algumas pessoas do meio LGBT para um bate-papo no clube “The Society”. A iniciativa não foi nossa. Foi solicitação do partido. Nós aceitamos, pois achamos que esse debate seria uma forma de exercermos de fato a democracia, e também uma oportunidade de ouvir do próprio candidato a posição dele quanto às propostas direcionadas aos homossexuais. Qualquer outro candidato que nos procurar, faremos o mesmo.

Convite do evento ( Reprodução)

Como surgiu a foto, por que decidiu tirar uma foto ao lado dele?

Como anfitrião da noite, uma foto com o candidato é de praxe. Afinal, constituímos a mesa de debate.

Como você está reagindo aos comentários e atos contrários a esta foto?

Me surpreendi e ao mesmo tempo fiquei feliz, pois não imaginava que promovendo este encontro eu fosse descobrir que tantas pessoas estão politicamente engajadas e preparadas para cobrar do(a) nosso(a) futuro(a) prefeito(a), independentemente de quem seja eleito,  ações que envolvam a classe LGBT.  As pessoas estão preocupadas com as propostas dos candidatos, e isso é muito bom. Embora estejamos sofrendo críticas, o nosso objetivo de promover a reflexão está sendo cumprido.

Você sabia das ligações de Russomano com as lideranças da Universal, inimiga histórica dos LGBTs no país? Isto não te deixou ressabiado de realizar este encontro?

Sim, tenho conhecimento pelo que se tem divulgado na mídia e redes sociais. Justamente por isso achei oportuno esclarecer essa e outras questões na presença dele. Afinal, ele foi a um clube gay conversar com gays sobre os direitos dos gays.

Afinal, você apoia ou não Celso Russomano? A suas boates “The Week” e “The Society” tem alguma agenda política?

Até o momento não apoio nenhum dos candidatos à Prefeitura de São Paulo. Não temos agenda política, mas reforço que estamos abertos a todos os candidatos.

***

Como no fatídico recente clique do aperto de mão entre Lula e Maluf, em que a imagem fala mais alto que qualquer palavra, é inevitável perceber uma certa incoerência (e também inocência?) neste abraço. Celso Russomanno é o candidato que parece esconder o que pensa, porque reitera a todo tempo que só quer discutir a cidade – como se o fato do que ele acredita não tivesse menor valor. Ele é o que se diz católico e que seu partido é de base da mesma religião, quando reportagem da Folha mostra sua profunda relação com a Igreja Universal e seus líderes, muitos deles políticos que lutam intensamente contra leis de direitos aos homossexuais. Isto é, existe algo de dissimulado entre o que ele diz e o que realmente é.

Parece louvável que ele vá ao encontro dos homossexuais, mas dentro desta perspectiva de dissimulação parece ser mais um jogo dele. Sim, como Almada disse, ele foi fazer suas propostas sobre a cena gay – algo que parece estar longe de sua agenda verdadeira . Em troca, um abraço. E a imagem do homem que declarou ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo transforma-se com esta foto (que diz mais que mil palavras) em uma prova contrária da homofobia que realmente sustenta sua campanha.

Quem o acusará de homofóbico agora? Ele foi aos gays, abraçou um deles. Ele tem agora mais um álibi em seu arsenal de dissimulações, e a  gente, nem um abraço de verdade.

]]>
149
“É possível ser católico fervoroso e gay praticante”. diz psicóloga ligada a grupo de homossexuais cristãos http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/02/e-possivel-ser-catolico-fervoroso-e-gay-praticante-diz-psicologa-ligada-a-grupo-de-homossexuais-cristaos/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/02/e-possivel-ser-catolico-fervoroso-e-gay-praticante-diz-psicologa-ligada-a-grupo-de-homossexuais-cristaos/#comments Sat, 02 Jun 2012 22:00:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=417 Exatamente quando o Papa Bento 16, chefe maior da Igreja Católica, afirma, neste final de semana, que sua missão é cuidar da família, “baseada no casamento entre um homem e uma mulher”, parecendo esquecer-se dos gays como uma nova família,  um braço do mesma catolicismo prefere abrir-se e estender-se aos homossexuais que se identificam com a fé cristã.  Não como oposição ao Papa mas como resposta ao imaginário que diz que todos os religiosos, principalmente os cristãos são fundamentalistas e intolerantes.

Com 5 anos de vida, o Diversidade Católica é um grupo atuante nas redes sociais e agora, neste domingo, 03, organiza o ciclo de debates “’O Amor de Cristo nos uniu’ – Gays cristãos na Igreja Católica”, no auditório do CCET da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO, em Botafogo, no Rio de Janeiro.

O Blogay conversou com Cristiana Serra, psicóloga e leiga católica, moderadora do blog do Diversidade Católica. Ela falou sobre o grupo, de uma possível teologia queer, de como as mudanças na Igreja Católica são lentas e sempre surgem das bases, além do cuidado para que os gays não demonizem todos os religiosos, pois nem todos são radicais contra a homossexualidade, reafirmando a fala do cartunista Laerte que diz que não podemos transformar a luta dos direitos dos gays em uma guerra santa.

Cartaz e programação do evento “’O Amor de Cristo nos uniu’ - Gays cristãos na Igreja Católica” (Divulgação)

 Blogay – O que é o Diversidade Católica?

Cristiana Serra –  O Diversidade Católica é um grupo de leigos católicos, em sua maioria gays (e por “gays” referimo-nos a todo o espectro LGBTTI [ o I se refere ao intersexo]), que surgiu em 2007 na tentativa de abrir espaço, aqui no Brasil, para uma reflexão sobre a conciliação da fé cristã com a diversidade sexual. Desde então, o grupo vem crescendo e nossas reuniões, que eram mensais, tornaram-se quinzenais; nelas realizamos um trabalho de acolhida, a partilha de experiências, a reflexão sobre a fé cristã e o aprofundamento da nossa experiência espiritual. Aos poucos, começamos a realizar palestras, exibição de filmes, e iniciamos nossa presença na internet, através do blog, facebook e twitter. Assim, a vivência do grupo veio amadurecendo até que, no início deste ano, surgiu a ideia de um primeiro evento aberto, a partir do contato com os questionamentos, dúvidas e angústias de muitos, inclusive tantos que se sentem excluídos do seio da religião em que muitas vezes foram criados e com a qual sentem profunda identificação, ou, pior, excluídos do amor do Deus em que acreditam, ou julgados e condenados por amigos ou mesmo a própria família como “abominações”. A ideia é mostrar o cristianismo como “opção positiva”, como defende o próprio Bento 16, e não uma religião restrita à dimensão da proibição e da condenação; combater a homofobia religiosa; e trabalhar pela abertura dos canais de diálogo e reforçar os pontos de encontro e convergência entre gays e cristãos, para que juntos possamos lutar pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna para todos.

As igrejas cristãs se mostram bem pouco favoráveis aos gays. Como conciliar catolicismo e homossexualidade?

É preciso tomar muito cuidado com o preconceito invertido. Assim como nós, gays, queremos ser vistos como as pessoas inteiras que somos, para muito além dos rótulos, também é preciso cuidado para não generalizar com relação aos religiosos, demonizando a todos e colocando todos no mesmo “saco de gatos”. Sim, há muita homofobia religiosa, e isso é um problema gravíssimo. Porém, embora os homofóbicos seja barulhentos, há entre as diferentes igrejas uma grande variedade de posturas, e dentro de cada igreja encontram-se facções e segmentos, e sobretudo pessoas, com posturas bem distintas. Mesmo dentro da Igreja Católica, na qual nos inserimos, embora o discurso oficial seja contrário às práticas homoeróticas, ao casamento gay e às principais bandeiras dos movimentos LGBT, isso não diz tudo sobre a realidade católica e sua maneira de lidar com a homoafetividade. O mundo católico abrange multidões de fiéis espalhados pelo planeta, uma considerável heterogeneidade cultural e ideológica, e uma ampla diversidade de níveis e de ambientes eclesiais. Além das posições doutrinárias do papa e da Cúria Romana, devem-se considerar a atuação dos bispos e de suas conferências em muitos países, os teólogos e suas reflexões, as comunidades paroquiais e suas as iniciativas pastorais e, sobretudo, a consciência dos fiéis, à qual a doutrina católica atribui um papel fundamental e insubstituível nas decisões morais. Nesse contexto, é fundamental não perder de vista a dimensão histórica e lembrar-se sempre de que as mentalidades mudam muito lentamente, sobretudo nas instituições. E, na história da Igreja especificamente, todas as grandes mudanças se deram sempre das bases para a cúpula. É por essa mudança que muitos, e também nós, trabalhamos. Temos um lema: “sejamos nós a Igreja que queremos ver no mundo”. (Temos um artigo no blog, “Homossexualidade e Contra-hegemonia no Catolicismo”, que se aprofunda nesse ponto e fornece muitos exemplos de iniciativas e atitudes do clero e dos leigos que se afastam do discurso homofóbico)

Como o cristianismo pode ajudar os gays no sentido afirmativo, não no de cura ou condenação?

A mensagem cristã é uma mensagem, como já dissemos e Bento 16 gosta de repetir, eminentemente positiva. É preciso lembrar que, na essência, sua mensagem é de inclusão, de amor incondicional, de solidariedade, de igualdade, de superação das diferenças, de diálogo fraterno. Transformar essa mensagem em uma coleção de leis opressoras, a serviço dos poderes humanos que julgam, dividem e condenam, é uma subversão da lógica de Cristo – uma eterna tentação a que estamos todos sujeitos, contra a qual ele mesmo adverte em diversas passagens dos Evangelhos. Cristo, que andava com todos os excluídos, pecadores e condenados de seu tempo, veio para mostrar que somos todos iguais e irmãos, todos irrestrita e incondicionalmente amados por um Pai que é apaixonado por cada um de nós. E essa mensagem é dirigida a todos, sem exceção. É uma mensagem com um potencial revolucionário em termos sociais, e à luz da qual todos os preconceitos, segregações, condenações e exclusões são demolidos. Nesse sentido, os cristãos podem ser formidáveis aliados na luta contra toda violência homofóbica e pela igualdade de direitos dos gays. Nos EUA e Europa, há movimentos organizados de cristãos, gays e héteros, nesse sentido. Aqui na América Latina é preciso que comecemos também a nos posicionar.

Existe uma teologia que rebate a que condena os gays?

Existe a chamada teologia queer, da qual um grande representante no Brasil é o André Musskopf, que está lançando seu livro “Via(da)gens teológicas”. No seio do catolicismo, esses estudos não são muito estruturados, mas vêm ganhando corpo as obras, trabalhos em congressos, ensaios, documentos eclesiais, cartas pastorais, de teólogos religiosos e leigos, membros dos mais diversos níveis da hierarquia, grupos de leigos organizados, que questionam os princípios da teologia moral vigente, inclusive com relação à diversidade sexual, e defendem uma abertura, propondo leituras e posturas alternativas. A esse respeito, recomendamos de novo o artigo citado acima, “Homossexualidade e Contra-hegemonia no Catolicismo” , que contém uma boa compilação de exemplos e é uma razoável introdução ao tema.

É possível ser gay e católico praticante?

Sim, é possível ser católico fervoroso e gay praticante (risos). Na verdade, a adesão à doutrina católica é mais flexível do que interessa aos fundamentalistas e ultraconservadores admitir. A rigor, apenas os dogmas exigem acolhimento total por parte dos fieis. E é necessário que assim seja, senão como se justificariam todas as mudanças ocorridas na doutrina católica ao longo dos séculos? Assim, entre as orientações do Magistério (a hierarquia da Igreja) que não são dogmas, existe uma “hierarquia de verdades”, e o fiel é convidado a sempre colocar qualquer dever ou lei diante de sua consciência. “A consciência é o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser”, diz o parágrafo 16 da Constituição Dogmática “Gaudium et Spes”, do Concílio Vaticano 2º. Muitos católicos gays simplesmente não reconhecem suas vidas e seus relacionamentos na forma “desordenada” de que falam alguns documentos. Por isso, não só não podem ir contra a sua consciência, se esta não os acusa de estar em pecado, como não podem compactuar com a mentira de se dizerem desordenados, se não se percebem desta forma. O próprio Magistério, ao requerer do católico fidelidade à voz da própria consciência, exige que ele dê seu testemunho daquilo que, nela, percebe como sendo a verdade. É isso o que fazemos, e essa é a razão de ser do evento deste domingo: dar testemunho da verdade de que somos gays, somos católicos, e não há nada de intrinsecamente errado nisso. Somos filhos amados incondicionalmente por Deus, e a pertença à Igreja é nosso direito inalienável.

]]>
98
Casamento gay ganha um forte aliado: Barack Obama http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/09/casamento-gay-ganha-um-forte-aliado-barack-obama/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/09/casamento-gay-ganha-um-forte-aliado-barack-obama/#comments Wed, 09 May 2012 22:30:22 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=314
Barack Obama (Sergio Lima/Folhapress)

Nesta quarta-feira, 9, o presidente dos Estados Unidos e candidato democrata  à reeleição do mais alto cargo do país, Barack Obama, declarou em entrevista para a rede de televisão ABC que é favorável ao casamento gay.

“Malia e Sasha [filhas de Barack] têm amigos cujos pais são casais do mesmo sexo. Tempos atrás, Michelle [Obama, mulher do presidente] e eu ficamos conversando na mesa de jantar falando sobre os amigos delas e seus pais e Malia e Sasha diziam que não entendiam porque os pais de seus amigos eram tratados de forma diferente. Não fazia sentido para elas e, francamente, esse é o tipo de coisa que leva a uma mudança de perspectiva”, afirmou o homem mais poderoso do mundo.

[youtube n94AJq-xtis nolink]

“É importante para mim evoluir minhas opiniões e afirmo que eu penso que os casais de mesmo sexo devem ser capazes de se casar”, disse Obama depois de tempos atrás se mostrar contrário ao matrimônio homossexual mas que estava pensando seriamente sobre o assunto.

No histórico do presidente, podemos dizer que ele implantou campanhas importantes para a inserção dos homossexuais de forma efetiva na sociedade norte-americana. Foi em sua gestão que os gays puderam abolir a cínica política “Don’t Ask, Don’t Tell” (“Não pergunte, não conte”) que militares homossexuais tinham que se silenciar sobre sua orientação sexual com a pena de serem expulsos das Forças Armadas.  Foi também um governo que condenou estadistas homofóbicos e que adotem políticas contra os LGBTs dificultando a entrada destes em território norte-americano.

Sem falar do empenho pessoal de Obama ao gravar um vídeo para a campanha “It Gets Better”, projeto que se empenha em diminuir o número de suicídio de jovens homossexuais, vítimas de bullying.

[youtube HzcAR6yQhF8 nolink]

Com tudo isto, poderíamos dizer que Obama é um verdadeiro simpatizante, apenas a questão do casamento igualitário, ou como dizem, gay, era um entrave. Diferente do Brasil que muitos crimes homofóbicos e de intolerância não tem a mão pesada da justiça, nos Estados Unidos o tabu está  na união entre casais do mesmo sexo.

Porém,  recente pesquisa do Gallup indica que 50% dos americanos são à favor do reconhecimento das uniões gays pelo Estado e os seus direitos serem os mesmo que dos casais heterossexuais. Com um quadro favorável, Obama pode expor algo que no fundo sempre parece ter acreditado (alguém que, como listei acima, teve durante o seu mandato uma postura “friendly”, não poderia pensar de outra forma sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo).

O que acontece era que politicamente ainda não era um momento tão favorável para expressar sua posição como agora, depois da pesquisa. Mas nas internas, seu posicionamento foi sempre de adotar políticas afirmativas aos gays, lésbicas e transgêneros.

Já no Brasil…

]]>
59